Semana atrasada, assisti e resenhei o filme de Razão & Sensibilidade de 1995. Como tenho o DVD da minissérie de 2008, na verdade, tenho a edição inglesa e a brasileira, que tem (*sabe-se lá por qual motivo*) uma cena cortada, tirei uma tarde para revê-la. Pode parecer que a minissérie é muito maior que o filme, mas não é. São 174 minutos, com cenas do capítulo anterior, tema de abertura e encerramento, enquanto o filme tem 136 minutos. Não há tanto tempo assim a mais para desenvolver a história.
As Dashwood passam a ser hóspedes em sua própria casa.
Em Razão & Sensibilidade somos apresentados às irmãs Dashwood, Elinor (Hattie Morahan), Marianne (Charity Wakefield) e Margaret (Lucy Boynton), que junto com sua mãe (Janet McTeer) são expulsas de Norland, em Sussex, pelo meio-irmão mais velho (Mark Gatiss) e herdeiro de toda a fortuna do pai (Simon Williams). O patriarca havia feito o sujeito jurar que seria justo com a madrasta e as irmãs, mas sua esposa, Fanny (Claire Skinner), termina por demovê-lo de sua promessa. A urgência em mandá-las embora se torna ainda maior quando Fanny percebe o interesse de seu irmão Edward Ferrars (Dan Stevens) por Elinor, a mais sensata das irmãs.
Edward e Elinor se apaixonam logo no início da história.
Reduzidas a uma renda muito pequena, a família se muda para Barton Cottage, em Devonshire, graças à oferta de um primo distante da Sr.ª Dashwood, Sir John Middleton (Mark Williams). O cavalheiro reside com sua esposa (Rosanna Lavelle) e a sogra, a Sr.ª Jennings (Linda Bassett), cujo maior interesse é casar toas as pessoas que puder. Em casa de Sir John, as Dashwood conhecem o Coronel Brandon (David Morrissey), um amigo da família, homem muito gentil e honrado, mas com uma história de vida bem sofrida. O Coronel termina caindo de amores por Marianne, que tem 16 anos, e não cogita a possibilidade de aceitar o amor de um homem tão mais velho que ela.
Depois de sofrer um acidente, Marianne é resgatada por John Willoughby (Dominic Cooper), sobrinho de uma vizinha dos Middleton. Ele é um jovem encantador e parece compartilhar dos interesses e ter uma alma tão apaixonada quanto a da moça. Todos creem que os dois vão se casar e Marianne não tem nenhum receio de exibir publicamente o seu amor por Willoughby, que herdaria uma fortuna da tia e parecia não estar se preocupando com o fato da moça ter um dote minguado. Enquanto isso, Elinor sofre em silêncio por amar Edward e crer não ser correspondida, ou que ele não tem coragem o suficiente para enfrentar a oposição de seus familiares e se casar com ela.
A Sr.ª Dashwood é menos cabeça de vento e vulnerável na série de TV.
As coisa, claro, podem piorar, porque um dia, as sobrinhas da Sr.ª Jennings,Lucy (Anna Madeley) e Anne Steele (Daisy Haggard) vem visitar Barton Park. Lucy acaba tomando Elinor por confidente e se apresenta como noiva secreta de Edward Ferrars. Elinor para a ser guardiã de um segredo que lhe dilacera a alma. Já Marianne, acaba sendo recusada por Willoughby, que precisa casar bem apesar de amá-la. Antes das duas conseguirem alcançar a felicidade, sim, porque Jane Austen não deixaria suas heroínas na mão, teremos muito sofrimento e alguns mal entendidos antes de um belo desfecho.
Eu gosto muito dessa versão de 2008, ela tem um bom elenco, segue o livro de perto, ainda que faça algumas concessões, e provavelmente é a melhor adaptação do livro de Jane Austen feito pela BBC, começando pelo fato de não omitir Margaret, a irmã caçula. Todas as adaptações anteriores optam por eliminar a menina. A última série seguiu nos passos do filme de 1995 e colocou em cena uma menina bem simpática e esperta que aproveitou ao máximo as cenas que tinha. Assim como a Margaret de 1995, a de 2008 questiona as restrições impostas às mulheres e deseja ser escritora.
