Pessoal, estou utilizando o espaço do Shoujo Café para divulgar a Vaquinha de um amigo. Ele, que me deu duas das minhas gatinhas anos atrás (*Sookie e Yuripe*), tem uma gatinha de mais ou menos seis meses, a Fênix, e ela sofreu um acidente. Enfim, ele achou que a bichinha tinha entrado embaixo do automóvel, mas ela estava dentro do motor, ou sobre o pneu (*quando resgatamos o Kalil ele tinha se agarrado dessa maneira ao nosso carro*) e acabou sofrendo uma fratura. Ele já gastou mais de mil reais (*na página da Vaquinha ele dá o valor*) só com o primeiro atendimento. Tudo em Brasília é caro e os atendimentos públicos, ou de faculdades de veterinária, são disputadíssimos.
Enfim, a gatinha precisa de uma cirurgia e ele precisa levantar R$ 3.800,00. Sugeri que abrisse uma vaquinha e eu ajudaria a divulgar. Ele não tem experiência nessas coisas, eu colocaria a foto da gatinha, por exemplo, e está envergonhado. Fiz minha doação (*ela entra na segunda-feira*), meu marido fez outra, certamente outros amigos irão colaborar, mas se você quiser dar alguma ajuda, seremos muito gratos. E se for de Brasília, quem sabe, indicar um lugar onde ele possa levar a Fênix e os preços não sejam absurdos, a gente agradece MUITO.
Eu sei que estamos andando para trás, que, como disse Julinho em um episódio recente do Choque de Cultura, no Brasil o certo não é estar 40 anos no futuro, mas, sim, estar 40 anos no passado (*acho que foi no episódio do filme Bemblebee, não lembro direito*), mas a indignação desse vereador do Rio realmente merece ficar eternizada em um post.
Querem desconstruir a qualquer custo a figura masculina. Uma covardia com as nossas crianças. Fora Ideologia de Gênero! Veja o vídeo de Alexandre Isquierdo, vereador RJ. #IdeologiaDeGêneroNãopic.twitter.com/Eyzwl2wvFz
Pois bem, um ilustre vereador carioca indignou-se com o boneco de um Ken merman (*tritão, sereio, whatever*). O legislador, repleto de fúria divina, postou um vídeo no qual clamava contra a desconstrução da figura masculina (!!!) e que que estão fazendo (*Quem? Quem? Quem?*) uma covardia com nossas crianças em nome da (*ficção chamada*) ideologia de gênero. O que poderia ficar escondido, claro, ganhou mega proporções quando o tal vídeo foi repassado por um famoso pastor homofóbico gritalhão e que anda em maus lençóis com a Justiça.
Há outros "sereios" no filme, esse parece ser mais padrãozinho, não é?
Enfim, eu me engasguei de rir com o vídeo, mas, claro, deixar que esse tipo de pessoa ocupe lugar de mando e poder é muito perigoso. Muito mesmo. Vejam como o sujeito é obcecado por ver homossexualidade em todo lugar, mesmo no namorado da Barbie. E, ao que parece, eles nunca se fizeram tão presentes a política e em outras áreas estratégicas, como a educação e os direitos humanos. Esses tarados é que deviam deixar as crianças brincarem em paz. Deveriam, mas não vão. Engraçado é que eu estava vendo esse desenho da Barbie com Júlia dia desses, não vi tudo, mas sei que havia vários merman, esse lourinho se bem me lembro não era o namorado da Barbie, se é que tinha namorado. Achei tudo desagradavelmente forçado e colorido demais. A Júlia largou pela metade.
Rei Tritão e suas muitas fraq..., quer dizer, filhas.
Agora, é preciso ser muito bobo para não lembrar de outros merman, ou tritões, de outras animações. Tem um episódio com tritões em Dora Aventureira e, claro, tem o pai da Ariel em A Pequena Sereia. Se bem que podem desconfiar da masculinidade dele, porque, bem, ele só deu fraquejadas, já que todos os seus filhos são mulheres. E não as educou direito, afinal, Ariel entra em acordo com uma feiticeira para poder ir atrás de um macho na superfície... Enfim, de repente, os jovens sereios realmente tem algum problema...
