Mil dias atrás, sim, já passou todo esse tempo, a vereadora do PSOL, uma mulher negra, periférica, bissexual, Marielle Franco foi morta em um crime político, que vitimou, também, seu motorista, Anderson Gomes. Alguém pode perguntar por qual motivo falar dela aqui, na Campanha dos 16 Dias pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, afinal, não foi um feminicídio. O pedido de justiça já seria o suficiente. A eliminação de mulheres, especialmente, membros de minorias e que tem atuação política à esquerda é muito frequente. Afinal, a gente começa a Campanha dos 16 dias por causa do assassinato brutal de três irmãs que militavam contra um ditador de Direita apoiado pelos Estados Unidos durante a Guerra Fria, só para a gente deixar claro quem eram os atores e atrizes dessa tragédia. 😉
Enfim, Marielle não foi morta por ser mulher, mas seguido ao seu assassinato tivemos todo um trabalho de destruição de reputações, além dos ataques de cunho político, claro, era 2018, fizeram o tipo de investida que só pode ser feito contra uma mulher, sim, atacaram sua moral sexual. Ela teria engravidado aos 16 anos, por exemplo. Engravidar aos 16 anos é péssimo, mas não é esse mesmo povo que defende a "vida" e que abomina qualquer forma de aborto? Se Marielle tivesse engravidado aos 16 anos mesmo e assumido sua filha, ela não estaria "corrigindo" o seu "erro"? Pois é...
Colocaram para circular, autoridades fizeram isso, inclusive, textos, fotos e montagens grosseiras nas quais a vereadora aparecia com traficantes e, até hoje, há muita gente que acredita piamente que Marielle Franco teria relação com os criminosos que ela combatia e que eram, principalmente, os milicianos que levam terror à vários bairros do Rio de Janeiro capital e de várias cidades do Estado. Gente que tem políticos no bolso, além de operadores do direito, gente que faz grilagem urbana, que em alguns lugares expulsou os traficantes de drogas para controlar essa atividade.
Desde seu assassinato a mataram de novo várias vezes, quando quebraram sua placa sob aplausos da massa e ainda conseguiram se eleger, quando criaram camisetas celebrando seu assassinato, quando utilizaram xingamentos racistas e misóginos para ressaltar a insignificância da vereadora, quando tentaram diminuir o fato de que um crime político dessa grandeza é uma evidência da fragilidade do Estado de Direito. Passaram-se Mil Dias e não sabemos quem mandou matar, porque os assassinos profissionais que o fizeram não parecem o tipo de gente que age por prazer somente. Quem mandou matar Marielle? A quem sua morte poderia interessar? Quantas pessoas a morte de Marielle poderia intimidar? Tudo isso está sobre a mesa.
Para quem acha que eu só falei de Marielle hoje, deixo as menções à vereadora que fiz ao longo desses Mil Dias, devo ter deixado passar alguma coisa: Notícias diversas que me deixaram doente hoje, Quem mandou matar Marielle? Já se passaram 80 dias, Jornal do Shoujo Café: Mafalda Feminista, Casamentos Infantis, Xuxa envelheceu e passa muito bem e outras notícias da semana, Jornal do Shoujo Café 8 de Março e 2 Anos Depois: Quem matou Marielle? Quem mandou matar?.
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