terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Comentando Minha Vida em Marte (Brasil, 2018)


Um dos filmes que assisti em casa, acredito que três anos atrás, e nunca resenhei para o blog foi Os Homens São de Marte... e É pra lá que Eu Vou.  Acredito que decidi assisti-lo depois de ver o primeiro Minha Mãe é uma Peça, fora isso, eu gosto bastante da Monica Martelli desde que a vi em uma novela.  Enfim, o filme faz rir, apesar de ser cheio de clichês sobre as mulheres e os homens (*Não vou mentir que me sinto mal de rir com certas piadas, mas a verdade é essa, eu rio, sim.*).  Cabe registrar, no entanto, que Os Homens São de Marte... tinha um roteiro estruturado com princípio, meio, fim, além de uma protagonista que passava por um crescimento ao longo da narrativa.  Já o filme dois... 

Minha Vida em Marte, já confirmado como sucesso de público, não precisava ser feito, é inferior ao primeiro e não enriquece em nada a história de Fernanda, a protagonista oficial da trama que, assim como o anterior, é baseado em uma peça de sucesso.  Fui conferir, sempre gosto de começar o ano assistindo uma comediota brasileira, e, realmente, deveria ter esperado para ver em casa.  Daí, essa resenha que deveria ter saído no início de janeiro,foi o segundo filme que assisti, mas continuava aqui, sem ser terminada, ou publicada... mas, enfim, vamos a algumas considerações.


Agora, organizando velórios, também.
Seis anos depois de encontrar o homem de sua vida, Tom (Marcos Palmeira), Fernanda (Mônica Martelli) vive um casamento morno que se sustenta muito mais pela presença da filha de quase seis anos, Joana (Marianna Santos), do que por qualquer outro motivo.  Com o casamento em crise, Fernanda, dona de uma empresa de cerimoniais, busca apoio em seu melhor amigo e sócio, Aníbal (Paulo Gustavo).  No decorrer do filme, Fernanda acaba tendo que tomar decisões difíceis e descobrindo que precisa seguir em frente e tomar decisões difíceis para o bem de sua qualidade de vida.

Diferente do primeiro filme, que tinha um roteiro mais ou menos consistente e amarrado, mostrando as dificuldades de uma mulher madura em conseguir um parceiro, Minha Vida em Marte parece carecer de uma estrutura sólida.  Em vários momentos, parecia que estávamos assistindo uma coletânea de esquetes de humor, algumas funcionando bem sozinhas, mas que em nada colaboravam para que pudéssemos compreender as transformações necessárias pelas quais Fernanda passava.  Algumas piadas, como as do sexy shop, foram esticadas ao extremo, sempre girando em torno de Paulo Gustavo.  Eu não tenho aversão ao comediante, muito pelo contrário, mas um dos problemas deste filme foi a presença excessiva de Aníbal, promovido que foi à co-protagonista.


Piadinha gordofóbica?  Tem também.
Enfim, Fernanda parece desesperada em sua busca de salvação para o seu casamento, tentando reencontrar o desejo pelo marido, um cara legal, e, ao mesmo tempo, não consegue parar de olhar em volta e desejar outros homens.  Defeito do filme?  Não, se a estrutura narrativa fosse mais coesa.  Separada, ela se torna presa do consumismo e de fórmulas de autoajuda para compensar sua carência e medo de ficar sozinha.  Há todo um mercado que se alimenta da solidão das pessoas com mais de 40 anos, mas o filme não explora piadas nesse sentido, o que é curioso, porque poderia render situações interessantes.  O filme se foca na necessidade de estar com alguém, de como isso é difícil quando se é uma mulher com mais de 40 anos.  OK, é uma opção.