Fanny torna a vida da sogra e das cunhadas miserável.
Uma coisa interessante dessa versão é que as Dashwood realmente parecem pobres. Sim, há cenas no filme de 1995 que apontam para a precariedade da casinha nos arredores de Barton Park, o frio que fazia com que duas irmãs dividissem a cama, agora, na minissérie, além da casa precisando de reparos e fria, há a questão das roupas. As personagens repetem roupas, trocam acessórios entre si, a mala de Elinor parece surrada e Marianne reclama que não tem vestidos novos para usar em uma recepção na qual dançará com Willoughby. Esses detalhes dão credibilidade à situação de quase penúria em que a família vive depois de ser expulsa de sua vida confortável. Para quem não leu o livro, ou não conhece a dinâmica das heranças na Inglaterra da época. O pai das irmãs Dashwood parece não ter deixado um testamento claro à respeito de quanto ficaria para cada uma delas. A herança, o grosso dos bens, iria para o filho homem mais velho. Antes de morrer, o velho pede que John não desampare as irmãs. Ele quer dar a cada uma delas uma soma que, juntando as rendas das três irmãs e da viúva, lhes permitisse viver com conforto. Fanny, sua mesquinha esposa, barganha com ele até que ele deixa para cada uma delas menos de 500 libras anuais.
Elas ficam quase destituídas.
Segundo a resenha do livro "Gentlemen of Uncertain Fortune: How Younger Sons Made Their Way in Jane Austen’s England", um cavalheiro desse grupo social, a gentry, precisaria de 700 libras anuais para viver de forma aceitável. Não deveria ser muito diferente para uma moça. Fora isso, elas não estavam acostumadas a economizar. Elinor toma para a si a responsabilidade de manter as despesas em dia, o que inclui, por exemplo, não ter como comprar açúcar, ou ter carne de boa qualidade todos os dias. As Dashwood serão ajudadas por Sir John Middleton, primo distante de sua mãe, mas, ainda assim, sua vida será dura. Uma das críticas feitas à série na época de sua estreia foi o fato dela começar com uma cena de sedução. Confesso que não vi nada de impróprio e, no geral, Andrew Davies fez um excelente trabalho em Razão & Sensibilidade. Terei que dar spoilers, mas, enfim, o livro está circulando desde 1811. Willoughby seduziu e engravidou uma adolescente de 15 anos. Canalha que é, ele sente ZERO culpa pelo que fez. Depois de conseguir o que queria, abandonou a moça grávida. Jane Austen gosta de colocar meninas de 15 anos sendo seduzidas por homens de caráter duvidoso.
Elisa foi seduzida por Willoughby e abandonada grávida.
Imagino que o motivo seja o fato de uma menina de 15 anos já ter seu corpo formado e, ao mesmo tempo, tenha tão pouca experiência da vida que ao ser exposta a um número maior de pessoas, ainda que não tenha sido apresentada à sociedade de maneira formal, não consiga discernir os perigos que a cercam. Uma menina precisa de pais responsáveis, ou, pelo menos, uma mão forte e amiga por perto. Parece ser essa a ideia. A irmã de Darcy tem 15 anos quando quase foi seduzida, ainda em Orgulho & Preconceito, Lydia tinha a mesma idade quando foge com Wickham. A mocinha de Razão & Sensibilidade, Elisa, era tutelada pelo Coronel Brandon. Sim, todo mundo encontra todo mundo nessa história de Jane Austen. Lembro que na época da minissérie, Dominic Cooper estava em alta e era escalado para quase tudo de série da BBC, passando por Mamma Mia até filme da Marvel. Não gosto dele no geral, nessa versão de Razão & Sensibilidade, a linha de interpretação que ele adota deixa claro desde o primeiro instante que ele não presta. E há mais de uma cena em que ele afronta o Coronel Brandon, usando sua juventude para humilhar ridicularizando seu amor por Marianne.
Dominic Cooper estava na moda na época.
