O jornalista Nilson Xavier fez uma grande matéria (*no sentido do tamanho e da qualidade*) para o site da UOL com esse título, são três partes listando e comentando produções televisivas da Globo, Record, SBT, Manchete e outras que teriam tratado da História do Brasil. Há aquelas coisas mais conservadoras na abordagem, biografias, por exemplo, como JK (2006) que ainda era beeeeem chapa branca, temos crônicas de costumes que tentam montar um retrato de uma época, tipo Anos Dourados (1986). Acabei citando material retratando o mesmo momento histórico. Não foi de propósito. O fato é que precisávamos de mais produções históricas, porque ainda que com imperfeições, elas despertam o interesse das pessoas pela disciplina, pelo passado, as fazem refletir sobre certas questões, sempre lembrando que quando a ficção fala do passado, ela está falando do presente, também. De temas atuais.
Senhora do Destino usa 1968 como pano de fundo. Discussão ZERO, se minha memória não está falhando.
Como eu o sigo no Twitter, acabei indo conversar com ele sobre algumas omissões, claro, nenhuma lista é definitiva. Ele ponderou que um dos seus critérios seria o uso da História do Brasil para além do pontual, bem, eu considero como bem pontuais o uso da Ditadura Militar em Senhora do Destino (2004-05) e Mandala (1987-88), por exemplo. A novela mais antiga, pelo menos teve uma primeira fase solidamente construída nos anos atribulados que antecederam o Golpe Civil Militar (1964) e lançou alguns ótimos atores jovens. A segunda, e eu gosto muito de Senhora do Destino, é uma das novelas contemporâneas que eu realmente gosto, mas, bem, eu diria que foi uso pontual mesmo. Quinto dos Infernos (2002) me faz virar os olhos, mas é um material histórico apesar de tudo. Novo Mundo (2017) é história alternativa assumida, então, sei lá se deveria entrar. De qualquer forma, a lista é muito boa e vale a leitura. Os links estão aqui (Parte 1 - Parte 2 - Parte 3).
Mas eu disse que tinha conversado com ele sobre as ausências e achei que daria um bom post para o Shoujo Café. Por conta disso, vou acrescentar algumas produções à lista que ele fez e dizer o motivo, claro. Organizei por ordem cronológica dos acontecimentos abordados, não da trama, igual na matéria original:
1. Pato de Sangue (1989): Escravidão e preconceito racial são os temas centrais da novela, ambientada em 1870, anos antes da Abolição, em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense. A história tem início com o jovem Antônio (Marcelo Serrado) à beira da morte depois de ajudar um negro a escapar da fazenda de seu próprio pai. Antes de morrer, Antônio pede para que seu pai, o juiz Queiroz Antunes (Carlos Vereza), crie o pequeno escravo Bento (Armando Paiva) como se fosse seu próprio filho. O fazendeiro, líder do Partido Conservador na cidade, atende ao último pedido de Antônio e começa a rever seus valores. A convivência com o menino negro muda os horizontes de Queiroz, que acaba se apaixonando pela professora Aimée (Carla Camurati), integrante do movimento abolicionista. (Memória da Globo)
Os protagonistas.
Essa novela foi encomendada para marcar o centenário da abolição e teve uma abordagem muito diferente de Sinhá Moça (1986) e outras produções que enfatizam o papel dos brancos como libertadores. Em Pacto de Sangue, temos um amplo elenco negro interpretando desde escravos até gente de classe média. E esses negros, alguns deles, são ativos no processo de abolição, seja fazendo campanha, dando fuga, recolhendo fundos. É um caso único, porque não temos uma personagem isolada, as personagens negras têm família, tem redes de relações mais amplas que não são somente com os brancos da trama. Além disso, temos Ruth de Souza como a líder de um terreiro de Candomblé e a discussão sobre as perseguições às religiões afro e as limitações impostas aos que não praticavam o catolicismo. Lembro que eu um capítulo, o delegado racista (Luiz Guilherme) acabou incorporando uma entidade. Na época, foi uma cena que me impressionou.
Na minha memória, Sandra Annemberg é que fazia as vezes de mocinha da história.
No Brasil Imperial, você não precisava ser católico, mas era proibido que os locais de culto de outras religiões fossem reconhecíveis como tal Segue o texto da constituição de 1824: “Art. 5º A religião Católica Apostólica Romana continuará a ser a religião do Império. Todas as outras religiões serão permitidas com seu culto doméstico ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de templo”. Por conta disso, o delegado tenta, em vão, fechar o terreiro.
