quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Comentando Homem-Aranha: No Aranhaverso (EUA, 2018)


Quinta-feira passada, assisti Homem-Aranha: No Aranhaverso (Spider-Man: Into the Spider-Verse), comecei a escrever a resenha, mas parei diversas vezes e, por isso, o texto só saiu quase uma semana depois.  Quem acompanha o blog, sabe que não sou leitora regular de comics, mas costumo assistir a maioria dos filmes lançados no cinema.  Sabia dessa história de múltiplos universos com vários homens-aranha, porque meu marido tinha comentado, já que ele gosta da Spider-Gwen, ou, pelo menos, do visual do uniforme dela.  

Nem sabia do filme do filme do Aranhaverso até tropeçar no trailer e a Júlia (*minha filha de 5 anos*) decidiu que tinha que assistir de qualquer jeito.  Nesse meio tempo, Aranhaverso venceu o Globo de Ouro de animação, desde que comecei a resenha, o Critics' Choice Award.  Caminha com segurança para se tornaro primeiro filme de Super-Herói a receber um Oscar de Melhor Animação.  Tendo assistido ao filme, só posso afirmar que a vitória foi justa e que Aranhaverso merece toda a atenção e reconhecimento.  Wifi Ralph é fofo, mas o Aranhaverso é um filme completo.

Apenas um menino.
Resumo rápido da história é o seguinte: Miles Morales é um adolescente de classe média pressionado para atender às expectativas de seus pais, que o obrigam a estudar em um colégio interno de elite.  O menino gosta de grafitar e busca apoio no tio, Aaron.  O pai do rapaz, um policial, suspeita do Homem-Aranha e Miles termina por ser picado por um inseto radioativo em uma das suas escapadas para grafitar com o tio e ganha poderes semelhantes aos do amigo da vizinhança. 

Sem que o rapaz planeje, ele acaba cruzando com o próprio Homem-Aranha, que está tentando frustrar um dos planos do Rei do Crime que pretende esgarçar as fronteiras do espaço-tempo e ter acesso a outras dimensões.  O Homem-Aranha morre em combate, mas antes entrega para Miles um pendrive com um programa capaz de parar a máquina do Rei do Crime.  Morto o super-herói, Miles precisa se tornar o novo Homem-Aranha e salvar não somente o Brooklyn, ou a Terra, mas várias Terras.  Só que o garoto descobre que não está só, quando a arma foi acionada, vários Homens-Aranhas de dimensões paralelas terminaram vindo parar na sua linha temporal.  Eles são aliados, o tempo trabalha contra todos, e, se falharem, todos serão destruídos.

Mentor e discípulo.
Acredito nunca ter visto uma animação que dialogasse tão bem com o cinema convencional, com atores de verdade, e os quadrinhos.  Em certos momentos, parece que estamos lendo um comic book com direito às onomatopeias e balões.  Em outras sequências, a animação parece um filme live action.  Eu não vou conseguir achar a referência, mas lembro quando começou a Dreamworks, muito tempo atrás, eu sou velha, que saiu uma entrevista com Steven Spielberg na qual ele afirmava que a animação permitia que universos fossem criados e destruídos com facilidade, permitia, enfim, que você fizesse qualquer coisa com recursos mais limitados.  Aranhaverso é o melhor exemplo disso.  O resultado é realmente impactante.

Outra coisa que o filme faz muito bem é mesclar estilos de animação diferentes.  O Porco-Aranha (Peter Porker) parece saído de um desenho antigo da Warner com Patolino e Pernalonga. Há até uma piada com isso.  O que poderia tirar seriedade do filme, a existência de um ser tão irreal, não teve impacto negativo algum. Já Peni Parker e seu mecha-aranha saíram direto de um anime.  Já o Aranha Noir nos remete às tirinhas de jornais dos anos 1930, como as que eram feitas por Will Eisner.  Ele é uma referência direta ao The Spirit, na minha opinião.  Enfim, o filme do Aranhaverso nos oferece além desse deleite visual, uma história consistente, não somente a de Miles Morales, mas a da recuperação do Homem-Aranha original, no filme, um homem de 40 anos frustrado com suas escolhas.

Tentando encontrar a sua própria identidade.
Com a morte do Peter Parker do universo de Miles Morales, um jovem bem sucedido de 27 anos, é  o Homem-Aranha original que assume a tutoria de Miles contra a sua vontade.  O garoto, um gênio que conseguiu bolsa em uma escola de elite, um internato em plena Nova York, algo que vem a calhar para que ele possa dar suas escapadelas, já que seus pais são super protetores.  Nenhum super-herói consegue agir com pai e mãe no seu encalço.  Já o Homem-Aranha original, fora de forma e ainda apaixonado pela ex-esposa, Mary Jane, precisa redescobrir o lado bom de ser o super-herói.  Ele ajuda Miles, que se torna de fato o Homem-Aranha de seu universo, enquanto é ajudado a recomeçar sua vida.

