Este post é sobre uma série de pequenas coisas que não dariam um grande post, quer dizer, talvez ate dariam, mas meu pulso está machucado e eu sinto dor quando estou digitando sem a tala e se estou com ela é difícil trabalhar. Primeira aleatoriedade, talvez eu tenha rompido um ligamento e, segundo a médica, o problema só se resolverá com uma cirurgia. Preciso fazer um exame para confirmar se a dimensão da tragédia. Enquanto isso, um dos meus gatinhos está doente e internado, o que aumenta a minha ansiedade e meus gastos, também. Já gastamos mais com o bichinho do que com o meu pulso bichado e ele ainda não apresentou melhora, infelizmente. 😭
Vamos aos assuntos desse texto, que já está atrasado, pois levei dois dias escrevendo, faço parte de um grupo chamado Jane Austen Fan Club. Alguém abriu um post sobre seus protagonistas dos sonhos para uma adaptação de Persuasão: Emily Blunt e Matthew Goode. Ambos são excelentes atores e são lindos, nada a questionar nesses dois quesitos. Goode talvez tenha feito o melhor Wickham de todas as adaptações ou releituras de Orgulho & Preconceito (*assistam Death Comes to Pemberley*), mas os dois estão muito fora da idade para os papéis. Eu não fui a única a ponderar isso, mas recebi uma foto de Ciarán Hinds de uma pessoa para provar que isso não importava.
Bem, bem, eu ADORO Ciarán Hinds e gosto muitíssimo da versão de Persuasão de 1995. É a minha favorita. Até Samuel West, que me parece insosso e com cara de bolacha em todos os filmes e séries que eu já assisti, está charmoso e bonito nesse filme, mas é fato que Hinds tinha quase dez anos a mais que a personagem. Não fui checar, mas o Capitão Wentworth deveria estar com uns 33 anos, enquanto o ator tinha 41, ou 42 anos, durante as gravações. E ele aparentava a idade que tinha, o que é importante apontar. Obviamente, isso não me faria dizer que Goode, que é ainda mais velho que Hinds, ou Blunt, seriam boas escolhas para fazer Wentworth e Anne Elliot, a protagonista do livro.
Daí, outra pessoa citou Razão & Sensibilidade de 1995 como exemplo de atores velhos demais para os seus papéis sem que ninguém se importasse com isso, sem atentar para algo que é amplamente sabido por quem leu o livro de Jane Austen e se informou sobre a produção. Emma Thompson recusou o papel de Elinor, uma moça de 19 anos, por já ter 35. A produção a autorizou, já que ela escreveu o roteiro, a alterar as idades das personagens e fazer uma adequação da história. Por isso, Thompson fez uma Elinor de 27 anos e já vista como uma solteirona por todos, a questão é inserida no texto em mais de um diálogo, aliás. O Coronel Brandon no original tinha 35 anos, mas aparentava um pouco mais, nada é dito sobre sua idade no filme, mas a gente sabe que Alan Rickman tem muito mais que isso. Agora, não serei eu a reclamar de Alan Rickman nesse filme. 💗
Como estava disposta a interagir, expliquei esses detalhes do parágrafo acima, ponderei que, sim, esse tipo de alteração pode ser interessante desde que feita por gente competente, que eventualmente um elenco mais velho pode se sair tão bem que a gente esquece de suas idades, mas que algumas tramas não permitem uma adaptação para gente mais velha. Usei como exemplo o mesmo Razão & Sensibilidade de 1995. Edward Ferrars foi interpretado por Hugh Grant, um ator que batia idade com Emma Thompson, o problema é que a trama da personagem exigia alguém bem mais jovem.
Edward Ferrars era um rapaz inexperiente, tanto que foi enredado por Lucy Steele a quem prometeu matrimônio ainda no final da adolescência, era dominado pela mãe e não sabia como tomar as rédeas de sua vida, por isso, a angústia dele já que cai de amores por Elinor, uma moça cujo caráter e temperamento se ajustava muito bem ao dele. Coloque um rapaz de 23 anos nessa posição e a gente entende e tem pena dele, coloque um sujeito de trinta ou mais anos nessa mesmíssima situação de subserviência e ele será um banana aos nossos olhos. Eis o único calcanhar de Aquiles de Razão & Sensibilidade de 1995. Já em 2008, com as idades mais ou menos ajustadas, a personagem de Edward Ferrars é bem crível na pele de Dan Stevens, que parecia mais jovem do que era na época. E veja, Hugh Grant está um amor no filme de 1995, mas a gente precisa desligar metade do cérebro para atentar para situação vexatória na qual sua versão da personagem se encontrava.