Na cena em que ele leva a jovem até a casa vazia de sua tia, a residência que ele acreditava que iria herdar, ele consegue entregar uma excelente interpretação com as nuances necessárias para evidenciar ele poderia fazer com moça o que ele fizera com Elisa, mas que, por amá-la de verdade, ele iria se conter. Isso não o torna um homem melhor, mas o coloca um degrau acima de Wickham de Orgulho & Preconceito, que não tinha remorso algum, nem demonstrava qualquer sentimento pelas mulheres que usava. Falando de Marianne, Charity Wakefield não me convence muito como adolescente, ela começa a história com 16 anos, mas é perfeita como a moça sonhadora, fútil e cabeça de vento. A construção do seu romance escandaloso com Willoughby ficou bem caracterizada, Marianne não consegue ver que, em nome do amor, está comprometendo a sua reputação. E, claro, falta-lhe uma responsável que cumpra a sua função, a Sr.ª Dashwood parece tão encantada por Willoughby quanto a filha.
Willoughby troca o amor de Marianne por uma noiva rica.
Lá pelas tantas da série temos inclusive uma cena na qual Fanny, a cunhada-vilã comenta com o marido e o irmão-feio, Robert (Leo Bill), que Marianne é "damage goods". Em gíria brasileira de antigamente seria o mesmo que dizer que "ela tinha se perdido" e ninguém iria querer se casar com ela. Fanny nessa série não me impressiona tanto quanto a do filme, mas eu continuo defendendo que ela é uma das poucas personagens mulheres de Jane Austen que merecem o rótulo de vilã. Ela é cruel, perversa, e tem prazer em humilhar a sogra e as irmãs do marido. Já Robert parece que é de lei pegarem um ator feio, ou o enfeiarem, para se encaixar no papel. Já que falamos de Robert, vamos para o irmão, Edward Ferrars. Não sou fã de Dan Stevens, o vejo como um ator mediano, inclusive, em Downton Abbey, sempre considerei que Lady Mary era areia demais para o caminhãozinho dele. Agora, nessa minissérie, ele me convence bastante como Edward, porque a personagem é introspectiva e exige muito menos dele, eu diria. Stevens, que tem olhos muito expressivos, realmente consegue passar toda a angustia de não poder contar o que vai dentro de seu coração, os segredos que guarda, parece embaraçado e, ao mesmo tempo, consegue ser crível quando tenta corrigir o mau comportamento de Fanny. Lá do jeito dele, claro.
Dan Stevens estava muito bonitinho nessa série.
Diferentemente do filme, Stevens estava mais próximo da idade da personagem do que Hugh Grant e como Edward Ferras era o sujeito tutelado pela mãe, para que não ficasse muito feio para ele, sua juventude precisava ser preservada. A personagem tem 23 quando começa o livro, o ator tinha 25, ou 26 anos, e ficou perfeito. E ele e Hattie Morahan, que vão se encontrar novamente em A Bela e a Fera, combinaram bem. Os dois não podem falar abertamente de seus sentimentos, ele a ama, mas está comprometido com outra moça e ela, bem, acabou sendo feita guardiã do segredo dos dois pela própria noiva do rapaz. A sequência da visita de Edward às Daswood é exemplar, ainda que, no livro, ele passe uma semana com elas (*o que me faz perguntar onde ele estava dormindo em uma casa tão pequena*), na série, ela dura pouco mais de 24 horas. Eu realmente acredito que Dan Stevens é o único caso em que a série supera o filme de 1995. E ele consegue passar todo o sentimento necessário com os olhos, assim como Morahan o faz.
Quando eles se entendem, a felicidade dos dois fica muito clara na tela.