Zezé Mota linda no LP da trilha sonora. Ela não fazia uma escrava.
Pacto de Sangue estreou toda gravada e é bem curta. O documentário A Negação do Brasil (*completo aqui*) fala bastante dela. Queria muito que fosse reprisada, mas parece que nunca será. Foi a estreia do Marcelo Serrado na TV e a última novela da repórter Sandra Annemberg na Globo, pelo menos. E foi a última novela da Carla Camurati, que fazia uma professora solteirona feminista do século XIX, abolicionista e sufragista, um combo perfeito. Em dado momento, seu irmão malvado, Edwin Luisi, a interna, algo que, sim, poderia acontecer com qualquer mulher naquela época. Só que ela é posta em um convento e,não, em um hospício, se bem me lembro. Algo semelhante aconteceu com a Aurélia em Essas Mulheres (2005), outra novela que poderia estar nessa nossa lista pela sua discussão sobre direitos das mulheres e abolicionismo. Retornando, já que desviei bastante, curiosamente, Pacto de Sangue é mais lembrada por isso, quer dizer, por ser a primeira e/ou a última novela de alguns atores e atrizes, do que pela forma arrojada como tratou a questão da abolição e do protagonismo negro.
2. Direito de Amar (1987): Ambientada no Rio de Janeiro do início do século XX, a trama baseava-se na radionovela Noiva das Trevas, de Janete Clair, escrita nos anos 50. Já no começo da novela, a euforia pela virada do século se espalha pela cidade. Nessa noite de alegria e esperança, dois jovens se apaixonam durante um baile de máscaras. Mesmo sem saber quem são, Rosália (Gloria Pires) e Adriano (Lauro Corona) dançam a noite inteira. Ao fim do baile, eles se separam, mas não param de pensar um no outro e fazem tudo para se reencontrarem. Só que nada é tão fácil como imaginavam. Para salvar-se da falência, o pai de Rosália, o industrial Augusto Medeiros (Edney Giovenazzi), hipotecou a casa e prometeu a filha em casamento para o poderoso banqueiro Francisco Monserrat (Carlos Vereza), pai de Adriano. Rosália, então, mesmo apaixonada por Adriano, se vê obrigada a se casar com o banqueiro. Sua dor é dividida com a mãe, Leonor (Esther Góes), que, apesar de sempre ter estado ao lado do marido, não suporta ver o triste destino da filha. Apesar de ser um homem autoritário e cruel, Monserrat é verdadeiramente apaixonado por Rosália e se esforça para conquistar o amor da moça, a única pessoa a quem trata com carinho e atenção. Quem sofre ao ver a dedicação de Monserrat com Rosália é Adriano, obrigado a conviver diariamente com seu grande amor. (Memória da Globo)
Carola teve sua loja destruída, ou ameaçada, pela reurbanização do centro do Rio.
Quem frequenta o Shoujo Café sabe que essa é uma das minhas novelas favoritas. Para além da trama central, pai e filho que amam/desejam a mesma mulher, várias questões históricas importantes foram abordadas na trama organicamente, isto é, como parte integral da narrativa e, não, pontualmente. Logo no segundo capítulo, acredito, se falava do surto de febre amarela, alguém morria na rua e tudo mais. O Rio de Janeiro vivia à mercê da epidemia da doença e era considerado insalubre. A ação dos médicos sanitaristas teve destaque na trama, afinal, duas das personagens principais, Adriano e Ramos (Carlos Zara), eram médicos. Não lembro se a trama chegou a tocar nas ações de Oswaldo Cruz e na Revolta da Vacina, mas acredito que não, porque a novela terminou antes disso.
Danilo, o de terno riscado, acaba tendo a visão roubada na prisão. O sujeito do outro lado, era o dedo-duro.
Outro tema que rendeu muita discussão foi a reforma urbana do prefeito Pereira Passos (1902-06), o Bota-Abaixo, que aparece em Lado a Lado (2012/2013). Uma das personagens, a elegante e misteriosa Carola (Cristina Prochaska) teve sua loja desapropriada para que uma larga avenida pudesse substituir as ruas estreitas e os cortiços do Rio Antigo. Lado a Lado fala do drama dos pobres, Direito de Amar olha o problema a partir de classes sociais mais elevadas. E o outro tema explorado e desenvolvido durante a novela era o da perseguição aos anarquistas, se não estou equivocada. Ramos era anarquista e um dos rapazes boêmios, Danilo (João Carlos Barroso), que era desenhista a caricaturista, também. Ele é preso, torturado e é cegado na prisão com o uso de uma lupa e do sol. Eu era criança e nunca esquecerei essa cena. Ela nunca seria colocada em uma novela das seis de nossos dias. Nunca!