Voltemos para Persuasão, se alguém tentasse fazer com esse livro o que Emma Thompson fez com Razão & Sensibilidade, colocaria a trama a perder. Por qual motivo estou afirmando isso? Bem, quando Anne Elliot recusa o jovem Wentworth, ela tinha 18 ou 19 anos e estava sob a influência de Lady Russell, a vizinha que assumira uma posição materna em relação à protagonista depois que ela perdera a mãe. Uma Anne adolescente se deixar influenciar e abrir mão do amor de sua vida por ele ser pobre é uma coisa, coloque a personagem com uns 25, 27 anos, e sua atitude seria imperdoável, afinal, já seria uma solteirona rejeitando a sua última chance. E 27 anos é exatamente a idade de Anne, quando Wentworth retorna e eles conseguem se acertar.
Sendo assim, melhor que o elenco possa convencer tendo idade próxima a das personagens, ou que nos convençam em seus papéis. É possível alterar algumas coisas, toda adaptação faz isso, mas há elementos essenciais que não podem, ou devem ser alterados. Me lembrei até de uma entrevista do Kenneth Branagh da época do lançamento de Hamlet, em 1996, na qual ele dizia que queria fazer o papel do príncipe da Dinamarca e se esperasse mais, estaria muito velho para o papel. Era agora, ou nunca. Espero ter deixado claro o meu ponto.
Indo para o título, eu realmente não tenho muita paciência com pessoas limitadas e que não conseguem reconhecer que os valores mudam ao longo do tempo, ou que as diferenças culturais existem. "Em nossos dias, ninguém quer ver uma jovem de 16 anos se casar com um homem de 35 anos.". Nesse caso, as pessoas não querem ler Austen, ou Charlotte Brontë, elas deveriam procurar outros materiais então. Também não devem conseguir olhar em volta e ver que, sim, casais ajustados e com grande diferença de idade existem em nossos dias. E antes que alguém me acuse de alguma coisa, eu deixo claro que não sendo crime e não havendo coerção, não serei eu a apontar o dedo para ninguém.
Mas eis que a CW (CBS + Warner Bros) vai produzir uma serie com os seis romances de Jane Austen no dias de hoje. O projeto se chama Modern Austen e, segundo a Variety, cada temporada terá episódios de 1 hora de duração e se passará em São Francisco. Como não poderia deixar de ser, começaremos com Orgulho & Preconceito. Antes que alguém comece a reclamar, versões modernizadas de Jane Austen são produzidas desde pelo menos os anos 1990, sendo um dos pontos altos o filme Patricinhas de Beverly Hills (Clueless), que é baseado em Emma.
Nessas versões modernas, as sensibilidades de nossos tempos poderão ser atendidas em vários aspectos, inclusive deformando o Coronel Brandon e Mr. Knightley para que eles pareçam mocinhos jovens, inseguros e com sua libido mal resolvida. E, não, eu não estou reclamando, não sou contra adaptações livres, mas desde que as pessoas estejam cientes de que elas são exatamente isso, o problema é que as pessoas confundem as versões para cinema, TV e outras mídias com os originais. De resto, quando esse negócio estrear é claro que darei pelo menos uma olhadinha.
Já chegando ao fim e mudando de Austen para outro assunto, assisti ao primeiro capítulo de Versailles. Sei que é uma série velha, sei que é sobre Luís XIV, então ele é o centro da brincadeira toda e deve ser justificado em todos os seus atos, ao que parece. A série começa em 1661 com a morte da Rainha-Mãe, Ana da Áustria, que era espanhola, só que ela só morreria em 1666. Quem morre em 1661 é o primeiro-ministro, o Cardeal Mazarin, e Luís decide governar pessoalmente, sem um ministro-chefe centralizando parte das ações de Estado. Na série, parece que Luís nunca tinha participado do governo e que ele corria risco de ser derrubado, ou algo assim. BOBAGEM.