Hattie Morahan está muito bem como Elinor, ainda que ela não pareça carregar o peso do mundo em silêncio como Emma Thompson. Mas comparar Morahan com Thompson não é justo, uma tinha muito mais experiência que a outra e escreveu o roteiro do filme em que interpreta a mocinha. Estabelecido isso, Morahan encarna de forma sincera a sua Elinor. Ela, apesar de ser bem mais velha, me convence mais como uma moça de 19 anos do que Charity Wakefield como uma de 16. E Elinor me parece um papel mais difícil, porque ele é todo construído sobre uma imensa restrição emocional, silêncios, olhares. Elinor é o elemento racional de sua família e tem que agir com uma responsabilidade que deixaria qualquer um exaurido. Revendo e relendo Razão & Sensibilidade, acredito que é a heroína de Jane Austen com quem mais tenho em comum e, bem, não sei se isso é realmente bom. Se já não fosse o suficiente, essa situação com Edward, ainda aparece a terrível Lucy Steele para rondá-la, trazendo como bônus sua irmã menos inteligente, Anne Steele (Daisy Haggard). No filme de 1995, a personagem foi tirada da história.
As irmãs Steele.
Elinor de 2008 parece mais emocional, mas não menos crível e a sequência em que finalmente Edward se declara é muito boa, mesmo que sua reação não seja a de uma represa estourando como foi com Emma Thompson em 1995. A atriz também se sai bem nas cenas com David Morrissey e Dominic Cooper, quando ele tenta ver a convalescente Marianne. A sequência existe no livro, mas foi cortada do filme de 1995. Elinor não engole o discurso arrependido de Willoughby em relação à Marianne, mas aproveitando para culpar a esposa rica por seus infortúnios. Curiosamente, a série não cita Combe Magna, que era a propriedade herdada pelo rapaz. Willoughby no livro tem bens próprios, não é como Wickham, que era um agregado da família se Darcy. O problema do rapaz é que ele simplesmente gasta mais do que deveria e contava com a herança da tia velha, que exige que ele dê reparação para a tutelada do Coronel Brandon, o que ele recusa. Não era sua intenção casar-se com uma moça que não tinha nada mais a lhe oferecer e que ele sequer amava.
David Morrissey está bem como o Coronel Brandon, mas, bem, Alan Rickman é insuperável.
Falando do Coronel Brandon, a interpretação de David Morrissey, outro que estava sendo escalado para todo galã de meia idade em série da BBC, vai em uma linha bem diferente da de Alan Rickman. No filme, Rickman parece sempre melancólico e tem um olhar expressivo, carregado de tristeza e dor, fruto do conhecimento do quanto o mundo era ruim. Ele parece amar Marianne sem acreditar de fato que ela poderá demonstrar sentimentos por ele. Na série, Morrissey mostra alguma esperança desde o início e Sir John o aconselha a esperar, porque, bem, depois de se frustrar comWilloughby, Marianne estará mais sábia e disposta a aceitá-lo. Nada romântico, mas realista. Nesta série há uma fala em que Marianne se refere a ele como um velho de 35 anos, no que sua mãe reage dizendo que tem 40 anos e não se sente velha. Isso está no livro, e Marianne e Margaret dizem que ele está "do lado errado dos 30 anos", ou seja, ele parecia mais velho do que era. O fato é que o casamento de uma adolescente com um homem 15, 20 anos mais velho não era um escândalo para a época e mesmo hoje parece não incomodar tanto assim. Mas as personagens parecem ver mais futuro para Elinor e o Coronel, dada a personalidade da moça. E, bem, as Dashwood com seus minguadíssimo dotes, não podem escolher muito.
O olhar de David Morrissey nessa cena é pura raiva. E, sim, era o que o Coronel sentia por Willoughby.
Voltando ao Coronel, ele não parece triste, mas contido, um homem de 35 anos, que parecia ter mais idade por ter levado uma vida difícil, mas que mantém seu bom coração. Ele também parece obstinado, seja em conseguir sua vingança, ou parte dela, contra Willoughby, ou, mais lá no final, em conquistar Marianne. Há uma cena de duelo com Willoughby, que confesso que eu adoro, mas se ele embolachasse o sujeito, e o olhar de Morrissey é bem terrível quando o rapaz o ofende, me daria mais prazer, ainda que fugindo muito do original. A outra cena chave é quando o Coronel Brandon encontra Marianne desmaiada na chuva. A sequência no livro é diferente e a série inspirou-se no filme de 1995. Eu vou reclamar? Não. Deu certo no filme e continua ótimo na série. Morrissey não é Alan Rickman, mas fica bom do mesmo jeito. E há a parte em que o Coronel, desesperado, coloca Marianne sobre a cama e já começa a tirar a roupa molhada da moça para dar-se por si sob o olhar de Elinor de que, bem, ele já tinha feito a sua parte. Eu acho uma das melhores sequências da série, porque mostra o quão desesperado ele estava para salvar a vida da moça. Agora, por comparação, o final do Coronel e de Marianne no filme supera e muito a série e não somente por causa da cena final do casamento e as moedinhas jogadas no ar.