Minha Vida em Marte se move freneticamente, com algumas esquetes funcionando realmente muito bem, como pontuei anteriormente, outras, nem tanto, e se agarrando a um fiapo de história.  Uma das esquetes  que mais gostei foi da festa do swing onde Aníbal leva Fernanda sem saber do que se tratava e que de cara ele solta que “Não confia em festa onde não tem gay”.  Ainda conectado a isso, há o jovem Theo (Lucas Capri), que se envolve com Aníbal e quando Fernanda pergunta se o moço é gay, a resposta de Aníbal é “Nos últimos vinte anos não nasceu nenhum hetero, nem nenhum gay, todo mundo é fluído”.


Consumir é uma forma de esquecer os problemas, ou tentar.
Há questões complicadas no filme, pois ele se apoia basicamente em um humor rasteiro.  Agora, uma mensagem que ele passa e que é complicada é a ideia de que pessoas, especialmente mulheres, porque trata-se de Fernanda, estariam velhas demais para certas atividades físicas.  Na verdade,a ideia é que mulheres envelhecem mais rápido que os homens. Afinal, o ex-marido de Fernanda consegue uma namorada com metade da idade dele (Fiorella Mattheis), enquanto Fernanda, por ser mulher, termina tendo que olhar para homens mais velhos que ela para não passar por ridícula. Por questões de gênero, a sociedade julga de forma diferente homens e mulheres na mesma situação, o filme poderia questionar isso, mas não o faz.

Em dado momento, Fernanda entra em uma aula de crossfit e acaba ferrando o joelho, o que possibilita toda uma série de piadas e comentários que enfatizam o quanto a atividade é inadequada para mulheres de idade avançada.  Ora, até eu, que de crossfiteira nada tenho, sei que trata-se de uma atividade para todas as idades, desde que, e isso é fundamental, o instrutor adapte o circuito às necessidades e possibilidades do praticante.  Já assisti entrevistas de vovós que fazem crossfit.  A coisa não funcionou, salvo para reforçar que uma mulher acima dos 45 anos está no fim da vida, por assim dizer.


Família perfeita, mas e a felicidade pessoal?
As piadas com Tom, um ecologista ferrenho, tendem a enfatizar o quanto gente como ele é chata e desinteressante. Em contrapartida, um sujeito superficial ao extremo como Aníbal, é colocado sob uma luz positiva, afinal, ele nos faz rir, enquanto ri de outras pessoas, como Tom, Fernanda, os anões da Branca de Neve.  Enfim, o humor de Paulo Gustavo no filme, e  ele ajudou no roteiro, não colabora para que possamos refletir sobre estigmas, preconceitos, é um humor que reforça toda a sorte de estereótipos.

Por outro lado, Minha Vida em Marte é competente em apresentar como um casamento pode se desgastar, deixar de ser compensador para os envolvidos, mesmo quando eles se admiram e respeitam.  Há, também, a questão da culpa em separar uma família. Vale a pena sacrificar sua vida, sua satisfação pessoal para  manter um casamento?  Será que toda família aparentemente feliz, é feliz de verdade?


Por qual motivo o português Ricardo Pereira não é português no filme?
O filme deve cumprir a Bechdel Rule em algum momento, ou não, mas não é um filme feminista de forma alguma, ou seu feminismo é tão capenga que não se sustenta em pé mesmo com um final até interessante.  Sim, eu me surpreendi com o desenlace da película, mas a ênfase na amizade e no empoderamento de mulheres maduras não tem um encaminhamento sólido ao longo do filme e meio que explode no final.  Que mais dizer?  Escalarem o português Ricardo Pereira como brasileiro foi ridículo.  Inexplicável mesmo. Como o filme está bombando, é possível que tenhamos mais aventuras em Marte, a qualidade delas, no entanto, talvez vá se tornando cada vez menor.


1 pessoas comentaram:

Fui um dos que assistiu o filme no cinema. Minha maior reclamação mesmo foram as piadas soltas, piada pela piada, toda hora que acontecia. Já marquei na minha mente: evitar filmes do Paulo Gustavo sem ler uma resenha antes.

Uma coisa que me incomodou muito, foi que a filha foi esquecida depois da separação. Ela não é citada, ela não aparece, nada mais!

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