Quinta-feira, assisti ao filme Pride & Prejudice: Atlanta, uma versão atualizada de Orgulho & Preconceito de Jane Austen com um elenco totalmente negro. Trata-se de uma produção da Lifetime para a TV e acredito que esteja disponível em streaming no Amazon. A adaptação modernizada é dirigida por uma mulher, Rhonda Baraka, e assim como outras baseadas em Jane Austen, tem altos e baixos, mas consegue ser interessante e divertida boa parte do tempo.
Atlanta, 2019, o Reverendo Bennet (Reginald VelJohnson), pastor da mais importante igreja batista da cidade, tem cinco filhas solteiras e uma esposa disposta a casá-las a todo custo. Um jovem rico chamado Bingley (Brad James) chega à cidade e acaba entrando no radar da Sr.ª Bennet (Jackée Harry), o moço é rico, solteiro e frequenta a igreja. Tudo perfeito! Bingley termina por se interessar pela mais velha das moças, Jane (Raney Branch), uma jovem viúva recatada e gentil.
Sabe aquela parte em que Darcy fala que Lizzie não é tão bonita para tentá-lo? Pois é... O mais alto é o vilão espetacularmente bonito. |
Enquanto isso, chega à Atlanta o Reverendo Stevie Collins (Carl Anthony Payne II), ex-aluno do pai das moças e disposto a se casar com uma de suas filhas. Collins está ajudando na campanha de Darcy à mando da tia poderosa do rapaz. A promessa de Catherine Darcy (Victoria Rowell), caso o sobrinho tenha sucesso, é que Collins assumirá a igreja pastoreada pelo Reverendo Bennet como prêmio.
Jane é bonita, recatada, religiosa e prendada. |
Não sei se resumi bem a história, mas Orgulho & Preconceito: Atlanta é um bom divertimento que não dura mais que 1h20min, muito pouco para que algumas questões sejam desenvolvidas. Por exemplo, pouco vemos de Kitty (Alexia Bailey), que é descrita como a filha fofoqueira e melhor informada (*sobre a vida alheia*) da família, e Mary (Brittney Level), uma espécie de nerd que ajuda na divulgação do livro da mãe. Sim, a Sr.ª Bennet, no filme, escreveu um guia sobre relacionamentos e casamento, mas como fazer propaganda do livro com cinco filhas sem marido?
Lydia procura namorado no Tinder e vive na bebedeira e na jogatina meio que escondida da família. |
Agora, o destaque do filme é o Sr. Collins. A composição da personagem dialoga bem com o original, pois é puxa-saco, mesquinho e ridículo, mas lhe dão novas cores, o desse filme é muito sonso e ambicioso. Quando ele chega na casa dos Bennet, é bem recebido pelo pai das moças, mas vem com uma história de que Deus lhe deu uma visão, que ele deveria se casar com uma de suas filhas (*de preferência Jane, a mais bonita e adequada para ser esposa de um pastor*) e assumir a igreja do sogro. A partir daí, a relação dele com o antigo professor, azeda.
O reverendo Collins garante boas risadas. |
Caroline (Keshia Knight Pulliam), irmã de Bingley, faz o gênero má, só que ao estilo patricinha moderna. Ela me lembrou mais as meninas nojentinhas de Hana Yori Dango (*e o filme me fez lembrar do mangá em vários momentos*) do que a esnobe irmã de Bingley do original. Caroline deseja Darcy, ela tem o apoio da tia do moço, Catherine, mas não há muito espaço para ela na história, também.
Esse terno é horrível. |
A relação entre Lizzie e Darcy deveria ser o ponto alto do filme, mas não me empolga tanto. Darcy é menos orgulhoso do que a média, ele só parece ser sério e ambicioso, algo fundamental para um político. Já a Lizzie tornada ativista de causas comunitárias, está mais disposta a agredir do que ouvir. Existe uma sugestão no filme de que ela foge do amor, que ela se doa demais para a comunidade (*esposa perfeita para um político em ascensão, não acham?*), mas não se aponta motivo para isso.
Lizzie e sua melhor amiga. |
Lembrei de Hana Yori Dango (*que tira parte de sua inspiração de Orgulho & Preconceito*) por conta do conflito, do choque de Lizzie com o ambiente super rico e chique dos moços, mas, também, de The Fresh Prince of Bellair, protagonizado por Will Smith. Como parei para olhar os primeiros episódios na Netflix no sábado, pude fazer a ponte de imediato.
Para os Bennet, o mundo dos Darcy e dos Bingley é muito luxuoso e embranquecido. |
O filme cria, mas não desenvolve bem, um vilão, Antwan Tippett Jr. (Timon Kyle Durrett), o especulador imobiliário. Ele arrasta um caminhão por Lizzie, que o odeia e despreza. O sujeito também mantém alguma relação com Darcy, seja por ser investidor de sua campanha, seja por terem negócios juntos. Para Lizzie, ambos são farinha do mesmo saco, mas, claro, não é bem assim...
Catherine planejou o futuro do sobrinho e não quer que Lizzie atrapalhe. |
Lydia engravida de Wikham e esconde da família. Quando a coisa é revelada, fica parecendo aos olhos da família que ela foi abandonada por ele, já a moça defende a tese de que nunca tiveram compromisso sério. Estabelece-se, então, uma conversa interessante entre a jovem, suas irmãs e a mãe que evidencia que o filme assume uma forte perspectiva cristã conservadora. E, não, esse não é o problema para mim.
As mulheres se apoiam nesse filme e isso é interessante, apesar da história enviesada de Lydia. |
Será que uma mulher, qualquer mulher, ainda mais com uma família tão amorosa, precisa se submeter a uma situação como essa? Casar para que seu filho tenha um pai? Ou é a imagem do pai pastor que está em jogo? Enfim, o fato é que Wikham não era o boy lixo do livro de Austen e ele quer assumir a responsabilidade sobre o filho e Lydia. Se a fala de Jane sobre o amor por seu marido e sua crença de que seu casamento foi feito no céu são bonitas, o desenlace da história de Lydia não é.
O Reverendo Bennet é um pai e marido amoroso. |
Voltando para Jane, uma das melhores cenas do filme, porque a atriz que faz a irmã mais velha dos Bennet é muito boa, é quando Jane chora o abandono de Bingley. É um momento de grande sensibilidade e sororidade, não entrarei em detalhes, mas é uma cena que permite que a atriz que faz Lizzie brilhe também. A gente quer que Jane seja feliz e Darcy está metido no rolo e isso azeda a relação dele com Lizzie ainda mais.
E tem casamento, claro! |
Concluindo, as melhores coisas do filme são o Sr. e a Sr.ª Bennet, o reverendo Collins e Jane. O homem mais bonito do filme é Timon Kyle Durrett, o vilão que não se assume como tal, nem tem espaço para disputar Lizzie com Darcy de forma consistente. Tiffany Hines não é uma Lizzie ruim, mas, assim como Juan Antonio, que faz Darcy, não é marcante. Acho que faltou um pouco de densidade ao filme e não é desculpa ser para a TV. Agora, ele é muito bom para refletir sobre o choque cultural entre os negros muito ricos e os demais, pois o abismo entre eles é grande.
2 pessoas comentaram:
E como e onde vc assistiu, nao acho de jeito nenhum
Achei um torrent com muita facilidade, baixei e assisti.
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