Petrônio Gontijo melhorou muito depois que foi para Record. Acreditem.
3. Salomé (1991): Adaptação do romance homônimo de Menotti Del Picchia, inspirado na personagem bíblica, a trama de Salomé é ambientada em São Paulo, na década de 1930. A personagem central da história é Salomé (Patrícia Pillar), uma mulher à frente de seu tempo. Ousada e rebelde, a jovem escandaliza a sociedade parisiense ao apresentar um número de dança com véus em que fica seminua. A notícia chega ao Brasil, e sua mãe, Santa (Imara Reis), e seu padrasto, Antunes (Carlos Alberto), preocupados com a reputação da moça, decidem que ela deve deixar Paris. (...) No Brasil, Salomé vai morar na fazenda Pindorama, em São Paulo, onde sua mãe a espera. Ali ela conhece Duda (Petrônio Gontijo), por quem se apaixona. Duda era proprietário da fazenda Pindorama, mas seu pai, o coronel Venâncio (Herval Rossano), endividado, viu-se obrigado a vender a propriedade para Antunes. A dor de perder a fazenda fez Venâncio se suicidar. Algum tempo depois, Duda, desempregado, voltou à fazenda, conseguiu trabalho e decidiu ficar, iniciando um romance secreto com Santa, que se apaixonara pelo rapaz. A relação de Salomé com sua mãe não é fácil, e torna-se ainda mais delicada quando Santa percebe a paixão recíproca de Duda pela filha. Salomé também desperta o desejo de Antunes, que não resiste a sua beleza. Ciente do sentimento do marido por sua filha, Santa faz de tudo para atiçá-lo contra Duda, chegando a sugerir que ele mate o rapaz por ele ter se aproveitado de Salomé. Enciumado, Antunes encomenda a execução de Duda, mas ele escapa da cilada. Após muitos desencontros, Salomé e Duda se entendem. Ele se torna um renomado cantor, recupera a propriedade da família, e os dois iniciam uma nova vida na fazenda Pindorama. Santa, depois de assassinar Antunes, termina louca e sozinha. (Memória da Globo)
Elias Gleizer era o padre boa gente.
O tema importante que vai se fazer presente em Salomé, que já é uma novela de época e uma boa crônica de costumes da época, é a crise de 1929. Se Senhora do Destino entra só por ter um começo com alguma menção à ditadura, Salomé é muito mais eficaz ao utilizar o material histórico. A personagem de Petrônio Gontijo (*que era ruim que dói*) vai ter que mudar de vida, porque seu pai perdeu tudo. Sua noiva, Mônica (Mayara Magri) termina sendo obrigada a casar (*se bem me lembro seu pai também estava endividado) com MacGregor (Rubens de Falco), um banqueiro impiedoso que usa do seu poder para conseguir o que deseja. Salomé também estreou toda gravada e certamente não seria exibida no horário das seis. Nudez parcial, muita violência (*Mônica foi diversas vezes violentada pelo marido*), e sexo. Hoje, talvez só no horário das 23 horas. E havia discussões políticas séries sobre imigração e o partido comunista. Lembro bem da interação de Elias Gleizer, o padre, e Ricardo Petraglia, o revolucionário. Funciona como material histórico e como crônica de costumes.
4. Desejo Proibido (2007-2008): Estou revendo essa novela e ela foi a primeira ou a segunda que comentei no Shoujo Café, eu acredito. Gosto dela. A trama central, claro, é o tal romance do padre Miguel (Murilo Rosa) com Laura (Fernanda Vasconcellos) e o vai não vai decorrente do tabu do celibato clerical. Ele investigava disfarçado de leigo os supostos milagres de uma Virgem de Pedra em uma cidadezinha do Triângulo Mineiro e ela era a criança do primeiro suposto milagre. Se ficarmos somente nisso, perdemos o fundo histórico, mas ele é importante na trama.
Temos uma boa discussão sobre celibato, direitos das mulheres, feminismo, até, além de outras coisas, também.