Não satisfeitos com isso, optaram por difamar a rainha Maria Teresa logo de saída; foi péssimo. Explicando, há um boato, criado já no século XVIII, perto da Revolução Francesa, portanto, de que a esposa de Luís XIV teria tido uma filha negra bastarda com o anão bobo da corte. A menina, um segredo tão bem guardado quanto outra criança de lenda, o famoso Homem da Máscara de Ferro, foi enviada para um convento onde recebeu durante toda a vida uma pensão enviada pelo rei da França. Ora, era comum que os reis apadrinhassem crianças pelos mais diferentes motivos e provessem por sua educação. Se eu tivesse que imaginar uma filha bastarda de alguém, uma criança que não poderia jamais ser reconhecida, eu atribuiria ao rei e, não, à rainha.
Ora, Maria Teresa foi uma rainha discreta, religiosa, que não se meteu em política, nunca sequer foi o centro da corte, e foi deixada em segundo plano pelo marido que teve sabe-se lá quantas amantes oficiais e avulsas. A minha lembrança mais antiga de Maria Teresa, antes mesmo de ler qualquer coisa sobre ela, foi do filme O Homem da Máscara de Ferro estrelado por Richard Chamberlain. O rei humilhava a rainha diante de toda a corte, a ridicularizando, chamando-a de feia. Maria Teresa nunca foi uma beldade e, acredito por recusa, nunca aprendeu o francês perfeitamente. A história do "Se não tem pão, coma brioches", fruto de um mal-entendido linguístico, está relacionada a ela, não Maria Antonieta. Enfim, retornando, essas coisas, ao que parece, Luís XIV nunca fez, mas o fato é que foi um casamento dinástico e somente isso. De qualquer forma, Maria Teresa, assim como sua sucessora, a esposa de Luís XV, Marie Leszczyńska, nunca deu motivo para que dela se falasse mal, as atacadas eram as amantes. Só que rainhas são estrangeiras, então, inventaram esse boato em algum momento. Pensem no que Maria Antonieta passou e que a acusaram de incesto com o próprio filho, uma criança de 10 anos.
Como o Duque de Orleans era homossexual (*ele poderia ser bi, não há certeza*) e isso fica estabelecido desde sua primeira aparição no episódio, a relação dele com sua primeira esposa, Henrietta da Inglaterra poderia ser difícil. Agora, a primeira cena dos dois foi um estupro e com o sujeito a penetrando por trás, um típico clichê utilizado na ficção quando esse tipo de coisa é feita por um marido gay. Sim, há controvérsias em relação a como Filipe de Orleans se relacionava com sua primeira esposa. Já li em alguns lugares que eles se davam muito bem, que ele era devotado à esposa, que guardou ostensivo luto quando de sua morte, em outros, que eles somente se toleravam e ambos tinham amantes, como nunca li nada realmente extenso sobre ele, ou sobre ela, não tenho como me posicionar. Meu problema são as opções do roteiro nesse primeiro episódio. Será que o Duque de Orleans será uma espécie de vilão da série?
De qualquer forma, parece impossível para quem escreve esses roteiros imaginar que o sujeito, que era um competentíssimo comandante militar, poderia performar a heterossexualidade compulsória quando necessário, isto é, manter relações sexuais com uma mulher sem ser violento, ou mostrar-se enojado. Aliás, isso acontece até os nossos dias e é algo mais comum do que muita gente imagina. Obviamente, devem explorar ao máximo, porque já vi fotos, as festinhas que ele dava vestido com roupas femininas. Deve ter sido um prato cheio. E parece que o sentimento principal da personagem será a inveja que sente do irmão rei. Sabe? Me deu preguiça.
