Sexta-feira passada, assisti X-Men: Fênix Negra (X-Men: Dark Phoenix), último filme dos mutantes pela Fox. Foram ao todo quatro filmes dessa nova equipe, começando com o excelente First Class; continuando com Dias de um Futuro Esquecido, que colocou em cena os atores da primeira trilogia; e, por fim, Apocalipse. Sei que muitas gente coloca mil defeitos nessa releitura dos X-Men, a forma como as mulheres são representadas e particularmente criticada, mas eu gostei bastante de todos eles e, em especial, de Dias de um Futuro Esquecido. Mas, eis, que veio Dark Phoenix e, bem, foi frustrante, porque não conseguiu encerrar com chave de ouro a série. Enfim, vamos lá, acredito que será uma resenha curta.
O ano é 1992 e os X-Men são considerados heróis nacionais. O professor Charles Xavier (James McAvoy) agora dispõe de contato direto com o presidente dos Estados Unidos e tem certeza de que conseguiu construir um mundo melhor para humanos e mutantes. Quando uma missão espacial enfrenta problemas, o governo pede ajuda aos X-Men. Liderado por Mística (Jennifer Lawrence), os mutantes partem rumo ao espaço em uma equipe composta por Fera (Nicholas Hoult), Jean Grey (Sophie Turner), Ciclope (Tye Sheridan), Tempestade (Alexandra Shipp), Mercúrio (Evan Peters) e Noturno (Kodi Smit-McPhee). Ao tentar resgatar o comandante da missão, Jean Grey fica presa no ônibus espacial e é atingida por uma poderosa força cósmica, que acaba absorvida em seu corpo. Após ser resgatada e retornar à Terra, aos poucos ela percebe que há algo bem estranho dentro de si, o que desperta lembranças de um passado sombrio e, também, o interesse de seres extra-terrestres.
Xavier arrisca a vida de todos, especialmente, de Jean. |
A Fênix Negra é uma das sagas mais importantes dos X-Men nos quadrinhos. Há toda uma discussão sobre a forma convencional e machistas como se aborda o dilema das mulheres excessivamente poderosas, o final, claro, é trágico, ainda que como uma fênix tenhamos a esperança da volta de Jean Grey. Com um material emocionalmente poderoso nas mãos, o que vi em tela foi um filme morno e com um roteiro preguiçoso. Não! Não há desculpas de que era o último filme da Fox, porque ninguém coloca dinheiro em uma super-produção desse nível para ter prejuízo. E pelo que temos de bilheteria até o momento, será, sim, um grande tombo para o estúdio.
Conversando sobre isso com um amigo, ele soltou que Sophie Turner não seria uma atriz competente o suficiente para segurar o papel da Fênix Negra. Discordei, a atriz está bem e se esforça, o problema é que o roteiro não ajuda. Li uma matéria dizendo que modificaram o roteiro para se distanciar da Capitã Marvel, que ela e a Fênix seriam parecidas. Sei, não, a ponte é difícil, mesmo a semelhança estava na relação entre um homem poderoso e a heroína, me parece forçada, aliás, a forma como Xavier foi apresentado nessa película foi forçada.
Magneto quer saber de quem é o sangue na roupa de Jean. |
Talvez, eu esteja sendo muito parcial, mas carregaram as tintas no narcisismo e espírito controlador do Prof. Xavier. Sim, essa nova série apresentou um Xavier muito mais manipulador do que o da primeira, ou do que eu me lembro do pouco que li dos quadrinhos. Aliás, uma das críticas à First Class é exatamente a forma como ele trata Mística, tutelando-a, reprimindo-a, tentando moldá-la. Nesse último filme, é mostrado que ele fez o mesmo com Jean Grey.
Ele a adota e manipula sua mente para que ela esqueça de um episódio trágico de seu passado. Jean era criança e já muito poderosa, Xavier queria poupá-la. O problema é que o filme direciona a coisa para pintar Xavier como um manipulador que agia como uma divindade, decidindo o futuro das pessoas - especialmente, as mulheres - segundo aquilo que julgava ser bom, ou mal, para elas. Só que, por vaidade, ele não se furta de arriscar a vida de seus pupilos, de sua amiga (Mística), de ninguém, enfim. Será que precisavam colocá-lo dessa forma? Já Magneto (Michael Fassbender) é o inverso, um pai protetor e altruísta. Pelo menos, é assim que a coisa é desenhada nesse filme.
