segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Lady Oscar faz 40 anos, um hino atemporal ao amor doloroso (Artigo Traduzido)


Ontem, a amiga Sam me mostrou esse artigo publicado em um jornal italiano para comemorar os 40 anos da série de TV da Rosa de Versalhes.  O anime não fez o sucesso esperado no Japão, as razões são meio óbvias para mim, trata-se de uma releitura machista do original de Ikeda.  Uma grande releitura, um anime com momentos impactantes, mas que não conseguiu cativar os fãs japoneses (*e a própria autora*), como impressionou os europeus.

Os italianos receberam o anime em 1982, no momento certo.  Nós, no Brasil, não tivemos a mesma ventura.  Temos a chance, agora, de ler o mangá (*estou devendo as outras resenhas, mas as farei*) e eu, como fã da série, tenho a esperança de ver uma nova animação da Rosa mais próxima do mangá, usando a trilha sonora da animação de 1979 e com a emoção e a força que algumas sequências do anime tem.  O autor do texto lembrou de uma, o suicídio de Charlotte, eu tenho outra, a sequência do quadro, que é muito mais emocionante na animação.


Os tais espinhos azuis.
O artigo não dialoga com o mangá, ou teria comentado como a Oscar do anime se sente oprimida pelas imposições, ela não quer ser um soldado, ela é obrigada a isso pelo pai.  O texto aponta isso, os espinhos azuis (*lembrei de Damares nessa hora*), mas fala de uma Oscar liberta na música de encerramento, quando, e basta olhar no Youtube, o que se tem são imagens paradas, ou seja, a abertura tem uma mensagem, o encerramento, não.  De resto, ele identifica que Oscar se lança na Revolução por André, não por ela mesma. A Oscar do anime é empurrada pelos homens de sua vida, suas escolhas são condicionadas por eles e, bem, esse é o grande problema do anime, a meu ver.

Enfim, leiam o artigo.  Mantive os negritos originais e fiz o mínimo de adaptações possíveis.  Espero que a tradução tenha ficado decente.

Lady Oscar faz 40 anos, um hino atemporal ao amor doloroso

Em 1979, a série animada comovente que ensinou a Revolução Francesa a gerações de adolescentes foi lançada no Japão.
de Marco Zonetti


Oscar e André em sua única noite de amor.
Em 1979, há 40 anos, a série animada Versailles No Bara, "Le rose di Versailles", tirada do mangá de Riyoko Ikeda de 1972, foi lançada no Japão pelo Tokyo Movie Shinsha. Renomeada Lady Oscar em nosso país desembarcou em 1º de março de 1982 na Italia 1 (ainda de propriedade de Rusconi), tornando-se imediatamente um desenho animado cult entre os mais amados de todos os tempos.

Le "rose di Versalhes" do título original são principalmente Oscar François, filha do General De Jarjayes, que decide criá-la como homem; Marie Antoinette, filha de Maria Teresa da Áustria e dada em casamento muito jovem ao Delfim [*herdeiro do trono francês*] que se tornará Luís XVI; Jeanne De Valois De La Motte, uma mulher nobre decadente que vive de golpes; Rosalie Lamorliere, protegida de Oscar e alguém que, historicamente, ajudará Maria Antonieta nos últimos dias de sua vida antes de ser guilhotinada.

Lady Oscar imediatamente se destaca dos outros desenhos pela sua aura de tragédia que o marca desde o início. Desde o primeiro episódio, na verdade, ambientado na França na segunda metade do século XVIII, conhecemos o triste destino de Maria Antonieta e do país que, alguns anos depois, será atingido pela tempestade revolucionária. Portanto, um manto sombrio pesa sobre toda a série, um verdadeiro hino ao amor doloroso, com seu quadrilátero de histórias sentimentais infelizes. Oscar ama o sueco Conte di Fersen, que, no entanto, está ligado por um amor impossível a Maria Antoniette, enquanto o fiel criado André é "amante rejeitado" por Oscar.

