Quinta-feira passada, dia seguinte à estreia, assisti Shazam! e foi um caso raro de trailer que confirmou-se por completo. O trailer foi uma pequena antecipação de um filme inteligente, engraçado e que consegue dialogar com vários tipos de audiência sem subestimar, ou ofender ninguém. O Capitão Marvel, cujo nome não é dito em nenhum momento, encontrou um intérprete perfeito em Zachary Levi, que convenceu como o adolescente em corpo de adulto tendo que assumir responsabilidades para além daquilo que jamais poderia imaginar. Ao terminar o filme, a vontade é de um pouquinho mais. Espero que a DC não tarde em fazer a continuação, porque ela será muito bem-vinda.
O resumo da história é mais ou menos o seguinte. O mago Shazam (Djimon Hounsou), guardião dos setem pecados capitais estava em busca de alguém que pudesse receber seus poderes e tornar-se o nov guardião. O filme começa com o encontro entre Shazam e o futuro Dr. Sivana (Mark Strong) em 1974. Então somente um menino, ele não se mostra digno de se tornar Shazam. Mais tarde, o jovem Billy Batson (Asher Angel), um órfão que não parava em nenhuma casa de acolhimento, termina sendo escolhido pelo mago já enfraquecido e se torna Shazam.
Os atores pareciam estar se divertindo em cena. Adoro ver isso! |
O Capitão Marvel, também conhecido como Shazam, nasceu em 1939. A década de 1930, marcada pela Grande Depressão foi uma época fértil para os quadrinhos de vários tipos, tratava-se de uma diversão barata que permitia que a população esquecesse temporariamente do desemprego, da fome, do desespero. Foi esta década que fez nascer o gênero de superaventura, Super-Homem, Batman e antos outros, como o Capitão Marvel. A graça de Shazam é que ele colocava em cena um garoto, e os jovens tinham muito pouca voz nessa época, recebendo os poderes de um herói lendário, tornando-se instantaneamente homem feito e enfrentando males que nem os adultos de verdade conseguiriam. Imagine como deveria ser libertador.
A primeira família heroica. |
Shazam! é um daqueles filmes que a gente termina de assistir e assistira de novo e de novo. Ao optar por um tom de dramédia, os realizadores fugiram do caráter sombrio de muitos filmes da DC e criaram um produto acessível para as mais diferentes faixas etárias. Vários assuntos sérios aparecem na tela, como o abandono parental e o conceito de família. Sem relevar a atitude da mãe do herói, que se perdeu aos três anos e sonhava em reencontrar sua família biológica, Shazam! pode induzir à reflexão de que a mulher que abandona a criança, não raro foi abandonada primeiro. De qualquer forma, esse tema marginal permite repensar o quanto super-valorizamos laços de sangue, algo cultural, e deixamos de perceber que relações sólidas e emocionalmente compensadoras podem nascer de onde menos se espera. A família acolhedora multirracial de Billy é maravilhosa nesse sentido.
Se você tivesse 14 anos e se tornasse adulto, o que você iria querer experimentar? |
Entre os atores jovens, Grazer foi o que se saiu melhor e suas cenas foram ótimas desde o primeiro momento. A minha única crítica é que o bullying praticado contra ele, especialmente, a história de atirar um carro sobre um menino, ainda mais de muletas, foi super-exagerado. Duvido que algo assim - deliberadamente atropelar uma pessoa - não resultaria em polícia sendo chamada e tudo mais. Agora, em um filme com tantas qualidades, essa bola fora, porque foi mesmo, pode ser relevada.
Um vilão com "V" maiúsculo. |
Falando do vilão, Mark Strong, que estava super elegante no filme, é um dos meus atores favoritos. Já lamentei em outras vezes que Hollywood adora pegá-lo para fazer o vilão, mas ele estava muito bem como o terrível Dr. Sivana. O vilão quebrava o tom de humor do filme com sua crueldade, ele efetivamente passava a imagem de ser capaz de toda sorte de atrocidades, por assim dizer. Daí, vinha o herói com sua inocência, sem entender, no início, que era uma questão de vida ou morte para ele, Shazam, para o futuro das pessoas que amava e o planeta. Mais tarde, revestido de certa segurança e tendo ajustado algumas questões emocionais, ele consegue retomar o poder da narrativa e colocar o vilão em seu devido lugar. Uma das suas armas? O humor. E foi ótimo.
Nos primeiros encontros, o herói, um garoto em corpo de adulto, não sabe o que fazer. |
Terminando, porque não quero dar spoilers, não. Vejam o filme! Ele é ótimo! O filme não cumpre a Bechdel Rule, acredito, mas está cheio de personagens femininas interessantes e de diversidade em quase todos os aspectos. É um filme sobre Shazam!, mas todo mundo tem espaço para trabalhar e aparecer. E temos aquelas boas mensagens sobre superação das adversidades (*Billy consegue ir além, o vilão, não*), perdão, perseverança, solidariedade, sacrifício e amor pelo próximo.
Agora, ele tem uma família. |
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