A vilã robótica finge solidariedade, mas só deseja os poderes de Jean. |
Tal e qual aconteceu nos dois últimos filmes dos Vingadores, uma mulher é sacrificada. A morte, que precisava ser dramática dada a importância que ela tinha, não consegue impactar e sua ausência é pouco sentida. Ninguém lamenta não a ter por perto para ajudar, ela simplesmente é eliminada para se prestar tanto à vingança masculina, quanto à crescente fragilização mental de Jean Grey, incapaz de controlar seus poderes. Mas realmente funcionou? Não. A morte não emociona, o luto e a vingança levada adiante por Fera e Magneto não tem a força que poderia ter.
O que parece mais doído é o dano que a existência da Fênix causa aos mutantes, mas não há discussão mais ampla sobre isso, as sequências, no entanto, são mais contundentes, inclusive o desespero de Xavier ao perder sua linha direta privilegiada com o presidente. Agora, depois que o drama da fênix termina, nada é dito sobre como os humanos e mutantes voltaram a se entender. Voltaram?
Não goste nem da maquiagem, nem do cabelo de Mística, que foi promovida a grande mãe dos X-Men. |
Do outro lado, temos Sophie Turner tentando defender sua Jean Grey como pode, mas com o roteiro contra ela. Inventa-se uma vilã, Vuk (Jessica Chastain), fria e robótica, não precisavam pegar uma atriz desse quilate para o papel. Enfim, sua espécie estava caçando fazia muito tempo o poder, ou entidade extra-terrestre, que entrou no corpo de Jean. O objetivo é se apossar desse poder quase sem limites, ou destruir a Fênix. Mesmo desviando do final do quadrinho (*suicídio*), ou da Fênix Negra da primeira adaptação (*morte piedosa perpetrada por um homem*), mesmo que tenham dado para Jean o controle de seu destino e a capacidade de salvar-se a si mesma e toda a terra, criando um sacrifício heroico, ainda assim, o impacto emocional foi baixo.
Que mais tenho a dizer sobre um filme que em nenhum momento me empolgou, ou decepcionou? Há dois apres românticos no filme. Fera e Mística, estabelecidos como um casal desde a primeira cena. Enfim, nenhum dos dois parece muito empolgado pela relação e mesmo o sofrimento de Fera não me tocou. De resto, Nicholas Hoult pouco envelheceu, ou amadureceu, em relação ao primeiro filme. Ainda aprece um garoto, eu diria. Difícil imaginá-lo como candidato a ser o novo Batman, não que quem ficou no papel me convença, mas imagino mais Hoult como Clark Kent. Ah, sim, por algum motivo achei a maquiagem do filme ruim, especialmente, a da Mística.
Mutantes contra extraterrestres. Olha, que o Scott está lá no fundo. |
Já o casal Scott e Jean, bem, ambos estão na história para sofrer. O problema é que Scott Summers parece ser somente um coadjuvante sem grande destaque no filme. Fera, Magneto, Xavier, tem mais importância que ele, o namorado da Fênix Negra, o sujeito que pode perder a mulher amada. Não acredito, repito, que o problema seja do ator, que se saiu bem nos dois filmes anteriores. Foi o roteiro mesmo, frio, sem explorar o drama das personagens, sem ousar em nenhum momento.
Tempestade estava no filme. Fez pouco. Noturno foi muito mais explorado que no filme anterior e isso foi um ponto positivo. Os mutantes que estavam com Magneto era interessantes. A ameaça extra-terrestre, genérica. Já Mercúrio, para mim, uma das melhores dessa nova equipe, praticamente não faz nada no filme. Parece que todos os atores e atrizes principais estão fazendo menos do que poderiam. Esse é meu veredito. A Bechdel Rule é cumprida? Sim. Mística conversa com Jean e o assunto são os poderes da moça. Vuk conversa com Jean, e o assunto é o mesmo. Há mais mulheres com nomes. O final da Fênix neste filme é melhor do que no anterior, menos machista, porém, o conjunto não ajudou.
Um final melancólico para um projeto com tantas possibilidades. |
Concluindo, depois de vir de uma sequência de grandes filmes de super-heróis (Aranhaverso, Capitã Marvel, Shazam! e Ultimato), esperava mais de Fênix Negra e certamente o filme poderia ser melhor. Queria que a franquia tivesse um fechamento bonito e, não, frio e desinteressante. Seria ótimo que os atores se despissem das personagens em grande estilo, em especial, Jennifer Lawrence, James McAvoy e Michael Fassbender. O filme é ruim? Não. O filme é bom? Não. E em um ano de tatos filmes de super-heróis competentes, isso é um convite para o esquecimento.
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