O Sora News deu destaque para o último capítulo da série Hugtto! PreCure (HUGっと!プリキュア), que comemora os 15 anos da franquia. Fiz um post sobre o episódio em que um garoto se torna uma das PreCure, agora, tivemos um parto. Como esse post tem spoilers, continue por sua conta e risco.
Já em um episódio anterior da temporada, segundo o Sora News, houve um parto. A esposa de um dos professores de Hana, a protagonista, teve um bebê. O destaque foi a presença do pai atencioso na sala de parto. Não fui pesquisar, mas imagino que não deva ser comum, ou o pessoal do SN não se espantaria. Já no último capítulo, há cenas do futuro com a protagonista, Hana Nono, já adulta e tendo um bebê.
O SN relata que foram dois minutos com o trabalho de parto e nascimento do bebê que, para a surpresa de quase ninguém, era o mascote da própria série. Lembram que, em Sailor Moon, Chibiusa veio do futuro? O fato é que uma série realmente educativa para essa faixa etária não deve tratar o tema como tabu. Mesmo que com uma abordagem conservadora, porque o parto não parece ser humanizado, mas do tipo tradicional mesmo, é bem interessante que esteja lá. Talvez eu procure esse episódio para dar uma olhadinha. De resto, achei super fofo isso. 💗
Confissões de Adolescente foi uma série que tive muito prazer em assistir. Nunca li o livro, ou assisti a peça, mas vi a série de TV, e tenho o box com os episódios em algum lugar aqui em casa. Nem lembrava que teve filme par ao cinema em 2014, eu estava com Júlia pequena, foi o pior ano para ir ao cinema. Agora, como tomei ranço da autora, Maria Mariana, faz quase uma década, não sei se me empolgaria tanto em rever o material dos anos 1990, mas é interessante ressaltar que as experiências narradas no diário de uma adolescente, filha mais velha de um pai que educava sozinho quatro irmãs, trouxe para o palco e, depois, para a tela, a voz das meninas de minha geração.
Elenco da peça original.
Claro, havia o recorte de classe e racial, eu era de um grupo social muito diferente do daquelas meninas, ainda assim, como acontece com muitos materiais feitos por mulheres e para mulheres, há uma experiência comum que pode ser assimilada e há a empatia, também. Falava-se do difícil e doce relacionamento entre irmãs, de amor, de sexo, de contracepção, perspectivas profissionais, da relação entre pai e filhas, enfim, muita coisa. Era uma série feminista em muitos aspectos e de uma riqueza muito grande.
Não lembrava desse filme.
No original, lançado em 1994, a série de Daniel Filho e Alcides Nogueira, tinha como protagonistas Diana (Maria Mariana), Bárbara (Georgiana Góes), Natália (Danielle Valente) e Carol (Deborah Secco). Elas viviam com o pai, o viúvo Paulo (Luís Gustavo). Quando Deborah Secco foi fazer novela na Globo, a caçula da família passou a ser interpretada por Camila Capucci. Emm um determinado momento da segunda temporada, Georgiana Góes saiu, também, nesse caso, se bem me lembro, a personagem seguiu para um intercâmbio. Nunca gostei da Deborah Secco, a mudança de atriz não me incomodou, mas quando a Georgiana Goés saiu, eu fiquei chateada. Mas, enfim, é isso que sei até agora. Haverá série na Netflix, é esperar para ver.
Por causa do filme Bohemian Rhapsody, que vem sendo premiado e pode sair com pelo menos um Oscar na mão, muito material sobre o grupo Queen vem sendo lançado por aí. No Japão, saiu um Mook, que deve ser espetacular. O que é um Mook? É um livro, geralmente em um formato de revista, maior, às vezes, impresso em papel especial, com fotos lindas, alguns textos e, às vezes, entrevistas. Neste caso, o Mook The Age of Queen ~A Era in Rock~ contou com a participação de mangá-kas, no caso Riyoko Ikeda (*autora de Lady Oscar*) e Yasuko Aoike, criadora de Eroica yori Ai o Komete (エロイカより愛をこめて), que participa com uma entrevista, segundo o Comic Natalie.