Ao desenrolar os infelizes amores dos quatro personagens principais, a França dá um passo todos os dias no caminho da ruína, e outras histórias se entrelaçam com o destino dos protagonistas: o de Jeanne De Valois, aventureira sem limites que envolverá Maria Antonieta no escândalo do "colar" para depois tirar a própria vida; a de Rosalie, que acaba se descobrindo filha ilegítima da condessa de Polignac, que atropelou a mãe adotiva da menina com uma carruagem, por causa de uma amarga reviravolta do destino; a do jovem advogado Bernard Chatelais, ligado a Maximilien de Robespierre, e que a noite se transforma no Cavaleiro Negro e que, acidentalmente, privará André da visão de um dos olhos o que desencadeia os nefastos eventos futuros; a do soldado idealista e corajoso da guarda Alain, que verá sua irmã Diane se enforcar porque foi recusada por um nobre no dia do casamento; a de Charlotte de Polignac, filha da condessa, que se joga de uma torre para escapar de um casamento com um velho libertino imposto a ela por sua mãe, e assim por diante.

O suicídio da pequena Charlotte marca a virada na série. Enquanto a primeira parte é mais leve e caracterizada por desenhos mais "infantis", e principalmente monopolizada pela guerra fria entre Maria Antoniette e a condessa Du Barry, favorita de Luís XV, após a trágica morte do jovem Polignac, os tons dos episódios se tornam mais funestos, mais sombrios, mais escuros, e os desenhos se tornam mais maduros, mais angulares, mais góticos, acompanhados por uma trilha sonora admirável que combina muito bem as imagens mais austeras.

Pequena joia: a abertura representa Oscar aprisionada por uma roseira com os espinhos azuis (ou a vida masculina que foi imposta pelo pai general), enquanto no encerramento a vemos livre dos espinhos e do couraça masculina, graças ao amor dela por André.

Particularmente pungente é o amadurecimento das duas amigas de uma vida, Oscar e Marie Antoinette: de um lado a nobre leal à Coroa, que renega seu nascimento para liderar as pessoas na Bastilha, impulsionada por seu sentimento pelo fiel André, a quem descobriu que amava tarde demais e com quem ela se uniu em uma única noite de amor às margens do rio, em uma dança de vaga-lumes; enquanto a segundo, torturada pela morte do jovem filho e pela separação forçada com Fersen, abandonando a frívola adolescência despreocupada se fecha em uma fortaleza de egoísmo retrospectivo que a impede de ver os sinais de alerta do desastre. Memorável é a cena em que, alguns dias antes da Revolução, Oscar vai ver sua amiga, a Rainha, tentando avisá-la do que está prestes a acontecer, encontrando-a inflexível. As duas se separam, chorando, cientes de que nunca mais se verão.

A morte de André - agora quase cego - representa um dos momentos mais trágicos de todos os tempos, com a engenhosa ideia cinematográfica do lençol que, empurrado pelo vento, cobre lentamente seu rosto entre os soluços e os gritos de dor de Oscar, que vê seu homem deixá-la para sempre depois de descobrir tarde demais que o ama; a mulher o seguirá logo depois, morta a tiros em frente à Bastilha que, com sua coragem, ajudou a conquistar. Seu último pensamento será obviamente para André.

Rosalie e Bernard, agora casados, e Alain relembrarão no último episódio a sequência de eventos, ressaltando que, Oscar e André, enterrados um ao lado do outro em uma colina, foram poupados dos momentos horríveis do Terror. Na última cena da série maravilhosa e imortal que divertiu, ensinando a Revolução Francesa para milhões de adolescentes vemos os três amigos se questionando diante de uma rosa feita com pedaços de tecido que pertenceram à Maria Antonieta em sua cela pouco antes de morrer e confiada a Rosalie para pintá-lo em memória de sua amiga Oscar. Por fim, os três decidem: a cor que, segundo André, Oscar teria escolhido para as rosas seria branca. Imaculado, virginal, luminoso, branco encerra, não à toa, todas as cores do mundo.

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