Comentando duas notícias sobre violência contra as mulheres ainda ligada ao contexto eleitoral. A vereadora mais votada da história de Belo Horizonte, Duda Salabert (PDT), sofreu uma agressão e uma ameaça desde a sua eleição. A primeira partiu do 2º vereador mais votado, que é do PRTB, um Youtuber que se fez seguindo a receita de bolo que agrada à extrema-direita e, mais recentemente, atacando Felipe Neto. Sim, foi fazendo vídeos sensacionalistas que ele conseguiu se eleger. Eu o conheci tempos antes da eleição por causa de um vídeo dele que um parente repostou no Facebook sobre o caso da menina estuprada que as milícias ligadas ao ministério da Damares quase conseguiram impedir de interromper a gravidez apesar do amparo da lei.
Muito bem, o moço, ele é bem jovem mesmo, e disparou uma série de bobagens em uma entrevista ao Jornal Estado de Minas, dentre elas disse sobre Duda ""Eu ainda irei chamá-la de 'ele'. Ele é homem. É isso o que está na certidão dele, independentemente do que ele acha que é"". Bem, negar a uma pessoa trans o direito de uso do nome que está consonância com sua identidade de gênero é uma violência e, claro, mostra desconhecimento da lei que garante a eles e elas o direito de alterarem seus nomes e gênero nos documentos oficiais sem a necessidade de cirurgia.
Pois bem, essa foi o primeiro ataque. O segundo veio dias depois, ameaça de morte e de massacre na escola na qual a vereadora trabalha. Citando direto da matéria do Brasil de Fato "“Vou invadir uma sala de aula do Bernoulli e vou matar todas as vadias, todos os negros (que infelizmente serão poucos, 1, ou 2 cotistas) e depois vou te matar”, afirma o homem na mensagem, identificado, segundo a vereadora eleita, como Ricardo Wagner Arouxa. Ainda na mensagem, o homem afirma que cometerá o crime por estar desempregado e sua esposa com câncer de mama, “enquanto você ganha um salário de vereador...eu juro, mas eu juro que vou comprar duas pistolas 9 mm.”".
Espero que esse cidadão seja preso e duvido muito mesmo que ele tenha esse quadro de desgraças em sua vida. Gente desempregada, passando altas necessidades, não compra nem revólver enferrujado em feira do rolo. O tipo de ameaça é igualzinho aos que circulam nos fóruns masculinistas da deepweb e que foram denunciados tantas vezes pela Lola Aronovich. Aliás, essa ameaça de massacre na escola parece meio copy paste da que foi enviada à UnB anos atrás e que possibilitou ao autor passar uns meses na cadeia.
O fato é que gente assim se sente ameaçada pelas mulheres e a coisa é agravada quando se trata de uma mulher trans. Afinal, ser mulher é algo inferior, de menor importância, como um homem "escolhe" ser mulher? é uma ofensa a todos os homens, especialmente, quando alguém nessa condição tem acesso a educação e consegue alcançar postos que a maioria dos homens "de bem" nunca terá acesso. Enfim, espero que Duda Salabert receba toda a proteção necessária e que faça uma excelente gestão na câmara dentro daquilo que for possível.
Se o caso acima ainda está no nível das provocações e ameaças, a mesma sorte não teve a professora Leila Arruda, candidata pelo PT à prefeitura de Curralinho, pequena cidade de 26 mil habitantes do Arquipélago de Marajó, no Pará. Durante toda a eleição, ela, que tinha uma medida protetiva contra o ex-companheiro de 26 anos de casamento, nunca ficou sozinha. Foram 45 dias de campanha, na qual parentes acreditam que ela foi monitorada pelo ex-marido. Segundo a matéria do UOL, Leila apresentou o novo namorado à família no dia 15 de novembro, dias depois, o ex aguardou que os filhos do casal saíssem de casa, foi até a residência de Leila e a matou com várias facadas. Foi o irmão da vítima que encontrou o corpo.
O assassinato gerou grande comoção e o governador exigiu celeridade na resolução do caso, porque Leila era conhecida por sua atuação pela educação de crianças especiais e no movimento de mulheres. Leila coordenava o Movimento de Mulheres Empreendedoras da Amazônia (Moema). A intenção de Leila, frisa o irmão, era tornar as mulheres independentes financeiramente dos maridos. A trajetória de Leila, que era ribeirinha, filha de um agricultor e uma professora alfabetizadora, são aqueles exemplos de sacrifício, dedicação e ascensão pelo estudo sem deixar para trás suas raízes.
Leila foi alfabetizada pela mãe e foi mandada para Belém aos 10 anos para morar com a irmã mais velha. Estudou em internatos de freiras e cursou a Universidade Federal do Pará. Entrou para o PT aos 20 anos e no Hospital de Clínicas Gaspar Viana, na capital paraense. Foi morta por um marido que não aceitava o fato dela não ser sua propriedade e que acreditava que poderia tirar-lhe a vida por causa disso. Como esse comportamento não é singular, precisamos urgentemente repensar nossos modelos de masculinidade, coisa que o vereador eleito que citei lá em cima, pretende impedir que seja feito, basta ler a entrevista do moleque que posa com armas na foto da entrevista.
É isso. A gente precisa de muito estômago para fazer esse post por dia durante a campanha pela eliminação da violência contra as mulheres. O pior é ver que há quem considere violência contra as mulheres e papéis de gênero como coisa de menor importância, mas é fácil fazer isso quando se é homem e não será morto ou terá seus direitos mínimos de cidadania negados simplesmente por ser mulher.
P.S.: Domingo, li matéria falando de e-mails racistas a ameaçadores que foram enviados à vereadora negra Carol Dartora (PT) de Curitiba. Além de um conteúdo racista, que foi adaptado ao texto, o restante é idêntico ao que enviaram para Duda Salabert. o autor se diz desempregado, com a esposa com câncer de mama e vivendo de auxílio emergencial, que vai comprar uma 9 mm etc. Ou é o mesmo sujeito, ou estão agindo em rede. Eu apostaria na segunda possibilidade.
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