O Hollywood Reporter comentou um relatório de 94 páginas do instituto PEN American intitulado "Made in Hollywood, Censored by Beijing" (Feito em Hollywood, Censurado em Pequim) sobre o esforço dos grandes estúdios japoneses e diretores em adequar suas produções - incluindo elenco, história, diálogos e locações - para agradar ao mercado chinês, na verdade, mais do que isso, para conseguir a aprovação dos censores do país.
Ora, Hollywood poe até produzir arte, mas o que ela oferece ao mundo são produtos e o segundo mercado consumidor do mundo nos nossos dias (*não sei o que será pós-pandemia*) é a China. O relatório mapeou essa tendência de adequação desde o filme Homem de Ferro 3, em 2013. Um dos que deu seu testemunho para o relatório foi Richard Gere, conhecido por sua militância pró-Tibet. Ele disse: "Imagine o Kundun de Marty Scorsese, sobre a vida do Dalai Lama, ou meu próprio filme Justiça Vermelha (Red Corner), que é altamente crítico do sistema jurídico chinês", disse Gere. "Imagine eles sendo feitos hoje. Eles não aconteceriam."
"Em 1998, o então chefe da Disney, Michael Eisner, pediu desculpas por Kundun, que mostra a opressão chinesa do povo tibetano, chamando-o de "uma forma de insulto aos nossos amigos", e o estúdio contratou o ex-secretário de Estado Henry Kissinger para ajudar a reduzir os danos provocados pelo filme. Até hoje, o filme é maldito para o estúdio. (Kundun não está disponível no Disney + e o estúdio não respondeu quando perguntado se planeja adicioná-lo à plataforma.)" Não assisti Kundun, mas sei que ele teve impacto no desempenho de Mulan, a animação, na China.
Esta postura de Hollywood pode explicar o silêncio da Disney quando a estrela de Mulan, Liu Yifei, escreveu em agosto passado nas suas mídias sociais: "Eu apoio a polícia de Hong Kong, você pode me bater agora". Eu comentei o caso aqui. As críticas a essa aparente complacência para conseguir espaço da China tem vindo de ONGs e, também, da Casa Branca. A partir daqui, um trecho do artigo traduzido:
"Nossa maior preocupação é que Hollywood esteja cada vez mais normalizando a autocensura preventiva, antecipando o que o censor de Pequim está procurando", diz James Tager, vice-diretor de política e pesquisa de liberdade de expressão do PEN e autor do relatório. O professor da USC Stan Rosen, especialista na indústria cinematográfica da China, chama as críticas de censura de "uma tempestade perfeita" que colocará em evidência a indústria do entretenimento. "Vai ficar cada vez mais difícil para Hollywood não responder", observa Rosen. (...)
Para aqueles que trabalham para aumentar a conscientização sobre os abusos dos direitos humanos no que diz respeito aos 61 anos de ocupação do Tibete na China, Hollywood já foi um amigo e agora é um inimigo. Filmes como o estrelado por Brad Pitt, em 1997, Sete Anos no Tibet (Seven Years in Tibet) foram substituídos por produções como o filme de 2019 da DreamWorks Animation, Abominável (Abominable), que reforça as reivindicações territoriais de Pequim no Mar da China Meridional. Para Doutor Estranho (Doctor Strange), de 2016, a Marvel da Disney estava disposta a enfrentar críticas por branquear um personagem asiático interpretado por Tilda Swinton para evitar a participação de um personagem tibetano originário dos quadrinhos. E Top Gun: Maverick, da Skydance/Paramount, foi criticado, como observa o relatório do PEN, pelo "misterioso desaparecimento da bandeira de Taiwan" em uma jaqueta de voo que foi vista no original de 1986.
"Se Hollywood estiver do lado do dinheiro, mais cedo ou mais tarde eles estarão do lado errado e perderão dinheiro porque o público em geral deixará de assistir a todos os filmes", diz Tenzing Barshee, ativista de Washington, presidente da Área da Capital. Associação Tibetana."
Voltei, aqui. Hollywood nunca foi muito justa na representação de minorias, mulheres, e não-americanos em geral. Aliás, resenhei um documentário sobre a representação dos árabes em Hollywood tempos atrás. Obviamente, se curvar a Pequim não deve significar uma melhora nesse modus operandi. E o mesmo vale para os produtos japoneses se curvando aos interesses e padrões culturais ocidentais. Sim, acabei de ver gente acusando Fruits Basket (フルーツバスケット) de PEDOFILIA e eu estou me coçando para não ir bater boca, mas deixa quieto, porque isso daria outro texto.
Mulan iria estrear em março. |
Enfim, se estamos falando de cinema e de China, Mulan vai entrar na grade da Disney+, que não chegou ao Brasil ainda, no sistema de VOD (video on demand) em setembro. Olha, era esperado e, ao mesmo tempo, é burrice, porque o filme vai entrar no top 10 dos mais pirateados. Mesmo com lançamento posterior no cinema, será que quem já tiver assistido vai querer pagar ingresso?
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