Aoike é fã de rock, até porque Dorian Red Gloria, protagonista de Eroica, foi inspirado em Robert Plant do Led Zeppelin. Só falta ela na entrevista dizer que a inspiração foi o Brian May. 😊 Além disso, o Mook traz um pequeno mangá de Shima Atsuko chamado Keep Yourself Alive! e uma coluna da autora comentando a relação entre o shoujo mangá dos anos 1970 e 1980 e o rock. Está Eroica aí que não pose negar. Enfim, se eu soubesse ler japonês, eu comprava, com certeza.
Um dos filmes que assisti em casa, acredito que três anos atrás, e nunca resenhei para o blog foi Os Homens São de Marte... e É pra lá que Eu Vou. Acredito que decidi assisti-lo depois de ver o primeiro Minha Mãe é uma Peça, fora isso, eu gosto bastante da Monica Martelli desde que a vi em uma novela. Enfim, o filme faz rir, apesar de ser cheio de clichês sobre as mulheres e os homens (*Não vou mentir que me sinto mal de rir com certas piadas, mas a verdade é essa, eu rio, sim.*). Cabe registrar, no entanto, que Os Homens São de Marte... tinha um roteiro estruturado com princípio, meio, fim, além de uma protagonista que passava por um crescimento ao longo da narrativa. Já o filme dois... Minha Vida em Marte, já confirmado como sucesso de público, não precisava ser feito, é inferior ao primeiro e não enriquece em nada a história de Fernanda, a protagonista oficial da trama que, assim como o anterior, é baseado em uma peça de sucesso. Fui conferir, sempre gosto de começar o ano assistindo uma comediota brasileira, e, realmente, deveria ter esperado para ver em casa. Daí, essa resenha que deveria ter saído no início de janeiro,foi o segundo filme que assisti, mas continuava aqui, sem ser terminada, ou publicada... mas, enfim, vamos a algumas considerações.
Agora, organizando velórios, também.
Seis anos depois de encontrar o homem de sua vida, Tom (Marcos Palmeira), Fernanda (Mônica Martelli) vive um casamento morno que se sustenta muito mais pela presença da filha de quase seis anos, Joana (Marianna Santos), do que por qualquer outro motivo. Com o casamento em crise, Fernanda, dona de uma empresa de cerimoniais, busca apoio em seu melhor amigo e sócio, Aníbal (Paulo Gustavo). No decorrer do filme, Fernanda acaba tendo que tomar decisões difíceis e descobrindo que precisa seguir em frente e tomar decisões difíceis para o bem de sua qualidade de vida.
Diferente do primeiro filme, que tinha um roteiro mais ou menos consistente e amarrado, mostrando as dificuldades de uma mulher madura em conseguir um parceiro, Minha Vida em Marte parece carecer de uma estrutura sólida. Em vários momentos, parecia que estávamos assistindo uma coletânea de esquetes de humor, algumas funcionando bem sozinhas, mas que em nada colaboravam para que pudéssemos compreender as transformações necessárias pelas quais Fernanda passava. Algumas piadas, como as do sexy shop, foram esticadas ao extremo, sempre girando em torno de Paulo Gustavo. Eu não tenho aversão ao comediante, muito pelo contrário, mas um dos problemas deste filme foi a presença excessiva de Aníbal, promovido que foi à co-protagonista.
Piadinha gordofóbica? Tem também.
