Happy Mania, publicado na revista Feel Young entre 1996 e 2001, foi o primeiro grande sucesso de Moyoco Anno. Como a autora decidiu fazer uma continuação da série, mostrando os protagonistas vinte anos depois, lembrei-me que tinha o volume #1 na minha estante. "Que tal fazer uma resenha?" "Ah, mas você está com O Marido do Meu Irmão aberto sem terminar faz um tempão, sua sonsa!" "Mas vai ser rapidinho!" Bem, estou eu aqui para escrever algumas palavrinhas sobre Happy Mania, que está incluído no livro 1001 Comics You Must Read Before You Die: The Ultimate Guide to Comic Books, Graphic Novels and Manga do Paul Gravett, como um quadrinho que todo mundo deveria ler. Eu discordo e vou explicar o motivo. A série começa da sequinte maneira:
Kayoko Shigeta é uma jovem de 24 anos e a coisa mais urgente para ela é encontrar um namorado, mas não somente isso, ela acha que o homem da sua vida pode aparecer a qualquer momento. Shigeta divide um apartamento com uma amiga chamada Fuku (Fukunaga) que a adverte várias vezes que ela confunde sexo com amor, que são duas cosias diferentes. A outra personagem importante nesse primeiro volume (*e na série inteira*) é Takahashi, colega de trabalho de Shigeta em uma livraria e que a ama, apesar de todos os rolos que ela apronta, e tenta ajudá-la sempre.
Uma protagonista totalmente perdida... |
Eu tenho esse volume de Happy Mania na estante faz mais de dez anos. Nunca o tinha lido completo. Retomando-o, entendi bem o motivo. Shigeta, a protagonista, me angustia. Ela só tem um objetivo na vida, casar. Ela não tem apreço pelo trabalho, ela não parece ter consideração pelas pessoas, ou, por exemplo, não atrasaria o aluguel e as contas do apartamento que divide com a amiga. O que ela faz com seu salário? Não se sabe. Shigeta é capaz de colocar um homem, aquele que ela considera sua alma gêmea, como prioridade de qualquer coisa, inclusive em relação a si mesma.
E egoísta, narcisista e delirante. |
E isso poderia ser bem trabalhado na história. Uma protagonista ninfomaníaca e totalmente consciente disso seria interessante, não é? O problema é que a personagem parece ver no sexo, que ela gosta de fazer, repito, somente a chave para conseguir o homem da sua vida. O que acontece então, ela conhece um homem, transa com ele, se apega como se fosse para toda a vida e é chutada. E o ciclo recomeça. Só no volume um, aconteceu QUATRO VEZES. Nunca via um mangá com um troca-troca tão grande, porque, normalmente, a mocinha pode até fazer muito sexo, mas, normalmente, é com o mesmo cara.
Takahashi incapaz de esquecer Shigeta. |
Em contrapartida, como é extremamente egoísta e pouco solidária, ela humilha Takahashi, a quem considera um sujeito sem atrativos. Sei que, mais adiante, ela irá transar com ele, mas continuará seu rodizio até que, provavelmente, se casará com o rapaz. Só esse prospecto, Shigeta casando-se com Takahashi, porque ele é o último recurso e vai esperar por ela, me angústia. Aliás, Takahashi mente para que a Shigeta não seja despedida, quando falta ao trabalho por causa de um novo namorado. Quando ela é demitida, ele até consegue arrumar um outro emprego para a protagonista e ela é incapaz de esboçar um agradecimento. Enfim, o rapaz não merece ser maltratado e merece uma pessoa melhor que Shigeta.
Algumas das capas originais. |
Eu cheguei a rir em um ou dois momentos, como quando Shigeta tenta se enganar quando encontra uma mulher nua na cama de um dos seus "namorados" (*"Ela pode ser irmã dele e não ter trazido um pijama. Ela pode estar usando um pijama nude..."*). Moyoco Anno sabe contar uma história, como pontuei lá em cima, mas Shigeta é o tipo de personagem com quem não consigo simpatizar e, pior, conheço mulheres assim. Gente que ferra com sua vida, porque acredita que qualquer homem que se digne a olhar para elas é o homem da sua vida, o futuro pai de seus filhos. No final do volume, Shigeta está desempregada e, de novo, sem namorado e sem sexo, porque isso é efetivamente MUITO importante para ela.
Takahashi sempre estará para apoiar Shigeta e ela, claro, vai voltar a fazer bobagem. |
É isso, se Happy Mania fosse o primeiro josei que eu tivesse lido na vida, especialmente, com todo o alarde em torno dele, acho que eu iria ficar com o pé atrás com essa demografia. Por tudo o que sei da obra, não se trata de uma série feminista, tem uma pegada chick lit, mas não sei se a personagem evolui ao longo da trama. Pelo que me informei, não é o caso. Mas eu poderia continuar a leitura, porque, bem, Moyoco Anno é uma excelente contadora de histórias e tem uma domínio muito bom da narrativa visual, mesmo sendo uma iniciante.
Minha edição é esta aqui. |
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