A novela se passa durante a Ditadura Vargas, não o Estado Novo (1937-45), mas o chamado Governo Provisório (1930-34). Há toda uma discussão sobre a volta das eleições e o direito de voto feminino, a novela se passa depois da publicação do Código Eleitoral de 1932. As eleições efetivamente acontecem já na reta final da trama e Viriato (Lima Duarte), que deseja ser prefeito eleito, é o típico político populista. Ele compra votos, há a questão do voto de cabresto e de como conseguir fazer com que eleitores analfabetos aprendam a "desenhar" o nome do candidato. Viriato é, durante boa parte da trama, prefeito indicado pelo interventor, afinal, Vargas tinha escolhido os "governadores" (*o de Minas, não, mas esse detalhe não vai fazer diferença*), mas é retirado do poder e substituído pelo vilão da trama, Henrique (Daniel Oliveira). Sua única chance de voltar ao poder é sendo eleito.
Lima Duarte deitou e rolou como o político populista, um pouco corrupto, mas de bom coração.
Outra questão histórica importante, ainda que ligada à personagens coadjuvantes, é a do perigo comunista e da Coluna Prestes (1925-1927). O delegado Trajano (Cássio Gabus Mendes) tem horror à comunistas e uma de suas filhas acaba se envolvendo com um ex-tenente (Guilherme Berenguer) que abraçou essa ideologia. As discussões não são aprofundadas, mas elas estão na trama, inclusive o ceticismo do tenente, que teria ele mesmo sido alvo de um milagre da Virgem de Pedra.
O tenente comunista que participou da Coluna Prestes. Guilherme Berenguer era péssimo e nem sei se melhorou.
Além dessas duas discussões, já na reta final da novela, temos a Crise de 1929 sendo introduzida. Claro, não a crise em si, mas seus efeitos sobre a família do vilão. E Walter Negrão, o autor, aproveita em vários momentos para falar de espiritismo. Uberaba estava logo ao lado de Passaperto, era a cidade maior e mais importante, e lá é o berço, de uma certa forma, do movimento espírita. Quando assisti a novela das primeiras vezes, não tinha percebido que o autor cita personagens importantes ligados a essa religião, como Eurípedes Barsanulfo, em vários momentos e não de forma aleatória, as menções fazem sentido. Enfim, isso é História, também.
5. Tenda dos Milagres (1985): Minissérie baseada em um romance de Jorge Amado, a trama se desenrola a partir das lembranças do protagonista Pedro Arcanjo (Nelson Xavier), que, à beira da morte, relembra aventuras, festas, amores e sua luta para manter vivas na Bahia as culturas negra e mestiça. A história começa em 1930, quando Pedro Arcanjo sente-se mal e, desmaiado, é levado às pressas para a casa de Cesarina (Ângela Leal). Com fortes dores no peito, ele revive seu passado, fazendo com que a narrativa retorne ao ano de 1913. Nessa época, quando os negros eram discriminados e perseguidos em Salvador, a mãe de santo Magé Bassã (Chica Xavier) revela a Pedro Arcanjo sua missão: ser “a luz de seu povo”. Junto com seu pai, Xangô, Magé Bassã guia o protagonista em sua missão. A partir de então, a história acompanha as ações de Pedro Arcanjo em defesa dos negros e sua relação com mães e pais de santo, prostitutas e mestres de capoeira. O principal antagonista de Arcanjo é o racista Nilo Argolo (Oswaldo Loureiro), um médico-legista influente que tenta provar a superioridade da raça branca através de pesquisas científicas com a ajuda do inescrupuloso delegado Francisco Mata Negros (Francisco Milani). (Memória da Globo)
Elenco bem caracterizado.
Racismo, discriminação às religiões afro e sua perseguição são questões históricas importantes. Ainda que não proibidas, o candomblé e a umbanda eram perseguidas, enquadradas como charlatanismo e feitiçaria, práticas como a capoeira eram fora da lei. Aliás, essa situação de perseguição oficiosa só foi amenizada quando o ministro Osvaldo Aranha intercedeu junto à Getúlio Vargas. Aliás, cadê uma minissérie sobre Osvaldo Aranha? Em tempos nos quais nossa diplomacia anda perdida, esse homem merecia ser lembrado. Para quem não sabe por qual motivo falei em diplomacia, foi Osvaldo Aranha o maior responsável para que a resolução da ONU criando o Estado de Israel (*e o Palestino, que não se concretizou*) fosse aprovada.
Talvez, a melhor abordagem do candomblé e da perseguição às religiões afro.
