Já escrevi aqui sobre o meu genuíno prazer em descobrir que eu não sabia de alguma coisa, pois bem, eu não conhecia Anton Wilhelm Amo (c. 1703-c. 1759), primeiro filósofo negro alemão e, muito provavelmente, o primeiro negro a lecionar em uma universidade da região que, na época, integrava o chamado Sacro Império Romano Germânico.
Amo nasceu na região do atual Gana e chegou ainda menino escravizado na Europa. ele foi trazido em um navio da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. Ele foi presenteado aos duques August Wilhelm e Ludwig Rudolf von Wolfenbüttel. Na época, era considerado elegante, ter pequenos escravos negros. Eu comentei sobre um caso bem peculiar, o menino escravizado de Madame du Barry, última amante do rei Luís XV e que a denunciou para os jacobinos. Muito bem, o pai dos dois duques, Anthony Ulrich, duque de Brunswick-Wolfenbüttel, tinha outros planos para o menino e o tratou como filho proporcionando-lhe uma educação de primeira linha.
Ele frequentou a Wolfenbüttel Ritter-Akademie (1717–21), a Universidade de Helmstedt (1721–27) e seguiu para a Universidade de Halle, onde estudou Direito e defendeu uma tese, em 1729, da qual só temos o resumo preservado, sobre o direito dos mouros (*pessoas negras em geral*) na Europa. Ele depois seguiu seus estudos em Wittenberg, onde estudou lógica, metafísica, fisiologia, astronomia, história, mais direito, teologia, política e medicina. Amo dominava pelo menos seis línguas: inglês, francês, alemão, grego, latim e holandês. Pensem o seguinte, ele era brilhante, mas não havia a figura do especialista antes do século XIX.
Segundo o verbete da Wikipedia, os conhecimentos de medicina tiveram importância fundamental nos escritos de Amo. Ele conseguiu seu doutorado em filosofia em Witterberg no ano de 1734 com uma tese intitulada "Sobre a ausência de sensação na mente humana e sua presença em nosso corpo orgânico e vivo", onde questionava o dualismo cartesiano. Não me pergunte o que isso significa, porque eu sou uma nulidade em filosofia. Após a defesa de tese, ele retornou para Halle como professor de filosofia e foi efetivado em 1736. Ele defendeu seu segundo grande trabalho filosófico em 1738 dialogando com a obra de locke e Hume. Em 1740, ele se transferiu para a Universidade de Jena e sua vida piorou consideravelmente.
Seu "irmão de criação", o duque Ludwig Rudolf von Wolfenbüttel havia morrido em 1735, fazendo com que ele perdesse seu patrono e protetor. Esse momento coincidiu com uma onda de conservadorismo e reação às ideias laicas e liberais no ambiente universitário alemão. Como Amo estava militando pelo direito dos negros e pela abolição da escravidão, isso também foi usado contra ele. Amo foi atacado por seus inimigos que, inclusive, patrocinaram a montagem de uma peça satírica sobre ele. Amargurado, ele decidiu retornar para a África onde sabia ainda ter pai e irmão vivos.
Em 1747, Amo embarcou em um navio da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais para Gana, via Guiné. A partir daí, pouco sabemos sobre ele. Segundo a única fonte sobrevivente, ele não voltou a ver sua família, mas foi mantido prisioneiro, em quais condições não se sabe, no forte San Sebastian em Shama, Gana. Motivo? Tinam medo que ele pudesse ser um elemento de agitação social entre seu povo. Acredita-se que ele morreu em 1759.
O artigo do G1, fala que Amo foi um dos mais importantes filósofos negros do século XVIII e isso me fez parar para pensar em quem seriam os outros. Certamente, havia filósofos no mundo muçulmano que eram negros, mas pensando somente nos iluministas, haveria algum outro? Encontrei uma lista que colocava Olaudah Equiano (1745-1797). Eu conhecia Equiano por causa do filme Amazing Grace, mas nunca o pensei como um filósofo, de qualquer forma, acadêmico ele não era como o Amo. Equiano escrevia sobre a sua experiência como escravizado e era militante da causa da abolição.
Outra coisa, estão colocando o retrato do general negro russo Abram Petrovich Gannibal (c. 1696-1781) em vários sites falando de Anton Wilhelm Amo. Gannibal é um sujeito notável por ele mesmo, foi afilhado de Pedro, o Grande, estudou filosofia, porque todo mundo que ia para a universidade estudava filosofia, mas ele era engenheiro e militar, não era filósofo. O poeta Alexander Pushkin, protagonista de um dos mangás mais belamente desenhados por Chiho Saito (Bronze no Tenshi), é bisneto de Gannibal. Ué, vocês pensaram que eu não iria falar de mangá? Dificilmente eu não teria um exemplo para citar.
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