Lembro que quando foi lançado o mangá Erabareru Onna ni Onarinasai (選ばれる女におなりなさい) da mangá-ka Keito apareceram várias informações no Twitter, o traço é lindo, mas eu não sabia bem se era um mangá histórico, ou ficção e deixei de lado. Na verdade, trata-se de um mangá histórico até certo ponto, porque é baseado na autobiografia de Dewi Sukarno, que encontrou a mangá-ka e tirou fotos com ela. Mas quem é Dewi Sukarno?
O casal. |
Eu não sabia, também, mas ela é uma japonesa, nascida Naoko Nemoto, que conheceu o herói da independência e presidente-ditador da Indonésia em Tokyo, no ano de 1959. Ela tinha 19 anos, ele, 57. Daí vocês tiram que por mais conservado e bonito que ele pudesse ser, o raio shoujoficador fez um trabalho espetacular nele.
É isso que eu chamo de raio shoujoficador. |
A moça japonesa se casou com Sukarno, converteu-se ao Islã e se tornou uma de suas várias esposas. Sim, fui checar se a Indonésia tinha banido a poligamia e a reposta é "não". Sukarno foi um dos grandes líderes políticos de sua época, uma das mentes por trás da Conferência de Bandung, porém, obstruiu o quanto pode as reformas que poderiam aumentar os direitos das mulheres.
Rolou um raio shoujoficador na protagonista, também, claro. |
Até explicando, durante o processo de independência, a Indonésia foi o ponto de partida para a descolonização na Ásia, libertando-se dos japoneses (*ocupação*) e dos holandeses em 1945, o movimento de mulheres pressionou para que a poligamia fosse abolida. Fatmawati, terceira e, na época, única esposa de Sukarno, além disso, ativista política, apoiava a reforma na legislação de casamento instalando a monogamia. A Turquia poderia servir de modelo.
"Não irei depender de ninguém..." A decisão de uma menina de 4 anos. |
Sukarno, por desaforo, ou não, barrou a reforma na lei e ainda casou com mais duas mulheres, ainda que Fatmawati mantivesse seus status de primeira-dama. Ela chegou a abandonar o palácio presidencial, para grande consternação da sociedade, porque ela era amada, tinha desenhado inclusive a bandeira do país. Uma das jovens novas esposas foi divorciada e mandada para o exílio quando Sukarno ficou sabendo que ela demonstrara solidariedade para com Fatmawati e recebera representantes dos movimentos de mulheres.
O mangá conta a vida sofrida de Dewi Sukarno desde sua infância. |
Enfim, na Indonésia, maior país islâmico do mundo, em termos populacionais, é obrigatório que ambos os cônjuges tenham a mesma fé e o casamento religioso é obrigatório. O casamento islâmico tem validade de rito civil, também, os das demais religiões, não. Um muçulmano pode ter até quatro esposas, Sukarno casou-se nove vezes durante a vida, para se ter uma ideia, mas manteve somente quatro esposas simultaneamente. Em 2008, os movimentos de mulheres pressionaram mais uma vez por uma mudança na legislação, proibindo a poligamia, mas foram derrotadas mais uma vez. A poligamia é praticada também por não-muçulmanos no país, agora, provavelmente, independentemente da fé, a maioria da população deve viver em monogamia como na maioria dos países muçulmanos.
O amor da sua vida... |
Voltando para Dewi Sukarno, depois de viúva, ela foi morar na Europa. Ela é rica, é uma socialite e não vejo nada de relevante na biografia dela que me atraia. Sukarno se envolveu em vários escândalos, por exemplo, já quebrou um copo na cara de outra socialite, a neta do ex-presidente Sergio Osmeña, que tomou 37 pontos no rosto, pegou uma detenção de 34 dias por se recusar a cooperar com as autoridades norte americanas, mais tarde, fez um álbum para o mercado japonês com fotos seminua e mostrando suas tatuagens. Esse álbum foi proibido na Indonésia e considerado ofensivo. Lembrem-se que ela se tornou muçulmana e sua imagem estava ligada a do fundador do país.
A ilustração de propaganda tomou essa foto como modelo. |
Mas por qual motivo escrevi tudo isso? Fiquei curiosa para saber quem era a mulher achei o traço bonito. E morre aí. O mangá está em publicação na revista Be Love, parece que terá mais de um volume, mas não tenho certeza, e já tem scanlations. Enfim, a autora deve ter transformado o caso em uma grande história de amor.
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