Enfim, não assisti Tenda dos Milagres, minha mãe não deixava, seja pelo horário de exibição, seja pela temática religiosa, mas meu marido já comentou tanto dessa série que eu consigo projetar algumas cenas na cabeça. Fora isso, é mais um dos materiais citados e destrinchados no documentário A Negação do Brasil. Deveria estar na lista, porque nossa História não é somente branca, não é mesmo. Tenda dos Milagres foi uma grande omissão, porque pode ser visto como uma crônica de costumes.
6. Vida Nova (1988-89):O enredo destacou o convívio de imigrantes europeus, sobretudo italianos, em um cortiço paulista do bairro do Bixiga, na década de 40. A alegre e sensual Laura (Yoná Magalhães), uma ex-prostituta conhecida como Lalá, é a rainha do cortiço, invejada e odiada pelas mulheres, mas desejada pelos homens. Lalá é mãe de Marialina (Gabriela de Oliveira) e desperta a paixão do sonhador Antonio Sapateiro (Carlos Zara). Outra moradora do cortiço é Gema (Nívea Maria), que, julgando-se viúva, casa-se com Pietro (Osmar Prado). O casal tem uma relação feliz e tranquila até o dia em que o primeiro marido de Gema, Sebastião (Roberto Bonfim), reaparece. O italiano Antônio do Mercado (Antônio Petrin) é um incansável trabalhador que, com muito sacrifício, paga os estudos do filho Antoninho (Marcos Winter) em um dos melhores colégios de São Paulo. (Memória da Globo)
Última novela de Lauro Corona.
Engraçado que esse resumo do site da Globo omite totalmente Lauro Corona, foi a última novela dele e uma das tramas paralelas era seu romance proibido com uma judia, Ruth, interpretada por Deborah Evelyn. Manoel Victor, a personagem de Corona, era português e se apaixonara pela moça no navio. Ela se salvara do Holocausto. Apesar de proibir a filha de se relacionar com um não judeu, o pai da moça tinha uma filha negra fora do casamento, Sarah (Aída Leiner), dona de uma pensão por onde passam várias personagens da trama. Mais tarde, Ruth é colcoada em um casamento arranjado com Isaac, um rapaz judeu, Paulo Castelli, acredito que em seu último papel na Globo.
O outro núcleo importante era o do cortiço, que com a doença de Lauro Corona, se tornou mais dominante na trama. Acredito que essa novela nunca será reprisada, porque, bem, Lauro Corona está literalmente morrendo diante de nossos olhos e ele era um dos protagonistas, ainda que tenha ficado ausente da trama por vários capítulos. Revi os bastidores da trama no Youtube, está aí em cima e é muito triste ver o estado doa ator. No final, ele descobre ser cristão novo e consegue se unir à amada, que havia ficado viúva.
A italiana casada com um nordestino que a espancava, mas ela se liberta dele.
Enfim, eu achava a novela muito chata mesmo, não gostava da atriz Gabriela de Oliveira, então sendo projetada como protagonista de novela, mas meu professor de História Geral do 3º Ano deu uma aula inteira em cima da trama falando principalmente de imigração interna (de nordestinos) e externa (italianos, judeus, libaneses e outros, não lembro de japoneses) para São Paulo e sobre a industrialização e tudo mais. É exatamente por isso que acredito que seja uma novela importante em uma lista que trata de História do Brasil, pois ela fala da formação do nosso povo e da construção da maior metrópole brasileira. Isso é História, também.
7. Hilda Furacão (1998): Ah, todo mundo deve se lembrar da moça mineira de classe alta, a personagem título (Ana Paula Arósio), que desiste do casamento no dia da cerimônia e segue para a zona ainda vestida de noiva. Ela se torna uma prostituta lendária e acaba tendo um romance com um jovem seminarista dominicano, Malthus (Rodrigo Santoro). Há uma sinopse estendida no site da Globo. Se você assistiu a série, deve lembrar muito bem de Matheus Nachtergaele e Rosi Campos, como Cintura Fina e Maria Tromba-Homem, dois destaques da trama. Mas será que essa série merecia estar aqui?
Malthus passará por várias tribulações.
Para além do romance proibido, temos todo o pano de fundo do Golpe Civil Militar de 1964. É mostrada inclusive a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, Malthus participa dela. Mais tarde, o rapaz acaba se tornando um militante político e se juntando à ala progressista da igreja. Muitos dominicanos estavam envolvidos com esse movimento e sofreram prisão, torturas e até a morte, vide o filme Batismo de Sangue. Na trama, Malthus chega a ser preso. Mário Lago interpretava um velho comunista e melhor amigo de Padre Nelson, interpretado por Paulo Autran, as conversas dos dois eram muito importantes para definir as tensões daquele momento político conturbado. E, bem, Glória Perez é historiadora e quando ela quer, sabe fazer bem essas coisas.