Marianne passa a frequentar a casa do Coronel e vai sozinha.
Marianne já estava mal falada e ficar indo visitar o Coronel em sua casa para tocar piano e ler livros não iria tornar sua reputação melhor. Seria mais adequado, como no filme, que ele fosse até a casa dela, ou que ela tivesse alguém consigo quando fosse visitá-lo. Margaret estava ali para isso, não é mesmo? Mas, assim como no filme, me parece que Marianne consegue amar o Coronel Brandon. Falando da cena final de Elinor e Edward, ela é compreensível dada a personalidade dos dois, mas poderiam ter feito melhor do que colocar o moço correndo atrás de galinhas. E, não, nada disso torna a série ruim, mas acredito que dava para fazer uns reparos aqui e ali. Agora, algo que realmente é inferior na série e foi por falta de vontade e, não, de tempo, é a apresentação dos Palmer. comparado com o filme com Imelda Staunton e Hugh Laurie em cenas muito divertidas, ou que faziam sentido na história, Tim McMullan e Tabitha Wady são indigentes. Eles não tem bons diálogos, eles não tem o que fazer em cena. E, no livro, Mr. Palmer é atencioso com as Dashwood, ainda que trate mal a esposa, nessa série, nem isso.
Linda Bassett está muito bem como Sr.ª Jennings.
Já terminando, Linda Bassett está muito bem como a Sr.ª Jenning, sempre bem humorada e alcoviteira. Já Rosanna Lavelle, a Lady Middleton, que no filme de 1995 foi eliminada, parece estar meio drogada o tempo inteiro. E de cabelo solto, ou meio descabelada, não sei, fica parecendo que ela vive meio que alienada da realidade com tantos filhos ao seu redor. Não chega a fazer diferença na série a sua presença, ela meio que compõe o fundo, mas lembra um pouco a Lady Bertram de Mansfield Park 1983. Acho a fotografia da série muito bonita, a paleta de cores, os enquadramentos. é muito agradável assistir essa versão de Razão & Sensibilidade. E o figurino me parece de qualidade, também. Os vestidos reutilizados, porque as Dashwoods não são ricas. O requinte de Fanny, sua mãe e a noiva de Willoughby. Marianne de cabelo solto durante seu relacionamento com o rapaz, representando, pelo menos para mim, uma espécie de afronta às convenções sociais. Nesse caso, faz sentido. Depois, quando vem a decepção, a moça se apresenta não só com os cabelos presos, mas, também, com roupas em tons mais escuros. Prestem atenção.
Marianne tem tempo, mas não tem recursos para conseguir um bom casamento.
As questões de gênero são discutidas enlaçadas com a história. A vulnerabilidade das mulheres em uma sociedade em que impera uma dupla moral. A impossibilidade de ganhar seu próprio sustento por não terem formação e por ser, pelo menos para a classe das moças (*a gentry*), um escândalo trabalhar. E nessa série, a promessa feita por John acontece na frente das irmãs e da madrasta, o que torna a infâmia dele e de sua esposa ainda pior. Ele jura dar-lhes um tratamento justo e as empurra para uma situação econômica precária. Na maioria das vezes, a insatisfação aberta com as limitações impostas às mulheres vem da boca de Margaret que ainda não aprendeu que "o mundo é assim" e questiona as convenções. Sim, Marianne não é questionadora de papéis de gênero, ela é alguém totalmente assujeitada ao dispositivo amoroso e, por isso mesmo, mais refém das armadilhas dessa sociedade.
