Continuando com o projeto de resenhar os capítulos da série Orgulho & Preconceito de 1980, vamos para o capítulo 2. Se você não leu a primeira resenha, ela está aqui. Este é o episódio da chegada de Mr. Collins (Malcolm Rennie) e de Wickham (Peter Settelen), além de termos a visita dos Gardiner, os tios à Loungbourn. Esse capítulo foi marcado por algumas cenas de humor, todas, se não estou enganada (*eu abro o livro toda hora para confirmar falas*), inventadas.
A abertura do episódio é com uma refeição dos Bennet na qual Mrs. Bennet se esmera em depreciar Charlotte Lucas. A ideia da produção é fazê-la pagar sua língua, sem dúvida. Mr. Bennet lê a carta de Mr. Collins, que fala da sua iminente chegada e que ele ficará em Loungbourn por pelo menos duas semanas. Mrs. Bennet fica indignada e trata muito mal o sujeito antes dele externar seu interesse em casar com uma de suas filhas. Há uma cena em que ele pergunta se as moças fizeram parte do jantar, ele quer saber se elas são prendadas, claro, mas toma um passa fora de Mrs. Bennet "Temos criadas para essas coisas.".
Collins inspeciona tudo. Olha a prataria, os cristais, a casa em si, tudo o que ele irá herdar. Quando ele externa o interesse por Jane, prontamente Mrs. Bennet o direciona para Lizzie e ele começa a cortejá-la de forma insistente. Malcolm Rennie, como todo ator escalado para o papel, não é jovem como deveria ser, mas ele parece mai velho do que é. No entanto, ele é grandalhão e desengonçado como no livro. Acho que ele é o Mr. Collins mais divertido de todas as versões canônicas, porque, bem, tem Matt Smith em Orgulho e Preconceito e Zumbis, que é muito, muito bom.
Nesta versão, Mr. Bennet não convence Collins a acompanhar as moças até a cidade, mas obriga Elizabeth a fazê-lo. Ele quer a sua biblioteca somente para si. Também nessa versão, Mary segue com as irmãs para a cidade, diferente do livro, e a atriz, Tessa Peake-Jones, quer a todo custo atrair a atenção de Mr. Collins, mas ele só tem olhos para Lizzie que, a partir do momento em que Wickham entra em cena, só tem olhos para ele. Peter Settelen é o único Wickham louro do qual me lembro. E ele, assim como comentei do ator que faz Bingley, parece que ainda tem aqueles traços juvenis. Ele me lembra os adolescentes que apareciam em filmes dos anos 1970, início dos anos 1980.
Lizzie e Jane estão preocupadas com o comportamento assanhado de Kitty e Lydia com os oficiais, quando chegam Darcy e Bingley. Este último vem falar com Jane todo sorridente e Darcy parece estar com o rosto menos duro, fala com Elizabeth, cumprimenta a todos, mas quando vê Wickham, ele fica rígido. Ótimo trabalho de David Rintoul nessa sequência. Diferentemente da versão de 1995, ele chega a cumprimentar Wickham de forma seca, enquanto o outro lhe lança um olhar cínico, mas eu conheço a história. Depois, ele vai embora, Bingley vai atrás.
Segue o que a gente já conhece, Wickham começa a contar sua história triste. Eu realmente não sinto muita firmeza no Wickham dessa versão. Há a visita à Mrs. Phillips, irmã de Mrs. Bennet, e a mulher, que é tão desmiolada como a irmã, começa a torcer por Lizzie e Wickham, enquanto Mr. Collins tenta fazer a corte à prima, em vão.
A partir daí, temos o baile de Netherfield. Elizabeth conversa com Jane e diz que quer ser o par de Wickham em todas as danças, o que não seria correto dentro da etiqueta da época. Da mesma maneira, não seria adequado que Bingley e Jane dançassem juntos o tempo inteiro, mas é o que ocorre na série. Isso não é do livro. Uma omissão dessa versão é Mr. Collins se apresentando para Darcy e sendo esnobado por ele, mas ele tinha sido introduzido ao rapaz na calçada, ainda assim, ele não falou que era apadrinhado por Lady Catherine e tudo mais. Na verdade, a sequência inteira do baile é curta.