Enfim, Fernanda parece desesperada em sua busca de salvação para o seu casamento, tentando reencontrar o desejo pelo marido, um cara legal, e, ao mesmo tempo, não consegue parar de olhar em volta e desejar outros homens. Defeito do filme? Não, se a estrutura narrativa fosse mais coesa. Separada, ela se torna presa do consumismo e de fórmulas de autoajuda para compensar sua carência e medo de ficar sozinha. Há todo um mercado que se alimenta da solidão das pessoas com mais de 40 anos, mas o filme não explora piadas nesse sentido, o que é curioso, porque poderia render situações interessantes. O filme se foca na necessidade de estar com alguém, de como isso é difícil quando se é uma mulher com mais de 40 anos. OK, é uma opção. Minha Vida em Marte se move freneticamente, com algumas esquetes funcionando realmente muito bem, como pontuei anteriormente, outras, nem tanto, e se agarrando a um fiapo de história. Uma das esquetes que mais gostei foi da festa do swing onde Aníbal leva Fernanda sem saber do que se tratava e que de cara ele solta que “Não confia em festa onde não tem gay”. Ainda conectado a isso, há o jovem Theo (Lucas Capri), que se envolve com Aníbal e quando Fernanda pergunta se o moço é gay, a resposta de Aníbal é “Nos últimos vinte anos não nasceu nenhum hetero, nem nenhum gay, todo mundo é fluído”.
Consumir é uma forma de esquecer os problemas, ou tentar.
Há questões complicadas no filme, pois ele se apoia basicamente em um humor rasteiro. Agora, uma mensagem que ele passa e que é complicada é a ideia de que pessoas, especialmente mulheres, porque trata-se de Fernanda, estariam velhas demais para certas atividades físicas. Na verdade,a ideia é que mulheres envelhecem mais rápido que os homens. Afinal, o ex-marido de Fernanda consegue uma namorada com metade da idade dele (Fiorella Mattheis), enquanto Fernanda, por ser mulher, termina tendo que olhar para homens mais velhos que ela para não passar por ridícula. Por questões de gênero, a sociedade julga de forma diferente homens e mulheres na mesma situação, o filme poderia questionar isso, mas não o faz.
Em dado momento, Fernanda entra em uma aula de crossfit e acaba ferrando o joelho, o que possibilita toda uma série de piadas e comentários que enfatizam o quanto a atividade é inadequada para mulheres de idade avançada. Ora, até eu, que de crossfiteira nada tenho, sei que trata-se de uma atividade para todas as idades, desde que, e isso é fundamental, o instrutor adapte o circuito às necessidades e possibilidades do praticante. Já assisti entrevistas de vovós que fazem crossfit. A coisa não funcionou, salvo para reforçar que uma mulher acima dos 45 anos está no fim da vida, por assim dizer.
Família perfeita, mas e a felicidade pessoal?
As piadas com Tom, um ecologista ferrenho, tendem a enfatizar o quanto gente como ele é chata e desinteressante. Em contrapartida, um sujeito superficial ao extremo como Aníbal, é colocado sob uma luz positiva, afinal, ele nos faz rir, enquanto ri de outras pessoas, como Tom, Fernanda, os anões da Branca de Neve. Enfim, o humor de Paulo Gustavo no filme, e ele ajudou no roteiro, não colabora para que possamos refletir sobre estigmas, preconceitos, é um humor que reforça toda a sorte de estereótipos.
Por outro lado, Minha Vida em Marte é competente em apresentar como um casamento pode se desgastar, deixar de ser compensador para os envolvidos, mesmo quando eles se admiram e respeitam. Há, também, a questão da culpa em separar uma família. Vale a pena sacrificar sua vida, sua satisfação pessoal para manter um casamento? Será que toda família aparentemente feliz, é feliz de verdade?
Por qual motivo o português Ricardo Pereira não é português no filme?
O filme deve cumprir a Bechdel Rule em algum momento, ou não, mas não é um filme feminista de forma alguma, ou seu feminismo é tão capenga que não se sustenta em pé mesmo com um final até interessante. Sim, eu me surpreendi com o desenlace da película, mas a ênfase na amizade e no empoderamento de mulheres maduras não tem um encaminhamento sólido ao longo do filme e meio que explode no final. Que mais dizer? Escalarem o português Ricardo Pereira como brasileiro foi ridículo. Inexplicável mesmo. Como o filme está bombando, é possível que tenhamos mais aventuras em Marte, a qualidade delas, no entanto, talvez vá se tornando cada vez menor.
