Abro dizendo que quem não quiser ler sobre essa questão, pule. Há outros posts no blog. Agora, como professora e ex-aluna de universidade pública, preciso me posicionar. Vamos lá! O atual ministro da educação anunciou um corte de 30% das verbas de três universidades federais, a UFBA, a UnB e a UFF. Disse que estuda cortar verbas também da UFJF. Segundo o próprio, "Universidades que, em vez de procurar melhorar o desempenho acadêmico, estiverem fazendo balbúrdia, terão verbas reduzidas". Ainda acrescentou que “A universidade deve estar com sobra de dinheiro para fazer bagunça e evento ridículo”. Em primeiro lugar, existe a autonomia universitária, que é assegurada por lei. Em segundo lugar, o ministro se dá ao direito de julgar, talvez junto com seu guru da Virginia e o presidente, quais eventos são legítimos, ou não. Não é direito dele fazer isso.
UFBA, UnB e UFF são três das melhores universidades brasileiras em rankings internacionais. Vejam só: "O ministro ainda acusou UnB, UFBA e UFF de queda no desempenho. No entanto, elas se mantêm em destaque em avaliações internacionais. O ranking da publicação britânica Times Higher Education (THE), um dos principais em avaliação do ensino superior, mostra que Unb e UFBA tiveram melhor avaliação na última edição. Na classificação das melhores da América Latina, a Unb passou da 19.ª posição, em 2017, para 16.ª no ano seguinte. A UFBA passou da 71.ª para a 30.ª posição. A UFF manteve o mesmo lugar, em 45.º. Segundo a publicação, as três se destacam pela boa avaliação em ensino e pesquisa. E Unb e UFBA aparecem entre as 400 melhores instituições do mundo em cursos da área da saúde."
Desinformar, ou informar com mentiras, formando e reforçando uma opinião pública contra as universidades estatais faz parte do programa desse governo. Não há inocência nesses pequenos pronunciamentos e atos, é um projeto. Fora isso, o objetivo do governo é cercear a liberdade de expressão, intimidar e, claro, tornar a vida dos alunos e pesquisadores mais dura para reforçar os argumentos privatistas. Espero que consigamos sobreviver. Eu estava na universidade na época de FHC e foi difícil em term os MATERIAIS, a coisa agora é em duas frentes, a IDEOLÓGICA assumindo protagonismo. Não sei se serão tempos piores, o problema é que as pessoas foram acostumadas a serem tratadas de forma um pouco melhor no governo Lula e desaprenderam, ou não aprenderam a lutar. Quanto aos cortes orçamentários, eles vêm se acentuando desde o segundo governo Dilma. Como pontuei, a questão não é somente material em nossos dias.
Eu sei o que devo às universidades públicas, aos meus mestres e mestras e eu pago impostos bem altos, aliás. Sou contribuinte, também. E só posso pagar impostos altos, inclusive, graças em grande parte à excelente formação acadêmica que tive na UFRJ e UnB que me possibilitou conseguir bons empregos, no setor privado e no setor público. Como não sou egoísta, quero que mais jovens tenham as oportunidades que eu tive. Meu percurso não foi fácil, falei deles em outros posts sobre educação. Espero que eles e elas tenham ainda maiores possibilidades de sucesso e de escolha. Quero que Júlia, minha filha, possa escolher cursar uma universidade pública se quiser e tiver competência para tanto.
Agora, triste ver professores apoiando esse tipo de coisa, esse projeto de destruição do futuro e dos lugares de produção de conhecimento. E, mais ainda, ver ex-alunos das universidades públicas , gente que usou de todos os recursos possíveis em sua época, bolsas, cursos, e tudo mais, defendendo medidas assim. Mas deixa que um dia a corda aperta e a consciência, ou o bolso, vai pesar. De resto, recomendo o texto do Reinaldo de Azevedo chamado "Grosseiro e medíocre, ministro da Educação fere Carta e Lei de Improbidade". Aliás, ele já tinha apoiado que professores fossem filmados sem sua autorização no domingo, o que é contra a lei (*a Constituição, inclusive*) e regras de suas escolas. Difícil entender como alguém se vende como conservador e defende a indisciplina e o desrespeito, mas são tempos estranhos. Espero que tenhamos novo ministro em breve, resta saber se quem tem que agir, no caso, o Ministério Público, vai se mexer, ou a coisa terá que parar no STF.
ATUALIZAÇÃO (01/05): Em nota, o MEC disse que não puniu particularmente nenhuma universidade, mas cortou 30% das verbas de todas as instituições de ensino federais, ou seja, é castigo para todos. Mas o motivo? Ah, se aprovar a reforma da previdência, as coisas melhoram... Aham... Fora a chantagem vazia, já que o projeto é outro, quantos votos no congresso os alunos, professores e reitores tem no congresso para aprovar a reforma mesmo, ein? Outra coisa, a Rede, na figura do deputado Alessandro Molon (RJ) entrou com duas ações, uma no STF, por inconstitucionalidade, e outra no Ministério Público contra o ministro por improbidade administrativa. Que ambas resultem em mais uma baixa no MEC.
ATUALIZAÇÃO (01/05): Em nota, o MEC disse que não puniu particularmente nenhuma universidade, mas cortou 30% das verbas de todas as instituições de ensino federais, ou seja, é castigo para todos. Mas o motivo? Ah, se aprovar a reforma da previdência, as coisas melhoram... Aham... Fora a chantagem vazia, já que o projeto é outro, quantos votos no congresso os alunos, professores e reitores tem no congresso para aprovar a reforma mesmo, ein? Outra coisa, a Rede, na figura do deputado Alessandro Molon (RJ) entrou com duas ações, uma no STF, por inconstitucionalidade, e outra no Ministério Público contra o ministro por improbidade administrativa. Que ambas resultem em mais uma baixa no MEC.
1 pessoas comentaram:
Não sei se fico estremamente indignada com cada passo tomado por esse novo governo em relação a educação, ou se sou tomada pelo medo como professora, sobre o futuro das nossas crianças
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