Charlotte chama a atenção de Lizzie por esnobar Darcy e se mostrar tão enamorada por Wickham; Lizzie dança com Darcy e eles conversam um pouco; Miss Bingley tenta alertar Elizabeth, com aquele jeito venenoso dela, de que Wickham não presta, ainda que ela não saiba os detalhes da ligação dele com Darcy; Mrs. Bennet ofende Darcy. Agora, quando Mr. Collins dança com Lizzie é o ponto alto da sequência inteira. Ele erra os passos e quase arranca o braço da pobrezinha. E há uma hora que ele encosta nela e recua rápido, não foi de propósito, foi um acidente. Ficou excelente essa parte.
Em seguida, temos o pedido de casamento. Mrs. Bennet deixando a filha sozinha com Collins. Há uma mesa redonda no centro da sala, Lizzie vai girando em torno da mesa quando ele tenta se aproximar dela. E, no final, ele diz, como no livro, que ao rejeitá-lo, ela abre mão de uma vida segura e respeitável e que não conseguirá outra proposta tão boa como a dele. Enfim, ela vai casar com Mr. Darcy no final. 😄 Há o confronto dos pais por causa da proposta, mas o que diferencia essa série é que Mrs. Bennet vai ficar repetindo o capítulo inteiro o quanto Lizzie a decepcionou e não é uma boa filha. Jane e Lizzie também escondem o quanto podem a partida de Mr. Bingley, o que é uma invenção da série.
Daí, temos outra cena inventada. Mary ao piano tocando e cantando, Mr. Collins tentando conter sua cara de desgosto. Mrs. Bennet perguntando afinal qual era a dele e tendo um estalo: Mary! Então, ela começa a vender os atributos da moça. Ela não é tão bonita quanto Jane, ela não é como Elizabeth (*e ela nem completa o pensamento*), e que Mary é inteligente. E vira para o marido: "Inteligência é uma grande qualidade em uma esposa, não é, Mr. Bennet?" "Como eu posso saber, Mrs. Bennet?" Mr. Collins baixa a cabeça para seu chá e Mrs. Bennet fica com a boca aberta. Mr. Bennet é muito cruel. Enquanto isso, Lizzie e Charlotte conversam e a protagonista aceita a posição da amiga. Quando a notícia se espalha, Mrs. Bennet, que agora sabe sobre Bingley, entra em profunda agonia.
O desfecho do capítulo é a chegada dos Gardiner e eu não lembrava de quão boa era a atriz Barbara Shelley. Ela não é somente boa atriz, ela é muito alta comparada com as outras atrizes em cena, tem uma voz contralto grave, e é muito elegante. Ela foi modelo na juventude e teve uma longa carreira no cinema, participou de várias produções da Hammer que fazia filmes de terror. Ela é sem dúvida a mulher mais bonita do elenco.
Essa versão manteve o diálogo dela com a sobrinha aconselhando-a a não se deixar enredar pelos seus sentimentos por Wickham. Na série de 1995, essa parte foi toda apagada e é muito importante, eu diria, para dar para Elizabeth a coragem necessária para lidar mais tarde (*deve estar no próximo capítulo*) com o rapaz tentando conquistar a herdeira Mary King. Se Mrs. Gardiner fosse mãe de Elizabeth e Jane, elas seriam muito mais felizes.
É isso. Pontos altos do capítulo: Mr. Collins exuberante e divertido, Mary tentando chamar a atenção para si, Mrs. Gardiner perfeita e Charlotte sempre inteligente e cheia de bom senso. E, claro, Lizzie, porque Elizabeth Garvie brilha em todas as suas cenas. E, sim, a cena das irmãs de Bingley escrevendo a carta para Jane foi excelente, o veneno, a complacência e a mentira deslavada. Ponto baixo? Um Wickham sem carisma.
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