Faz tempo que não abordo temas políticos diretamente no blog, mais por falta de tempo, admito, do que de vontade, mas, hoje, faz-se necessário. Ontem, em uma de suas lives, o presidente anunciou o embargo de uma série de produções já aprovadas pela ANCINE (Agência Nacional do Cinema), todas elas com temática LGBT+ e negra. Ele disse que cuidou da questão pessoalmente, algo inusitado, para não acrescentar outras coisas, enfim, citando o Correio Braziliense, "Para o presidente, a intervenção na Ancine não é censura. "Não censurei nada. Quem quiser pagar, se a iniciativa privada quiser fazer filme da Bruna Surfistinha, fique à vontade. São milhões de reais que são gastos com esse tipo de tema", disse. "E outra: geralmente, esses filmes não têm audiência, não têm plateia, tem meia dúzia ali. Agora, o dinheiro é gasto", afirmou.". É censura, sim, é negar verbas públicas, ou a possibilidade de captar recursos da iniciativa privada com estímulo estatal, a uma parcela da população, trata-se de uma forma de marcar a sua marginalidade. E não custa lembrar da propaganda censurada do Banco do Brasil.
Enfim, a ANCINE é um órgão oficial do governo federal do Brasil, constituída como agência reguladora, com sede na cidade de Brasília, cujo objetivo é fomentar, regular e fiscalizar a indústria cinematográfica e videofonográfica nacional, antes subordinada ao Ministério da Cultura, com sua extinção, está dentro da pasta de Cidadania. Faz algum tempo que o presidente decidiu atacar a atuação da ANCINE, acusando-a de haver promovido filmes contra a moral, os bons costumes e as boas tradições familiares de nosso país, como Bruna Surfistinha. Este filme, aliás, parece uma fixação do supremo mandatário da nação, assim como falar de excrementos. Chegou até a ameaçar privatizar uma agência, algo que não faz sentido algum.
Um dos projetos embargados foi a série Afronte derivada de um curta metragem produzido como TCC por um aluno da UnB. Diz o texto do Correio Braziliense: "Depois de ler os nomes das obras inscritas e o texto de apresentação delas, o presidente falou: "Outro filme: 'Afronte. Mostrando a realidade vivida por negros homossexuais no Distrito Federal'. Confesso que não entendi nada". Em seguida, prosseguiu: "Olha, a vida particular de quem quer que seja, ninguém tem nada a ver com isso, mas fazer um filme Afronte, mostrando a realidade vivida por negros homossexuais no DF, não dá para entender. Mais um filme que foi para o saco. Se a Ancine não tivesse, sua cabeça toda, mandato, já teria degolado todo mundo". Afronte é o título de um curta-metragem produzido por Azevedo e Santos como projeto de conclusão de curso em audiovisual na Universidade de Brasília (UnB). O filme foi exibido no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro em 2017 e ganhou o Prêmio Saruê, concedido pela equipe de Cultura do Correio Braziliense. Para a produção foram arrecadados R$ 10 mil por via de doações via internet. O deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) e a atriz e Leandra Leal ajudaram na arrecadação." Se vocês quiserem o comentário do Reinaldo Azevedo sobre o caso, basta clicar e ir para a 1h 14 min e 40s.
Pode ser que a série nunca seja produzida, talvez, ela tenha que recorrer a uma vaquinha, talvez algumas empresas abracem o projeto. O mesmo grupo que fez Afronte conseguiu levantar verba para fazer um documentário semelhante sobre o sistema de cotas raciais, no qual a UnB é pioneira. De qualquer forma, o documentário está disponível para ser assistido on line. Por enquanto, a internet ainda é um terreno com alguma liberdade:
1 pessoas comentaram:
Não sei se você já assistiu, mas recomendo o vídeo do Tiago Belotti sobre a Ancine. Segue o link:
https://www.youtube.com/watch?v=QcI3_yij5X0
Ps: os comentários embaixo estavam horrorosos quando eu vi. Sugiro evitar.
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