Hoje, tivemos o segundo turno, nenhuma mulher venceu, somente uma mulher irá governar uma capital do país, Palmas elegeu Cinthia Ribeiro (PSDB) no 1º turno. Havia mulheres disputando as eleições em várias cidades, algumas foram eleitas, outras, não. Parece que as condições são de igualdade, mas a política ainda é encarada como um terreno masculino e as mulheres são pressionadas de várias formas a deixarem o terreno livre para os homens. Isso vale para a esquerda e a direita com poucas diferenças. Elas têm filhos para cuidar e as reuniões políticas podem entrar noite a dentro. Eles são vistos como mais confiáveis e são estimulados a serem agressivos e competitivos desde a infância. Já elas, devem ser doces e cuidar dos outros, por isso, é muito comum que sejam relegadas a um segundo plano, escolhidas como vices simbólicas, vide o caso da chapa derrotada para a prefeitura do Rio de Janeiro. A legislação eleitoral tem pressionado os partidos a cumprirem cotas de mulheres, mas, em vários casos, é somente isso mesmo, cotas.
Agora, quando as mulheres se lançam como candidatas realmente competitivas, elas são alvo de intimidação, difamação e violência que os homens normalmente não costumam sofrer no mesmo grau. Eu somente soube hoje, mas a deputada estadual Adriana Accorsi (PT), candidata à prefeitura de Goiânia, teve suas filhas ameaçadas de morte durante o primeiro turno. O celerado, que usava a foto de um jovem norte-americano com um fuzil, é pescador, tem 27 anos e é morador do Acre. Sim, ele não mora em Goiás, ele só quer destilar seu ódio às esquerdas, aos nordestinos e tentar intimidar uma mulher, porque mesmo policial, ela é uma mulher.
Vejam, não estou entrando em discussões sobre a competência da candidata, mas como é comum esse tipo de tentativa de intimidação e que usar as filhas da candidata "Comunista já comprou o caixão da Verônica e da Helena?". É preciso ter estômago para entrar na política, serve para homens e mulheres, mas as mulheres são particularmente atacadas, especialmente, em ambientes nos quais a extrema-direita, que é misógina por princípio, tem liberdade para atuar.
Em Porto Alegre, a candidata Manuela D'Ávila foi particularmente alvo desses ataques que buscaram atingi-la não somente por ser de esquerda, mas por ser mulher. Ela já havia entrado em desvantagem no segundo turno e seguiu assim até ser derrotada hoje. E, não, não vou comentar Recife, briga de família mais que qualquer coisa, mas a candidata Marília Arraes (PT) sofreu vários ataques misóginos, por exemplo, seus adversários deram o seu nome a uma cadela de rua (*vadia, portanto*).
É um modus operandi comum e não somente contra candidatas de esquerda, é comum contra mulheres candidatas. Elas são atacadas não somente, ou principalmente, por suas ideias, partidos, mas por serem mulheres. Enfim, precisamos de mais mulheres na política, representatividade. Eu defendo que nenhuma representatividade é vazia, nem que seja para derrubar na cabeça de certos delirantes a ideia de que as mulheres são sempre vítimas do sistema e não cúmplices dele.
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