Miles está descobrindo os seus poderes e tendo sérias dificuldades em dominá-los.  É, também,um menino.  Deve ter 15 anos, Peter Parker e Gwen temem por sua vida.  Absolutamente dependente dos pais e da sua aprovação.  Ele precisa crescer, definir que tipo de herói deseja e pode ser.  Qual o uniforme que irá utilizar.  O mesmo do Homem-Aranha original? por tudo o que vimos nesse filme, a Marvel tem em mão a possibilidade de criar muito material em cima do Arranhaverso e não somente com Miles.

Sentido de aranha.
A outra versão do Aranha que tem uma história e participação de destaque é Gwen Stacy.  Ao ser trazida para o universo de Miles, que não é o nosso, por assim dizer, há um descompasso na temporalidade.  Sua história particular é rascunhada – ela foi amiga do Peter Parker de seu universo, só que nele, foi a moça a picada pela aranha. Assim  como no universo de Miles, Peter Parker morreu e a jovem não consegue confiar integralmente em ninguém.  No entanto, ela tem plena consciência de que precisa unir forças com os demais Aranhas e impedir que o Rei do Crime (*não vou revelar os motivos*) destrua os universos para satisfazer um interesse pessoal, que não é econômico, nem tem a ver com poder.  

Em Aranhaverso, o vilão também tem um papel importante na história.  Ele é muito melhor do que a maioria dos vilões dos filmes da Marvel.  Quem acompanha minhas resenhas, sabe que eu elegi o vilão do último filmes do Homem Aranha o melhor vilão, seguido de Loki no primeiro Vingadores.  Depois, acrescentaria o vilão do Pantera Negra à lista.  Eu não assisti O Soldado Invernal, nem os filmes do Homem-Formiga, então, não tenho como avaliá-los. De qualquer forma, há mais dois vilões no Aranhaverso, o Gatuno (Prowler) e a Dr.a Octopus.  Eu não sabia que no universo de Miles, o vilão era uma mulher.  De qualquer forma, dos três vilões, ela é a menos interessante, porque é o cientista louco-malvado clichê, sem nada a acrescentar aqui.

O desejo do Rei do Crime pode levar à
destituição do universo. 
A função dos outros três Aranhas é limitada.  Alívio cômico, alguma fofura, certo ar ingênuo e, na batalha final, especialmente graças à Peni, aquele drama que enriqueceu a sequência inteira.  De qualquer forma, foi uma escolha interessante dos responsáveis pelo filme, limitarem a seis o número de Aranhas, já que há muitos mais no Aranhaverso.  Outra boa escolha, foi dar destaque maior para três deles.  Sim, outra personagem feminina de destaque é Tia May.

E estou acostumada a ver a tia de Peter Parker como uma velhinha fofinha.  A Tia May de Homem-Aranha de Volta para Casa, jovem e fogosa, me incomodou. Essa do Aranhaverso, transformada em uma espécie de Alfred (*Mordomo de Batman*) de um Home-Aranha rico e cheio de bugigangas, me pareceu realmente estranha.  Houve muita gente que gostou, junto com a Dr.a Octopus clichê, foi a outra coisa que me incomodou no filme.  OK, fazer o quê?  O filme tem muito mais acertos do que defeitos, muito mais!  E cumpre a Bechdel Rule consegue ser um filme no qual as mulheres são importantes e estão bem representadas.

Batalhas convincentes.
Concluindo, se você for adulto e tiver uma sala legendada perto de você, assista no original, porque o elenco de dubladores é MARAVILHOSO.  Em Brasília, eu teria como assistir o original, já no Rio... Outra coisa, há duas cenas pós-créditos, a primeira, é uma homenagem rápida à Stan Lee, que aparecem uma cena do filme, e Steve Ditko, criadores do Homem-Aranha e ambos falecidos em 2018.  A  outra cena é depois dos créditos, eu acabei saindo, e é com o Homem-Aranha 2099, ele é dublado por Oscar Isaac no original.  Enfim, por último, eu entendi a crítica que fizeram ao filme Homem-Aranha de Volta ao Lar.  Se pegaram tantos elementos de Miles Morales, por qual motivo o novo Aranha não era o próprio, um ator negro-latino.  De qualquer forma, eu gosto muito do Tom Holland e nada tenho a reclamar a respeito.

2 pessoas comentaram:

Não assisti ao filme ainda, porém o Rei do Crime, nos quadrinhos, é um mero gangster. Ele é um "capo de tutti capi", porém, ainda assim, um gângster, um vilão para ser inimigo de heróis que combatem a "raia miúda", heróis tais como o Homem Aranha e o Demolidor. Enfim ele não é o tipo de supervilão com poderes e recursos para tais esquemas envolvendo multi universos ou realidades alternativas. Nos quadrinhos (que eu não li por completo) havia uma organização de supervilões por trás da coisa toda.

Na verdade, a coisa bem sacada nessa Dra. Octopus é que o vilão não é mulher nas histórias do Miles também! Isso vem como uma surpresa completa para o público meio que para as pessoas entenderem que tudo pode acontecer.

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