Está para sair um filme, na verdade, dois, sobre o caso Richthofen. Para quem não lembra, trata-se do assassinato do casal Manfred Albert e Marísia von Richthofen, pelos irmãos Daniel e Cristian Cravinhos a mando e com a participação da filha de ambos, Suzane, em 2002. Todo mundo foi preso, condenado, estão cumprindo suas respectivas penas dentro daquilo que a jurisprudência do país determina, mas, no caso de Suzane, ela se tornou uma espécie de subcelebridade loura do mal que volta e meia está na imprensa do país. Aliás, olhem só o cartaz. O olhar neutro do moço e a expressão sinistra da Carla Dias, mas, enfim, discutir a representação feminina no cartaz não é o objetivo do texto.
Serão dois filmes lançados sobre o caso e, segundo os produtores, "É um caso único no cinema essa produção da mesma história com olhares diferentes (...) É uma oportunidade de o público analisar e chegar às suas próprias conclusões sobre o que aconteceu". Como tudo vira barraco de internet e nem sempre eu vejo as coisas no momento em que elas acontecem, apareceu esse texto do UOL na minha TL com o título de "Por que filme sobre Richthofen é absurdo e os de serial killers gringos são aclamados?". Li e achei bem rasinho de todo e partindo de uma premissa equivocada. Exatamente por isso, trouxe o que eu escrevi no Facebook para cá.
A polícia resolveu rapidamente o caso. |
Primeira coisa, Richthofen não é serial killer, não sei se ela tem algum diagnóstico de psicopatia, não sou do ramo e não vou opinar, mas serial killer, não é. Trata-se de uma criminosa comum que pode estar solta a qualquer momento e sendo chamada para dar entrevista na Rede TV e outros ralos da televisão, rádio, Youtube. Mesmo que os produtores do filme afirmem que os criminosos não receberão nenhum centavo direto pelo filme, esse lucro pode ser obtido por outras vias.
Que isso quer dizer? Um filme sobre ela, ou sobre o goleiro Bruno (*e estão planejando uma minissérie*), poderia ajudá-los a ficar ainda mais famosos, ganharem dinheiro com sua imagem e presença. Podem fazer, eu não tenho como impedir, nem tentaria, não é disso que eu estou falando. Agora, não me venha com esse papo enviesado misturando elefantes om coalas para tentar impôr um ponto de vista. Sim, é muito comum que nos Estados Unidos tenhamos produções sobre crimes de grande impacto e seus perpetradores, mas temos, também, uma legislação que pune de forma muito mais severa os mesmos. Na maioria dos casos, os retratados nessas produções, os criminosos reais, digo, ou estão presos, ou estão mortos. Dificilmente, poderão se projetar de alguma forma graças ao material produzido sobre eles.
Uma família perfeita. |
Sobre no Brasil não termos "apreço" pelos nossos próprios serial killers, tivemos uma série muito boa e de sucesso sobre um psicopata serial killer, As Noivas de Copacabana. Recomendo. De resto, se as pessoas querem mais filmes e séries sobre serial killers brasileiros reais, ou ficcionais, que façam campanhas. Agora, salvo se matar pai e mãe contar por dez, Suzane não entra nesse grupo.
Não escrevi esse post para ser apologista da censura, mas por me sentir aviltada por argumentos ridículos para tentar calar quem critica alguma coisa. Eu não pretendo assistir nenhum dos dois filmes sobre os Richthofen, eles podem existir no meu mundo e, ainda assim, eu acreditar que quem produz audiovisual no país poderia investir e se esforçar mais para trazer para a tela grande vidas de pessoas que contribuíram, ou tentaram, para fazer diferença positiva por aqui. Exemplo?
Dorothy Stang. |
Dia 12 de fevereiro, faz 15 anos do assassinato da missionária Dorothy Stang por grileiros no Pará. Este seria um momento ideal para falar da violência no campo e contar a história dessa mulher em uma grande produção nacional (*parece que uma entidade católica produziu um filme em 2016, o trailer está abaixo*). Mas se preferem Richthofen, Bruno e outros, que seja. Meu único protesto é esse, não assistir e pontuar que há mais gente merecedora de atenção, de ser lembrada, enfim.
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