quinta-feira, 18 de junho de 2020

Watashi no Koko Hen desu ka?: Recomendação de mangá (+18)


Vai ser um post curto.  Estava olhando o site agregador de mangás que tem bastante material josei erótico e tropecei em Watashi no Koko Hen desu ka? (私の「ココ」、変ですか?) da mangá-ka Meg.  Sete capítulos, curto demais, porque era um material com muito potencial, especialmente, se você supera a atitude nada profissional do médico, que é o par da mocinha.

A história tem como protagonista uma moça chamada Rin.  Ela tem um namorado e, quando eles estão prestes a fazer sexo, e era a primeira vez dela, retardada, porque ela tinha medo dos homens, porque sofrera bullying de um colega na infância.  O namorado põe uma série de defeitos na genitália da moça.  Nada acontece e ela fica se sentindo um lixo, envergonhada de seu próprio corpo.  Ela descobre que existe uma coisa chamada cirurgia íntima e decide procurar um profissional na área, afinal, se o namorado disse que sua genitália é feia e disforme, ela deve ser.  Só que o médico é um homem e isso gera profundo desconforto em Rin.  Pior, ela acaba descobrindo que o sujeito é exatamente o antigo colega de infância que costumava persegui-la e pregar peças nela.


Por qual motivo parei para olhar esse mangá?  Exatamente porque eu sei que nos últimos anos aumentou enormemente a demanda por cirurgia íntima no Brasil e em outros países.  A mais comum sempre fora a himenoplastia, que seria a restauração do hímen para esconder uma experiência sexual anterior, questão de vida, ou morte em alguns países, ou como "presente" para o novo marido, namorado, ou o que seja.  Uma objetificação.  

Nos últimos tempos, as cirurgias que mais têm crescido em número são as que visão "consertar" os lábios vaginais.  Eles são grandes demais, pequenos demais, murchos demais, gordos demais. As genitálias femininas tem formatos diferentes, logo, a maioria desses defeitos não passam de fantasia, mas que causam uma imensa ansiedade em algumas mulheres. Isso, claro, se nçao levarmos em conta que é presente em várias culturas a ideia de que homens devem ter orgulho de suas genitais, enquanto as mulheres devem escondê-las, sequer se tocar.  


É comum encontrarmos relatos de mulheres, a maioria de mais de cinquenta anos, que sequer sabiam que tinham três buracos, mas o susto é mostrado na série Unorthodox, pois a jovem, criada em uma comunidade religiosa, só é informada disso às vésperas do casamento.  E, claro, quando a protagonista e o marido tem problemas para consumar o casamento, a culpa é dela, inclusive, a convencem de que tem vaginismo.

Enfim, as matérias sobre o tema, com títulos tão chamativos quanto esse "Conheça as cirurgias na área íntima que estão fazendo a diferença na vida das mulheres", proliferam nas revistas, jornais e na internet. Qual o intuito desse tipo de coisa? Gerar lucro para um ramo específico da indústria médica e, claro, fragilizar as mulheres, pois alimentar a nossa insegurança é uma forma de dominação.


O fato é que se eu avaliar esse pequeno mangá somente por esse aspecto, ele é muito bom.  No fim das contas, o que o médico irá provar para Rin (*lembrem que é um mangá erótico/pornográfico*) é que seu corpo não tem defeito algum, o problema era com o namorado e, não, com ela.  No processo, temos a sugestão de que Rin observe sua genitália com um espelho e se masturbe, de que conhecer o seu próprio corpo era muito importante para se aceitar e chegar ao prazer.  Duvido muito que um homem fizesse um mangá sobre esse assunto, ou que uma revista que não fosse para mulheres se interessasse pelo tema.  Mas o inferno é que é um mangá pornográfico e curto.  

Imagino que os editores desse tipo de história fiquem perturbando as autoras para colocarem cenas de sexo em todos os lugares possíveis.  E, claro, a história é curta demais, o que impede o desenvolvimento da discussão sobre a insegurança da protagonista e outras questões.  Por exemplo, o médico tem uma noiva, assim como em Emma, de Kaoru Mori, ela é uma boa moça, uma personagem simpática.  Trata-se de um noivado arranjado e Akatsuki vai enfrentar a mãe para poder romper um arranjo lucrativo para sua família.  Eu fiquei com pena da noiva, Rin se sente culpada e triste pela garota.


Há outro médico assediador (*porque o que Akatsuki fez com Rin no início da história é assédio, sim!*), que aparece rapidamente.  Se o mangá tivesse mais capítulos, ou se não fosse um quadrinho pornográfico, certamente teríamos como desenvolver a trama, porque havia excelentes temas a serem desenvolvidos.  Em mangás eróticos mais longos, como em  38°C no Kiss (38℃のキス), de  Miyakoshi Wasou, já são quatro capítulos sem cenas de sexo e a história está se desenvolvendo muito bem e sem distrações.  

Veja, um mangá erótico/pornográfico pode fazer boas discussões.  A autora tem mangás mais longos, porém este, talvez por exigência da revista, a Zettai Ryouiki R!, talvez tenha limites quanto ao tamanho.  Enfim, acabou ficando um texto bem grande e com uma discussão relevante no meio.  Vá atrás do mangá por sua conta e risco, ele é pornográfico, a primeira aparição de Akatsuki não é positiva, mas, no fim das contas, é possível fazer algumas reflexões interessantes em cima dela.  Queria saber se a questão já foi abordada em um mangá mainstream, porque é um tema relevante e de interesse das mulheres.

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