Esta semana passada, entrei no Twitter e o nome do apresentador Luiz Bacci, do programa sensacionalista Cidade Alerta, da Rede Record, estava em evidência no Twitter. Ele teria repercutido suspeitas de que uma menina Youtuber de 13 anos estaria sendo submetida a abusos por sua mãe e que isso ficava evidente nos vídeos. Eu não acompanho o canal Bel para Meninas, mas sei que minha filha já assistiu alguns vídeos de lá. Acho justo que se preocupem com a menina, mas acredito que é importante atentar para outras questões, falarei de duas.
A primeira, que me incomodou bastante, seria a de que a mãe não deixaria que a menina crescesse. A protagonista do canal começou com seis anos e com treze parece ainda muito infantil. Esse pessoal frequenta escola de ensino fundamental e já observou como adolescentes nessa faixa etária têm diferentes corpos, aparência, desenvolvimento afetivo e intelectual? Não sei. O curioso é que comparam a menina com outras youtubers mirins que cresceram diante das câmeras e, agora, falam de cabelo, maquiagem, namorados. Coisas da idade. Percebem que isso parece uma forminha em que todo mundo precisa se encaixar? Pois é...
Se Bel estivesse falando de maquiagem e coisas "de mocinha" estaria tudo certo, não é? |
Há meninas que gostam de outras coisas, ainda que possam gostar, também, de maquiagem. Outras nem ligam para essas "coisas de mocinha" e, talvez, nunca venham a se importar. Meninas podem gostar de esportes diversos, de video game, de seriados, de livros de todos os tipos, de política, de ciências etc. Será que todas as meninas são iguais, ou precisam ser, porque, se não forem, estarão sendo forçadas a continuar na infância? Vamos refletir um pouquinho sobre isso?
A segunda questão é a mais interessante ao meus olhos. Se há algum problema, a culpa é da mãe e somente dela. A mãe precisa se explicar. A mãe... a mãe... a mãe... a mãe... É aquilo, não é? Se alguém é um canalha, qual o xingamento padrão? "Filho/a da puta!". Porque, sim, a mãe do sujeito é culpada de todos os males que ele comete e de seus comportamentos ruins. Ora, trata-se de uma família tradicional com pai, mãe e filhas. Aquele modelinho que é igual o meu daqui de casa, só que com uma menininha só. O pai de Bel participa de tudo por trás das câmeras, é sócio do projeto e lucra com ele, mas é como se a menina só tivesse a mãe "malvada" e o pai nada tivesse a ver com a história.
Vamos colocar todo mundo dentro de forminhas. |
Não vi uma página progressista, youtuber desconstruído pontuando que, bem, a menina, se está sendo abusada e explorada, tem pai, que é é cúmplice e que tem que se explicar, também. "Ai, você tem que cobrar de todo mundo!". Tenho, não! Dos assumidamente machistas, dos misóginos, dos que têm uma visão idealizada da maternidade, eu não espero NADA. Eu gostaria de ver reflexão pelo menos entre os que parecem refletir sobre questões de gênero, isto é, papéis ditos masculinos e femininos na sociedade e como eles podem ser opressivos e injustos, falando o que precisa ser falado.
Parece que somente dias depois, o pai se manifestou, mas sem que ele tivesse sendo cobrado para fazê-lo. E foi na mesma linha da esposa de que as acusações seriam fruto de inveja e difamação. Agora, vi que há um vídeo, o coloquei mais no final. Mas vamos continuar queimando somente as mulheres na fogueira. E não pensem que estou defendendo a mãe, nem a estou acusando de nada, tampouco, estou só mostrando como o machismo opera e está em todo lugar.
4 pessoas comentaram:
Uma coisa que eu não vi apontarem nesse caso é algo que nunca consegui entender, o fato de que muitos adultos parecem ter algum prazer no constrangimento das crianças.
Coisas que para adultos seriam consideradas indignas, vergonhosas, humilhantes, parece que muitos adultos acham que em crianças viram coisas "fofas", "bonitinhas"... Foto de criança com o rosto sujo de comida, foto de criança faltando dente, foto de criança sentada no vaso sanitário... quantos adultos já vi falando "óinnn, que fofo!" diante de algo assim. Sempre me pergunto se essa pessoa posaria pra uma foto igual.
Agora temos a internet, que eu acho que tende a potencializar as coisas pro bem e pro mal, essa é mais uma coisa que acaba sendo levada às últimas conseqüências.
Alguns anos atrás um casal de americanos perdeu a guarda por maltratarem as crianças e filmarem pra postar no YouTube. O canal deles tinha mais de 700 mil inscritos. Mais de 700 mil pessoas que se divertiam vendo crianças serem envergonhadas, enganadas, até chorar.
Teve também o caso da austríaca que processou os pais por publicarem fotos da infância dela na internet.
Acho que até que demorou pra acontecer algo similar no Brasil.
Exatamente, foi isso que me indignou nesse caso! A exposição que os pais fazem nessa menina chega a ser humilhante.
Independente de quem seja o real culpado, agora quero que ela fique bem e seja bem tratada, nem na idade dela eu era tão infantil e olha que vivia assistindo desenho, brincando de coisas infantis e etc, enfim vi o canal de games da CENTRAL falando, Metaforando e New York treta, anos atrás o Felipe Neto falou de uma caso parecido mas lá de algum país da Ásia, fora isso não vi mais nada mas teve canais que falaram porém eram de fofoca e sinto que eles não contam!
Vendo esse caso fiquei com medo da situação da menina após a exposição. Não acho que o Ministério Público vai averiguar o caso a ponto de cuidar da menina se houverem riscos. Parece claro como a humilhação da menina como entretenimento era vista como normal pelos pais e pelo público. O público, dava audiência. Em tudo isso, se a situação dela é ainda pior do que as humilhações dos vídeos, ela poderia estar sendo culpabilizada pela família. Só espero que essa menina fique bem.
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