Nunca li nada de Claire Bretécher, mas minha amiga Natania, que estuda mulheres quadrinistas francesas, já tinha me falado dessa autora. Bretécher se tornou quadrinista em um momento no qual as mulheres nessa profissão eram rara em seu país e ela foi pioneira em muitas redações. Ela ficou conhecida por discutir questões de gênero e satirizar a sociedade patriarcal, entre outras tantas coisas que seus quadrinhos enfocavam.
Nascida em Nantes, largou a faculdade e se entregou ao seu grande amor, os quadrinhos, antes deles terem o status que adquiriram na França. Depois de conhecer René Goscinny, um dos criadores de Asterix, em 1963, recebeu uma oportunidade de desenhar o quadrinho Le Facteur Rhésus, roteirizado por ele, para a revista Os à Moelle. Durante os anos 1960 ela trabalhou para todas as revistas em quadrinhos importantes que publicavam em francês, Tintin, Spirou e Pilote, talvez a única mulher a conseguir isso. Nesses anos complicados, ela complementava a sua renda trabalhando como babá.
Cellulite. |
Seu primeiro grande trabalho foi "Cellulite", em 1969, publicado na revista Pilote. A protagonista era uma princesa medieval liberada e em conexão com as discussões da França contemporânea. “Les Frustrés”, sobre as frustrações de membros da classe média, foi seu segundo grande sucesso, em 1970. Em 1972, juntou-se a Marcel Gotlib e Nikita Mandryka para o passo mais arriscado da sua carreira, a criação de uma nova revista, com um humor adulto, a L'Écho des Savanes.
Seu maior sucesso, no entanto, foi "Agrippine", lançado em 1988. A série girava em torno de uma jovem fútil que era fruto dos amores de seus pais nas barricadas estudantis de maio de 1968. Bretécher foi um dos autores que ajudou a consolidar os quadrinhos franceses como uma arte e indústria que não deveria ficar somente associados às crianças. Em 1976, o filósofo Roland Barthes saudou Bretécher como “a melhor socióloga do ano” e ela riu disso em seus quadrinhos, claro.
Agrippine. |
Um dos maiores prêmios que Bretécher recebeu foi o grande prêmio especial no Festival de Angoulême, em 1982. Ela já tinha sido premiada no festival em 1975, mas não com o grand prix e voltou a ser lembrada em 1999. O falecimento da quadrinista foi comunicado ontem pela sua editora, a Dargaud. Preciso procurar alguma coisa dela para ler.
4 pessoas comentaram:
Li um comentário de Pedro Bouça sobre a "Pilote" (revista que Bretecher trabalhou).
"Muitos autores saíram da Pilote nos anos 70 para criar suas próprias revistas, mais adultas, como a Fluide Glacial, a L'Echo des Savanes e a famosa Metal Hurlant. Isso gerou uma grande pressão para "adultizar" a Pilote, que acabou derrubando Goscinny em 1974. A revista mudou para mensal e começou a publicar material mais adulto. Mas a febre dos quadrinhos adultos passou após a década de 70 e a revista entrou em decadência. Chegou a fundir-se com a Charlie, outra célebre revista em quadrinhos francesa para o público mais maduro, mas acabou cancelada em 1989."
Pesquisei algo interessante. A revista "Pilote" foi criada por belgas e franceses(que fizeram carreira na Bélgica). Isso porque a Bélgica era a "Meca" da BD na época.
Algo bem contrastante. A BD histórica é mais patriarcal que o Mangá. Bretecher foi praticamente a única autora nas 3 revistas históricas de BD.... Tintin, Spirou e Pilote. (curioso que jamais surgiu uma "Bretecher" belga...)
E no Japão várias autoras começando a se destacar na mesma época de Bretecher. (anos 60).
Paradoxalmente o Japão é considerado mais machista que França e Bélgica.
As pessoas realmente são muito iludidas a respeito da França...
Achei 1 matéria escrita por 1 francês explicando a popularidade do mangá no país dele... e queda de popularidade das revistas spirou, tintin e pilote.
https://www.cairn-int.info/article-E_ESPRI_346_0042--why-has-manga-become-a-global-cultural.htm
Fato curioso...
trecho de France Today
https://www.francetoday.com/culture/art_and_design/the_ninth_art/
"When talking about the Franco-Belgian comics scene, historically France is the junior partner, says De Graeve, and even today Belgium, with some 800 BD artists, has more per capita than practically anywhere else in the world. “For a country of only 10 million inhabitants,” says De Graeve, “that’s a big number.”"
(De Graeve aparece nessa entrevista ! https://youtu.be/lyYKmuxuUgI)
até esse site francês reconhece o protagonismo belga .
https://www.franceculture.fr/bd/pourquoi-bd-rime-avec-belgique
1 vez visitei a biblioteca da Aliança Francesa pra ler BDs. A maioria eram belgas.
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