Ontem, a amiga Sam me mostrou esse artigo publicado em um jornal italiano para comemorar os 40 anos da série de TV da Rosa de Versalhes. O anime não fez o sucesso esperado no Japão, as razões são meio óbvias para mim, trata-se de uma releitura machista do original de Ikeda. Uma grande releitura, um anime com momentos impactantes, mas que não conseguiu cativar os fãs japoneses (*e a própria autora*), como impressionou os europeus.
Os italianos receberam o anime em 1982, no momento certo. Nós, no Brasil, não tivemos a mesma ventura. Temos a chance, agora, de ler o mangá (*estou devendo as outras resenhas, mas as farei*) e eu, como fã da série, tenho a esperança de ver uma nova animação da Rosa mais próxima do mangá, usando a trilha sonora da animação de 1979 e com a emoção e a força que algumas sequências do anime tem. O autor do texto lembrou de uma, o suicídio de Charlotte, eu tenho outra, a sequência do quadro, que é muito mais emocionante na animação.
Os tais espinhos azuis. |
Enfim, leiam o artigo. Mantive os negritos originais e fiz o mínimo de adaptações possíveis. Espero que a tradução tenha ficado decente.
Lady Oscar faz 40 anos, um hino atemporal ao amor doloroso
Em 1979, a série animada comovente que ensinou a Revolução Francesa a gerações de adolescentes foi lançada no Japão.
de Marco Zonetti
Oscar e André em sua única noite de amor. |
Le "rose di Versalhes" do título original são principalmente Oscar François, filha do General De Jarjayes, que decide criá-la como homem; Marie Antoinette, filha de Maria Teresa da Áustria e dada em casamento muito jovem ao Delfim [*herdeiro do trono francês*] que se tornará Luís XVI; Jeanne De Valois De La Motte, uma mulher nobre decadente que vive de golpes; Rosalie Lamorliere, protegida de Oscar e alguém que, historicamente, ajudará Maria Antonieta nos últimos dias de sua vida antes de ser guilhotinada.
Lady Oscar imediatamente se destaca dos outros desenhos pela sua aura de tragédia que o marca desde o início. Desde o primeiro episódio, na verdade, ambientado na França na segunda metade do século XVIII, conhecemos o triste destino de Maria Antonieta e do país que, alguns anos depois, será atingido pela tempestade revolucionária. Portanto, um manto sombrio pesa sobre toda a série, um verdadeiro hino ao amor doloroso, com seu quadrilátero de histórias sentimentais infelizes. Oscar ama o sueco Conte di Fersen, que, no entanto, está ligado por um amor impossível a Maria Antoniette, enquanto o fiel criado André é "amante rejeitado" por Oscar.
Ao desenrolar os infelizes amores dos quatro personagens principais, a França dá um passo todos os dias no caminho da ruína, e outras histórias se entrelaçam com o destino dos protagonistas: o de Jeanne De Valois, aventureira sem limites que envolverá Maria Antonieta no escândalo do "colar" para depois tirar a própria vida; a de Rosalie, que acaba se descobrindo filha ilegítima da condessa de Polignac, que atropelou a mãe adotiva da menina com uma carruagem, por causa de uma amarga reviravolta do destino; a do jovem advogado Bernard Chatelais, ligado a Maximilien de Robespierre, e que a noite se transforma no Cavaleiro Negro e que, acidentalmente, privará André da visão de um dos olhos o que desencadeia os nefastos eventos futuros; a do soldado idealista e corajoso da guarda Alain, que verá sua irmã Diane se enforcar porque foi recusada por um nobre no dia do casamento; a de Charlotte de Polignac, filha da condessa, que se joga de uma torre para escapar de um casamento com um velho libertino imposto a ela por sua mãe, e assim por diante.
O suicídio da pequena Charlotte marca a virada na série. Enquanto a primeira parte é mais leve e caracterizada por desenhos mais "infantis", e principalmente monopolizada pela guerra fria entre Maria Antoniette e a condessa Du Barry, favorita de Luís XV, após a trágica morte do jovem Polignac, os tons dos episódios se tornam mais funestos, mais sombrios, mais escuros, e os desenhos se tornam mais maduros, mais angulares, mais góticos, acompanhados por uma trilha sonora admirável que combina muito bem as imagens mais austeras.
Pequena joia: a abertura representa Oscar aprisionada por uma roseira com os espinhos azuis (ou a vida masculina que foi imposta pelo pai general), enquanto no encerramento a vemos livre dos espinhos e do couraça masculina, graças ao amor dela por André.
Particularmente pungente é o amadurecimento das duas amigas de uma vida, Oscar e Marie Antoinette: de um lado a nobre leal à Coroa, que renega seu nascimento para liderar as pessoas na Bastilha, impulsionada por seu sentimento pelo fiel André, a quem descobriu que amava tarde demais e com quem ela se uniu em uma única noite de amor às margens do rio, em uma dança de vaga-lumes; enquanto a segundo, torturada pela morte do jovem filho e pela separação forçada com Fersen, abandonando a frívola adolescência despreocupada se fecha em uma fortaleza de egoísmo retrospectivo que a impede de ver os sinais de alerta do desastre. Memorável é a cena em que, alguns dias antes da Revolução, Oscar vai ver sua amiga, a Rainha, tentando avisá-la do que está prestes a acontecer, encontrando-a inflexível. As duas se separam, chorando, cientes de que nunca mais se verão.
A morte de André - agora quase cego - representa um dos momentos mais trágicos de todos os tempos, com a engenhosa ideia cinematográfica do lençol que, empurrado pelo vento, cobre lentamente seu rosto entre os soluços e os gritos de dor de Oscar, que vê seu homem deixá-la para sempre depois de descobrir tarde demais que o ama; a mulher o seguirá logo depois, morta a tiros em frente à Bastilha que, com sua coragem, ajudou a conquistar. Seu último pensamento será obviamente para André.
Rosalie e Bernard, agora casados, e Alain relembrarão no último episódio a sequência de eventos, ressaltando que, Oscar e André, enterrados um ao lado do outro em uma colina, foram poupados dos momentos horríveis do Terror. Na última cena da série maravilhosa e imortal que divertiu, ensinando a Revolução Francesa para milhões de adolescentes vemos os três amigos se questionando diante de uma rosa feita com pedaços de tecido que pertenceram à Maria Antonieta em sua cela pouco antes de morrer e confiada a Rosalie para pintá-lo em memória de sua amiga Oscar. Por fim, os três decidem: a cor que, segundo André, Oscar teria escolhido para as rosas seria branca. Imaculado, virginal, luminoso, branco encerra, não à toa, todas as cores do mundo.
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