O grande Paulo Autran era o padre conservador, mas boa pessoa. Não lembrava de Guilherme Karam na série.
Outra coisa que só vi em Hilda Furacão, a discussão da recepção do Concílio Vaticano II (1962-65) no Brasil. Ele permitiu, por exemplo, o uso das línguas vernáculas em substituição ao latim nas missas. As questões do concílio são abordadas através dos embates entre o padre velho e conservador e o jovem padre modernoso que acaba de chegar, interpretado por Marcos Frota. Havia, também, a relação com os fiéis, as carolas em especial, que renderam excelentes cenas. Hilda Furacão merece estar em qualquer lista de séries e novelas históricas, é um belo painel de uma época tanto quanto Éramos Seis, por exemplo.
Marcos Frota era o padre moderno em uma cidade do interior.
Sei lá, não assisti Memórias de um Gigolô (1986), mas é uma minissérie que, provavelmente, toca em questões históricas, só que eu não assisti. Mandacaru (1997-98) fala da repressão ao cangaço promovida por Vargas, além da política dos coronéis, mas sendo um produto complicado, ruim até, eu não me preocuparia em incluir. O que eu mais me lembro dessa trama é que ela não terminava nunca, meus pais adoravam. Tempo de Amar (2017-18) fala de Crise de 1929, imigração e da perseguição política que marcou o governo Washington Luís. Perseguição aos comunistas, aos anarquistas e todos os que pudessem ser uma ameaça. Poderia entrar, também. Mas é aquilo, toda lista vai deixar alguma coisa de fora e há muita coisa que eu não assisti, nem tenho informação. Tudo o que eu incluí, tenho na memória, então...
Valeria, MUITO OBRIGADA por essa lista e a indicação do documentário A NEGAÇÃO DO BRASIL! Ainda não fui ler o artigo do Nilson Xavier, mas o farei em seguida.
Gostaria de maratonar todas essas novelas e séries, de verdade! De todas que mencionou, a única que acompanhei do início ao fim foi DESEJO PROIBIDO, uma das minhas novelas preferidas. Você está revendo como? Pela Globo Play?? Adoraria revê-la também!
Amei o post!! Também acho que novelas e séries contam muito da história do Brasil, principalmente as mais antigas. Você está acompanhando Terra Nostra no Viva? Além das histórias principais q eu lembrava bem, tb estou amando relembrar esse período de adaptação da imigração italiana no Brasil. PS: Você viu que vai sair o filme de Downton Abbey em setembro?
Queria muito ver Pacto de Sangue no Viva e outras dessas obras. Obrigada pelo post! Também vi A Negação do Brasil recomendada por um post antigo seu e, se não me engano, você criticou a falta do trabalho da Thais Araújo no documentário, o que eu também achei. Mas achei uma obra ótima, apesar dos detalhes que faltaram. O Viva tá dando mancada ignorando obras mais antigas. Espero que retomem alguma dessas!
3 pessoas comentaram:
Valeria, MUITO OBRIGADA por essa lista e a indicação do documentário A NEGAÇÃO DO BRASIL! Ainda não fui ler o artigo do Nilson Xavier, mas o farei em seguida.
Gostaria de maratonar todas essas novelas e séries, de verdade! De todas que mencionou, a única que acompanhei do início ao fim foi DESEJO PROIBIDO, uma das minhas novelas preferidas. Você está revendo como? Pela Globo Play?? Adoraria revê-la também!
Amei o post!! Também acho que novelas e séries contam muito da história do Brasil, principalmente as mais antigas. Você está acompanhando Terra Nostra no Viva? Além das histórias principais q eu lembrava bem, tb estou amando relembrar esse período de adaptação da imigração italiana no Brasil.
PS: Você viu que vai sair o filme de Downton Abbey em setembro?
Queria muito ver Pacto de Sangue no Viva e outras dessas obras. Obrigada pelo post! Também vi A Negação do Brasil recomendada por um post antigo seu e, se não me engano, você criticou a falta do trabalho da Thais Araújo no documentário, o que eu também achei. Mas achei uma obra ótima, apesar dos detalhes que faltaram. O Viva tá dando mancada ignorando obras mais antigas. Espero que retomem alguma dessas!
Postar um comentário