Voltando para a monja negra de Moret, a suposta bastarda, há um site importante brasileiro que confunde a esposa de Luís XIV com a mãe de Maria Antonieta no artigo. Seria cômico se o Aventuras na História não fosse um site de tanta circulação. Ah, sim! Maria Teresa é interpretada por uma atriz morena, porque vocês sabem, toda espanhola é morena e toca castanholas. Lembrei de Irene Papas como Catarina de Aragão em Ana dos Mil Dias. Procurem quadros da esposa de Luís XIV e confirmem que ela, ou era loura, ou tinha cabelos castanhos claros. Realmente, não tenho paciência para essas coisas.
Concluindo, estreou a quarta temporada de The Crown. Eu só assisti a primeira e fiz três resenhas dessa temporada (*1 - 2 - 3*). Não vi Olivia Colman como a rainha, preciso olhar com cuidado para avaliar melhor, mas assisti a primeira cena do encontro de Elizabeth II com Margaret Thatcher (Gillian Anderson) e queria comentar. A cena está aí em cima. A Elizabeth de Collman parece uma menininha feliz, porque acredita que terá uma amiguinha para brincar, a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra. Pareceu uma excitação exagerada. Já Thatcher acredita ser somente mais um dos caras, o mais inteligente e capaz, mas um homem como outro qualquer, ou uma mulher acima das outras. Vocês escolhem.
Não sei se gostei da entonação da Gillian Anderson, me pareceu um tanto forçada, ou eu não me lembro mais de como Thatcher falava. Agora, foi muito interessante que, desde o primeiro momento, está marcado que Thatcher era tudo, menos feminista, ou a favor de qualquer avanço para as mulheres. Ela não pensava coletivamente, se via como alguém especial, que por acaso era mulher, ou que apesar de ser mulher, conseguiu chegar ao topo.
É importante mesmo que a série não passe uma mensagem errada nesse aspecto e espero que as pessoas sejam capazes de compreender que há mulheres empoderadas que não são feministas. Ainda assim, afirmo que nenhuma representatividade é vazia. Mesmo que eu considere que Thatcher primeira-ministra, e antes dela tivemos Golda Meir (Israel), Sirimavo Bandaranaike (Siri Lanka), Indira Gandhi (Índia) e Elisabeth Domitien (Reública Centro-Africana), foi uma criatura daninha, a sua presença no topo do governo da Grã-Bretanha, uma nação do Primeiro Mundo, foi importante para que meninas acreditassem que, sim, elas poderiam chegar lá, inclusive, para fazer tudo diferente. Quem normalmente defende que existe representatividade vazia, e vi gente usando essa expressão em relação à Kamala Harris, é quem sempre é representado e quem acredita que ações individuais, quando feitas por minorias, como capazes de manchar a reputação de todo um grupo.
Explicando, homens brancos-cis-hetero-ricos-whatever vivem fazendo coisas horrorosas, mas nunca os homens do mesmo grupo pagam o pato, mas se o agente for uma mulher, ou um negro, ou um LGBTQ+, vai vir sempre um anjinho dizer "Por causa da fulana agora os direitos das mulheres estarão comprometidos para sempre, ou nunca mais ninguém vai votar em mulher, trá-lá-lá.". Continuem caindo nessa falácia. Eu persistirei defendendo que até Thatcher tem sua função social, inclusive para mostrar que, sim, mulheres podem assumir as posições mais detestáveis, também, porque nem toda mulher que chega ao poder é um agente de mudança, ela pode ser uma cúmplice ativa da manutenção das estruturas. Por isso, não votem nesse tipo de candidata, mas não venham com esse papo de que uma mulher em um posto importante nada represente. Representa, sim, o que não está garantido é que ela vá fazer algo de bom pela coletividade, ou mesmo pelas mulheres. É isso.
2 pessoas comentaram:
O Duque de Orleans não foi tratado como vilão na série, muito pelo contrário. Ele acabou tornando-se o personagem mais popular desse show. Também é mostrado o seu papel de liderança no exército francês.
PS: Não me lembro de nenhuma cena de estupro. Tá certo que já um tem tempo que assisti essa série, mas lembro que ele gostava muito de sua esposa apesar de todos os conflitos.
A cena de estupro está no final do primeiro capítulo. Quanto a ser popular, um vilão pode ser popular e isso é muito bom para que a personagem ganhe relevância.
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