domingo, 8 de março de 2020

E vamos comemorar o 8 de março! 💞


Sei que as pessoas esperam um post de 8 de de março, eu realmente fugi o dia inteiro de ter que fazê-lo.  Curiosamente, as coisas andam tão tristes que até aqueles "parabéns" vazios parecem meio fora de moda.  Acho que só recebi uns dois e ninguém ficou bombardeando o Facebook com essas bobagens.  Estamos, na verdade, vivendo tempos sombrios, tristes mesmo, nos quais os direitos das mulheres, algo obtido pela luta de gerações de nossas ancestrais, está nos sendo roubado.  Querem exemplos?  Vou pegar somente notícias de hoje.

"Sem licença e com boletos, mães de SP passam a deixar bebês de 1 mês na creche".  Tente imaginar o quanto de retrocesso estamos vivendo para que mulheres submetidas à informalidade, que alguns perversos, idiotas, ou cínicos ousam chamar de "empreendedorismo", precisam deixar seus bebês de recém-nascidos em creches.  Elas precisam trabalhar, elas não tem como ficar sequer o mínimo, quatro meses cuidando de seus bebês e se recuperando da gravidez e do partos, elas precisam voltar a trabalhar.  A situação de vulnerabilidade dessas mulheres é imensa, mas é para comemorar, estamos ficando cada vez mais parecidos com os Estados Unidos.

Lindo, não?
Como uma amiga psicóloga comentou, isso terá um custo futuro, pois os vínculos emocionais construídos nessa fase da vida são importantes para o desenvolvimento de uma personalidade saudável.  Fora, claro, as perdas com a amamentação e outras.  É uma violência contra mãe e filhos, mas vá perguntar aos defensores da família o que eles acham, especialmente, os que chegaram ao poder.  Eles talvez joguem a culpa na mãe, que não está em casa, que não tem marido provedor, ou o que seja.  Como disse a nova secretária da cultura, "as mulheres precisam dedicar mais temo às crianças". E morrem todos de fome, claro.

Daí, e foi isso que me impulsionou a escrever o texto, vem outra notícia na minha TL do Facebook, "Jovem estuprada ainda é demitida e família alega que a CSN, em cuja usina teria ocorrido o crime, não prestou assistência à vítima".  Moça de 21 anos, que poderia ser minha filha, afinal, eu tenho 44 anos, é estuprada pelo chefe imediato dentro da empresa.  O sujeito é preso em fragrante, a moça fica traumatizada e entra em licença médica.  Quando voltou ao trabalho, foi demitida.  A empresa diz que acabou o contrato dela.  Normal, capitalismo, não é mesmo?  Demitida, ela perde o plano de saúde e os especialistas que a estavam atendendo, para piorar, está recebendo ligações anônimas.

Tudo é uma questão de esforço.
Continuando, encontro outra notícia, "Presença feminina é tímida no comando de juventude de partidos e grupos estudantis".  As mulheres são sub-representadas em sindicatos, partidos e mesmo nas organizações estudantis.  As formas de exclusão são variadas, por exemplo, não oferecer creche em eventos sindicais, ou partidários, dificulta a vida das mulheres.  Mas eis que a matéria fala cita a defesa do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), à presença das mulheres “As mulheres têm aquilo que nós, homens, não temos. Elas têm de sobra a sensibilidade e isso é essencial para cuidar do povo, dos mais simples, dos desvalidos".  

Sim, as mulheres precisam estar nesses espaços, porque elas sabem como servir ao próximo,  é da sua natureza, afinal.  Daí, vocês imaginam como uma mulher que não esteja lá para esbanjar sua sensibilidade para agradar os homens carentes e sua disposição para cuidar do próximo será vista.  Esses preconceitos baseados em representações de gênero, isto é, os papéis atribuídos a homens e mulheres, nos oprimem e impedem de desenvolver nossas potencialidades e não estou falando somente das mulheres, mas dos homens, também.

