Ontem, o deputado Bibo Nunes (PSL) disse o seguinte durante uma discussão na Câmara dos Deputados "Deputadas histéricas, vou criar um neologismo: 'Deputérica'. Quando eu falar "Deputérica", estarei me dirigindo a uma Deputada histérica, que não tem posicionamento, que não tem bom senso e que não se enquadra dentro do decoro parlamentar". O parlamentar estava atacando três deputadas em particular, Sâmia Bomfim (PSOL-SP), Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Érika Kokay (PT-DF). Alguém pode dizer que ele estava exercendo sua liberdade de expressão e que se trata de mais um embate entre a (extrema) Direita e a Esquerda no Congresso Nacional.
Não, não é, histeria, que vem de "histerion", útero (ὑστέρα), em grego, é um termo que foi usado para patologizar e, logo, desqualificar as palavras das mulheres e calá-las. Quando era possível, até a década de 1960, 1970, do século passado, poderia resultar no encarceramento dessa mulher em um hospital psiquiátrico pelo seu responsável (*pai, marido, irmão, especialmente*). Como somente as mulheres tinham útero, somente elas poderiam ter esse tipo de perturbação mental, seu corpo feminino era seu inimigo. "O termo histeria foi utilizado por Hipócrates, que pensava que a causa da histeria fosse um movimento irregular de sangue do útero para o cérebro.". (wikipedia) O termo "histérica' não é mais usado na psiquiatria, ou psicologia, mas está no senso comum e pode ser sacado a qualquer momento para atacar uma mulher. E pode ser utilizado por homens de (extrema) direita e de esquerda indistintamente, porque o machismo é muito forte na maioria dos homens.
“A ira masculina é geralmente entendida como justificada, racional, é até um sinal de poder, (...) Mas quando uma mulher se mostra zangada, abertamente, é vista como irracional, agressiva, histérica.”, explica a fotógrafa polonesa Werokina Perłowska em uma entrevista ao site do jornal português Público. A matéria segue explicando que "“Na Polónia, o país de onde é natural a fotógrafa, existe um ditado dirigido às mulheres que remete para esse facto: “A ira diminui a sua beleza.”". Para ser bela, para ser aceita, a mulher precisa ser submissa, cordial. Já ao homem é dado o direito de irar-se, falar alto, gritar até, pois seriam expressões legítimas de sua indignação e de seu engajamento em uma discussão.
Agora, não pensem que a mulher que não se indigna, se ira, ou mostra isso em público, está a salvo de ser chamada de histérica, porque, bem, ela é mulher, tem útero. É como ser chamada de "puta", ser mulher já qualifica qualquer um de nós ao xingamento desqualificando a nossa "moral sexual". Ao que parece, pelo menos parte da bancada feminina da Câmara entendeu como a fala do deputado é ofensiva e misógina e ele será levado ao Conselho de Ética da Câmara, segundo a deputada Tábata Amaral (PDT). Aguardemos os desdobramentos.
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