Estou com esse texto pendurado aqui faz algum tempo, umas três semanas, acho, como já tinha sido começado, melhor terminá-lo. Pelo título, vocês já imaginam o que eu irei escrever, quando um livro é bom, ele sempre será revisitado e as novas produções tem a função de introduzir a obra original para novas gerações. A cada dez anos (*na média*) teremos um novo Jane Eyre, ou uma nova versão de Orgulho & Preconceito, por exemplo. É só esperar.
Jane Eyre 2006, uma das melhores versões, na minha opinião. |
No caso de Jane Eyre, assisti um monte de versões, há várias resenhas no site. Gosto muito de três, 1973, 1983 e 2006, a mais fiel ao livro é a mais antiga, mas meu coração derrete pela primeira adaptação a sair neste século, e que eu nunca comentei no Shoujo Café. Tenho um lugar no coração para a versão de 1970, a primeira que vi na vida, ainda criança, mas sei que ela tem muitos defeitos, ainda que seja superior em pelo menos um aspecto.
A mocinha de Sanditon e seu cabelo moderninho, mas absolutamente inadequado no início do século XIX. |
No caso das adaptações literárias, os padrões de beleza dos atores e atrizes acompanha muito mais os gostos da época em que o material foi produzido do que uma fidelidade com a época em que o livro original foi produzido. Keira Knightley não seria uma beldade na época de Jane Austen, sua magreza não seria um traço atraente, mas sua beleza estava absolutamente adequada ao gosto do ano de 2005. Algumas produções patinam na maquiagem, ou na necessidade de adaptar os vestuários para as audiências modernas. Cabelos então... Estou engasgada com a mocinha de Sanditon, a adaptação do livro inacabado de Jane Austen que está no ar agora, porque, bem, a mocinha vive de cabelo solto o tempo inteiro.
Não sei o que esperar dessa nova versão de Little Women. |
Como tenho três versões de Little Women no meu HD (1933, 1949, 1994), abri e fiquei assistindo especialmente o final do filme, quando o Professor Bhaer vai até a casa de Jo e temos os fragmentos de Under the Umbrella, o capítulo que mais gosto do livro. "I have nothing to give but my heart so full and these empty hands." (Bhaer) "They're not empty now"(Jo) ("Eu não tenho nada a oferecer a não ser este coração tão cheio e estas mãos vazias." "Não estão vazias agora".) Não perdoo a versão da BBC de 2017 por ter omitido esse trecho. De qualquer forma, vi uma moça comentando e dizendo que não se conformava da Jo ter se casado com Bhaer e não com Laurie. Ela só tinha assistido adaptações.
Little Women, 1978. |
Por exemplo, eu realmente não gosto da versão de Little Women de 1978, porque o Laurie empurra o avô. A personagem nunca faria isso, é algo totalmente contra o caráter de Laurie no livro e é uma cena bem brutal. Por outro lado, consigo relevar o Professor Bhaer oferecendo bebida alcoólica para Jo, algo que nunquinha ele faria no livro na versão de 1994. Só que esse detalhe não macula a personagem, ela não faria no livro, mas não é algo que aponte para uma falha de caráter como no caso do Laurie.
Colin Firth no filme de 1987, muito antes de interpretar Mr. Darcy. |
Nem sei qual o sentido desse texto, mas ele foi motivado por uma série de pequenos acontecimentos dessas últimas semanas. Meu segundo post sobre O Jardim Secreto, com o vídeo com a participação do Colin Firth na versão de 1987, fez alguém perguntar se o livro (*sim, tudo começa em um livro*) já tinha sido adaptado antes das versões dos anos 1980 e 1990. Olha, pouco tempo depois de ser lançado, O Jardim Secreto foi adaptado para o cinema, o livro é de 1911, o primeiro filme de 1919. Imagine o sucesso que a obra fez para que isso acontecesse. Foram inúmeras as adaptações para cinema (1919, 1949, 1993, 2020) e para a TV (1952, 1960, 1975, 1987, 1994), fora a série animada japonesa de 1991-92.
Eu apostaria que Jorge Amado é o autor mais adaptado da nossa literatura. |
De resto, escrevi um primeiro texto sobre Éramos Seis e pretendo escrever outro ainda esta semana. Deveria ter sido no domingo, mas me enrolei. De qualquer forma, li uns pedaços do livro e isso ajudará na hora de fazer o texto, como já escrevi aqui e no Twitter, eu estou gostando da novela, com algumas ressalvas. Curiosamente, comecei falando de livros escritos por mulheres, mas esses livros estão longe de serem os mais adaptados para cinema e TV. Fui procurar e encontrei uma lista com os 10 livros mais adaptados e, ao que parece, pegando todas as possíveis versões seja quanto à origem, ou quanto ao formato, o resultado é esse:
1. O Conto de Natal de Charles Dickens.
2. Os Miseráveis de Victor Hugo
3. Alice no País das Maravilhas de Lewis Carrol
4. Guerra e Paz de Leo Tolstoy
5. Oliver Twist de Charles Dickens
6. Os Três Mosqueteiros de Alexandre Dumas
7. Orgulho & Preconceito de Jane Austen
8. Sherlock Holmes de Arthur Conan Doyle
9. Drácula de Bram Stocker
10. Frankenstein de Mary Shelley
Holmes já foi interpretado por mais de 75 atores. |
Da mesma maneira, não consideraria filmes como Amor à Primeira Mordida (Love at First Bite) como adaptações de Drácula, o filme toma referências do livro, mas não é em nenhum momento uma tentativa de adaptação do mesmo. Drácula e Frankenstein foram usados e abusados pelo cinema, TV, animação etc. Não acredito que caiba colocar os livros de origem entre os mais adaptados. Simplesmente, é o uso das personagens, nem sempre respeitando as suas características originais. Aliás, na maioria das vezes, vide coisas como a série Hotel Transilvânia, que eu acho bem legal.
Já, já, falo da novela de novo. |
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