Toda canonização é um ato político e extremamente controlado pelo Vaticano desde pelo menos o século XI. Para além dos milagres, há que se pesar todo o contexto da época, o que torna determinado santo, ou santa relevante para a sociedade e para a Igreja Católica. Há santos muito populares em sua própira época mas que caem no esquecimento, outros não tem representatividade junto ao povo, mas cumprem os requisitos para a canonização, os processos normalmente tem uma função para além da religiosa.
João Paulo II canonizou vários santos do leste europeu, inclusive figuras controversas, no momento em que a Cortina de Ferro estava ruindo. Era uma forma de combater o comunismo. Uma desses novos santos, Inês de Praga, uma franciscana, estava na fila fazia séculos. Por isso, eu digo que há canonizações que são rapidinhas, e outras demoradas, seja porque a personagem não desperta interesse, seja porque é polêmica demais, como uma Joana D’Arc, por exemplo. Fora isso, claro, os processos de canonização foram se tornando cada vez mais caros e burocráticos (*até por questões de segurança*), não é fácil conseguir fazer com que a causa de alguém chegue até o Vaticano.
João Paulo II canonizou vários santos do leste europeu, inclusive figuras controversas, no momento em que a Cortina de Ferro estava ruindo. Era uma forma de combater o comunismo. Uma desses novos santos, Inês de Praga, uma franciscana, estava na fila fazia séculos. Por isso, eu digo que há canonizações que são rapidinhas, e outras demoradas, seja porque a personagem não desperta interesse, seja porque é polêmica demais, como uma Joana D’Arc, por exemplo. Fora isso, claro, os processos de canonização foram se tornando cada vez mais caros e burocráticos (*até por questões de segurança*), não é fácil conseguir fazer com que a causa de alguém chegue até o Vaticano.
Joana D'Arc, santa polêmica, disputada por progressistas e conservadores. |
Foram canonizados com grande rapidez, mas ninguém superou Pedro de Verona, dominicano, inquisidor, assassinado e que ficou associado ao combate à heresia Cátara, matéria importantíssima para a Igreja Católica no século XIII, afinal, tratava-se de uma igreja concorrente e da qual participavam muitos nobres. Gente que tinha exércitos, castelos, cidades fortificadas. Enfim, em 11 meses Pedro de Verona era Santo, mas não é um santo popular como um Francisco de Assis, ou um Antônio de Lisboa (*ou Pádua*).
Clara de Assis foi canonizada em dois anos. |
Irmã Dulce (1914-1992), nascida em uma família de posses, dedicou-se aos pobres desde a sua adolescência. Professou em um convento que fica na cidade de origem da minha família, São Cristóvão, em Sergipe. Ainda jovem, ajudou a criar o círculo operário da Bahia. Criticada por estar no meio dos homens, ela retrucou que fazia o que estava no Evangelho. E, bem, se os grupos católicos não se infiltrassem nas fábricas, as perderiam para os comunistas. Sim, era uma questão de amor, mas, também, de estratégia e alguns entenderam isso, como Irmã Dulce.
A freira se preocupava particularmente com os desvalidos. Invadiu casas abandonadas em Salvador para abrigá-los, mostrando o desprezo devido pela propriedade abandonada e sem uso social. Veja que isso é polêmico até hoje, especialmente hoje, quando o bem comum é colocado em segundo plano pelos poderosos que tomaram o poder ancorados em um discurso ultraliberal. Poderosos que não tem nenhum projeto para os pobres, que os desprezam, na verdade.
Irmã Dulce, uma santa para os nossos dias. |
Ao canonizar uma mulher que esteve ao lado dos pobres, que lutou para que tivessem casa e leitos em hospital, que não perdeu de vista a função social da Igreja Católica, Papa Chico está mandando uma mensagem. Espero que ela chegue até os corações do povo, que ajude mudar a mente de gente que se esqueceu dos pobres, ou que deles quer distância. Enfim, Santa Dulce dos Pobres é bem-vinda. Uma santa com rosto, com história e com uma mensagem que pode ser útil em nossos dias. Além disso, é uma forma de tentar ampliar o rebanho de fiéis em um momento em que a Igreja Católica perde terreno para os Evangélicos em muitos lugares do Brasil.
E, não, não sou católica, mas entendo a função social dos santos dentro de seu contexto histórico e que estudá-los é muito interessante e impostante para a História. Fora isso, nessa disputa entre evangélico-fascistas, católicos reacionários e a Igreja Católica que segue o Papa Chico, sou time Chico até o fim.
2 pessoas comentaram:
Muito bom!
Puxa vida! Pra você ver como esses líderes religiosos são canalhas...
Eles se apoderam da história de pessoas boas que fizeram o bem na sociedade e lutaram contra injustiças e usam da forma que querem. Sempre mancomunados com políticos a fim de controlar o pensamento crítico das pessoas e consequentemente lucrar muito com isso.
Fora também que esse conceito de pegar uma pessoa (por melhor que tenha sido), que andou sobre essa Terra e teve as mesmas necessidades que eu e você, que quando morreu se tornou carne podre e foi comida pelos vermes e elevar o status dela a um santo com poderes e que está agora no céu e anota pedidos dos aflitos e intercede junto ao pai e etç etç.
Olha, sinceramente esta é uma das coisas mais descabidas que eu já ouvi. Completamente irracional. É por coisas assim que abandonei a religião, PARA SEMPRE!
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