Se está apanhando, mereceu.
Para fechar essa parte triste, uma pesquisa da ONU detectou que 90% da população mundial tem algum preconceito contra as mulheres.  Em países como a Índia, por exemplo, a taxa ultrapassa 90%.  No Brasil é de 89,5%.  Estamos bem, não é mesmo?  A pesquisa foi feita em 75 países de todos os continentes, uma amostragem ampla.  Por exemplo, 28% dos entrevistados consideram justificado bater na esposa, e metade acha que líderes políticos masculinos são melhores, mais de 40% acham que os homens são melhores diretores de empresas.  Volte agora para a notícia acima sobre as lideranças femininas nos movimentos estudantis.  

O pior dessa pesquisa é que ela já tinha sido feita antes e (*Surpresa!*) constatou-se os preconceitos contra as mulheres aumentaram.  Em média, a proporção de pessoas com uma distorção moderada ou alta (dois preconceitos ou mais) cresceu de 57% a 60% entre as mulheres e de 70% a 71% entre os homens do período 2005-2009 a 2010-2014.  Sim, não há evolução quando se trata de luta por igualdade, é preciso eterna vigilância.

Quantos órfãos a mais?
Não vou persistir citando feminicídios e tudo mais.  Há muitos casos, claro, mas peço que leiam a matéria "Os órfãos do feminicídio".  Segue um trecho: "(...)  Fórum Brasileiro de Segurança Pública projetou que, todo ano, os feminicídios deixam mais de 2 mil órfãos no país. A estimativa é baseada na quantidade de vítimas registradas em 2018, último ano com dados fechados, quando 1.206 mulheres foram mortas por serem mulheres — seja no contexto de violência doméstica, seja pelo menosprezo à condição de gênero, conforme define a lei que criou o feminicídio como circunstância qualificadora do homicídio."

Agora, pense que, no ano passado, praticamente nada foi mandado para o programa de prevenção e apoio às mulheres vítimas de violência e que, no início desse mês, o presidente defendeu a redução de tais verbas, pois é preciso mudar os comportamentos.  É que mais mulheres sejam mortas, o que já está acontecendo, e crianças fiquem órfãs.  E viva a família!  Afinal, o mais importante é investir em programas de abstinência sexual e, não, em educação que possibilite criar uma nova geração que abomine a violência de gênero e os preconceitos contra as mulheres que justificam toda sorte de violência.

E há as mulheres que perderam tudo, ou nada tiveram,
elas tem cor e são invisíveis. Mas, sabe como é,
pobre só é pobre, porque quer.
Não, não vejo motivo de comemoração, temos é que cerrar as fileiras e defender o que temos para que nada mais nos seja tirado, porque há projetos para isso e não são poucos.  Logo abaixo, o vídeo que o Google fez para o 8 de março.  É bonitinho, não é para torturar ninguém.


2 pessoas comentaram:

"Mas, sabe como é,
pobre só é pobre, porque quer."

na visão dos que defendem o sistema politico e economico brasileiro...
é verdade essa frase...
agora.... se for pobre na China e na Coreia do Norte...
Aí é culpa somente do governo !

(eis a hipocrisia dos "cidadãos de bem")

A cereja do bolo nesse 8 de março eu diria que é o impedimento a entrada de novos beneficiários no Bolsa Família. Ano passado os pedidos dispararam afinal o número de pessoas em situação de miséria só aumenta mas muitos relatam que seus pedidos não vem sendo atentidos e há relatos de pessoas sendo desligadas do programa sem aviso. E isso é especialmente danoso a mulheres, que cada vez mais se tornam as chefes das famílias, em geral por falta de opção, afinal só resta a elas ser a chefe da família quando o pai das crianças foge de assumir os filhos e a mulher é a única responsável pelas crianças. As mulheres são as maiores afetadas pela pobreza e a crise do Bolsa Família é especialmente danoso a elas. Uma tristeza. Mas o que esperar de um governo que bota uma porta voz do machismo como Minstra das Mulheres?

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