Lucy Boynton está muito bem como Margaret.
A questão das limitações impostas aos homens não parece tão desenhada na série quanto é no livro e no filme de 1995. O Coronel Brandon é o caçula, foi privado da mulher que amou em sua juventude em favor do irmão mais velho. A moça foi infeliz e ele mandado para o exército pelo pai. Um filho mais novo herda muito pouco, mas pode tirar "a sorte grande" com a morte do mais velho, ou, no caso de Robert Ferrars, o irmão caçula e feio de Edward, caso o irmão caia em desgraça com a mãe. Agora, a situação de Edward aparece de forma menos dramática na série, ainda que esteja lá, com direito a mãe e tudo mais, do que no filme. Eu queri entender mais das leis inglesas da época para entender como a mãe pode deserdá-lo, ainda que, no livro, fique claro que ele mesmo assim tem direito a uma parte da herança. É pouco, mas é dele, a mãe não pode tirar-lhe isso.
Marianne de cabelos soltos faz sentido dentro da série.
É isso. Estou com essa resenha sendo escrita faz mais de uma semana. Não sei se por cansaço, ou preguiça, ficava enrolando e enrolando. Comparando o filme de 1995 e a série de 2008, voto pelo filme. Emma Thompson e Alan Rickman são imbatíveis em suas interpretações. O Willoughby de Greg Wise me parece superior, também, é menos evidente que ele é um canalha, ainda que saibamos que é, porque conhecemos a história. Claro, pode ser implicância minha com o Dominic Cooper, porque não gosto mesmo do ator. Os Palmer são indiscutivelmente melhores no filme. A mãe das moças, talvez esteja melhor na série. As duas Margarets são perfeitas e se equivalem. Agora, superior mesmo, e não por culpa de Hugh Grant, mas porque o papel pedia alguém mais jovem mesmo e Dan Stevens fez um trabalho competente. Não sei se vou assistir as minisséries anteriores, mas estão no meu HD. Não sei se reassisto os dois (*ou três*) Persuasão, ou os dois últimos filmes de Mansfield Park, ou se termino de resenhar os Jane Eyre que me faltam, 1983 e 2006.
Sempre tive dúvidas sobre a herança do Edward e depois de pesquisar muito descobri o seguinte: no caso, a herança era da família da mãe, que estava na posse total de seus bens por ser viúva. Se a fortuna viesse do pai, ou títulos e propriedades vinculados a esses, ela não poderia deserdá-lo disso. Por isso, apenas viúvas (como a sra Ferrars) e herdeiras solteiras maiores de idade (como Mary Crawford de Mansfield Park) eram as únicas mulheres daquela sociedade que, quando ricas, tinham algum poder sobre suas vidas.
Aí é que está, você acredita que alguém como a Sr.ª Ferrars tivesse casado com um homem que não fosse um landlord? No livro, Edward tem direito a receber dinheiro, isso ela não pode tirar dele, mas é pouco. Uma mulher orgulhosa como ela iria se casar com um homem pobre? Essa é a minha dúvida. Acredito que tem mais complicações aí, ou ela casou com um pé-rapado.
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Sempre tive dúvidas sobre a herança do Edward e depois de pesquisar muito descobri o seguinte: no caso, a herança era da família da mãe, que estava na posse total de seus bens por ser viúva. Se a fortuna viesse do pai, ou títulos e propriedades vinculados a esses, ela não poderia deserdá-lo disso. Por isso, apenas viúvas (como a sra Ferrars) e herdeiras solteiras maiores de idade (como Mary Crawford de Mansfield Park) eram as únicas mulheres daquela sociedade que, quando ricas, tinham algum poder sobre suas vidas.
Aí é que está, você acredita que alguém como a Sr.ª Ferrars tivesse casado com um homem que não fosse um landlord? No livro, Edward tem direito a receber dinheiro, isso ela não pode tirar dele, mas é pouco. Uma mulher orgulhosa como ela iria se casar com um homem pobre? Essa é a minha dúvida. Acredito que tem mais complicações aí, ou ela casou com um pé-rapado.
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