Apareceu para mim no Twitter agorinha uma matéria do Asahi Shimbum lamentando o encerramento do mais antigo jornal em língua japonesa de nosso país, o São Paulo Shimbum. Se primeiro número foi lançado em 12 de outubro de 1946, quando foram suspensas as proibições às publicações em japonês em nosso país por causa da II Guerra, o jornal tinha como responsabilidade fornecer informação de qualidade para a comunidade nipo-brasileira ainda dividida por causa da guerra. O jornal também ajudava a localizar parentes que tinham se desgarrado no processo de imigração, além de prestar outros serviços à comunidade japonesa brasileira, a maior fora do Japão, somando mais de 2 milhões de pessoas.
Mas por qual motivo o jornal foi cancelado? Segundo a matéria, o auge da publicação foi nos anos 1960, quando a primeira (issei) e a segunda (nissei) geração de japoneses no Brasil dominava o idioma. As novas gerações não leem o jornal, porque em boa parte não dominam a língua e eu acrescentaria, também, preferem outros meios de comunicação. Aliás, os donos do jornal sabem disso, porque pretendem continuar na internet.
Enfim, nos últimos 20 anos, o jornal, que era publicado cinco vezes por semana, vinha passando por dificuldades. Tendo recebido o importante prêmio Kikuchi Kan, em 1977, pelos serviços prestados à comunidade japonesa, o jornal, hoje mal se mantinha de pé. Dos 80 mil exemplares dos anos 1960, a tiragem tinha caído para 10 mil. A última edição, datada de 1 de janeiro, foi publicada em 22 de dezembro. Agora, o único jornal em língua japonesa ainda em circulação no Brasil é o Nikkey Shimbun. Há uma matéria sobre o cancelamento do jornal no Japan Times, também. Acabei de localizar.
Quando anunciaram a produção de um seriado de TV sobre Catarina de Aragão, uma das minhas esposas favoritas de Henrique VIII (*o cara teve SEIS, convém lembrar*),eu até me empolguei. Afinal, a escalação de uma atriz (Charlotte Hope) loura, branca e de olhos azuis batia com as descrições da princesa e as representações iconográficas de época. Para vocês terem uma ideia, salvo por uma outra produção que não coloca a princesa morena simplesmente por ela ser espanhola. Daí, eu vi que era continuação direta da série The White Princess e que era baseado em romances de Philippa Gregory, aliás, um romance que eu tenho em casa, A Princesa Leal, e minhas expectativas foram lá para baixo. O trailer está aí embaixo:
Poderia escrever um texto sobre os problemas desse trailer, mas vou pontuar somente um deles, Henrique, o então Príncipe Harry, era seis anos mais novo que Catarina de Aragão. Uma criança quando a conhece, ela fora mandada para a Inglaterra para se casar com seu irmão mais velho, Arthur, não um rapaz como se pode ver no trailer. O vestido de noiva, o povo do Frock Flicks já tinha desmembrado quando apareceram as primeiras imagens. Enfim, nada me cheira bem. Pode ser um grande espetáculo, mas a História mesmo deve passar longe. É isso por agora.
Esse anúncio foi feito na semana passada e eu terminei esquecendo de postar. Enfim, não esperava muita coisa de 2019, mas os anúncios interessantes estão se acumulando e eu, depois de um bom tempo, terei mangás em português que eu realmente vou comprar com gosto. Um deles, Otouto no Otto (弟の夫) de Gengoroh Tagame. Aliás, dentre os anúncios recentes, este é o único que eu não tinha comprado em inglês, porque efetivamente estava caro demais em inglês. Muito bem, o mangá foi a estréia de Gengoroh Tagame, um dos mestres do Bara Mangá, no mangá mainstream, por assim dizer. Ele publicou a série na revista seinen Manga Action (*a mesma de Orange*) entre 2014 e 2017, recebendo elogios e prêmios. Em 2017, série virou dorama.
Sensível, Otouto no Otto, ou O Marido do Meu Irmão, é um drama familiar que aborda temas ligados à diversidade não somente sexual, mas da forma como as famílias são organizadas (*tudo aquilo que o povo que tomou o poder no Brasil parece odiar, ou não querer ver*). A história gira em torno de Yaichi um pai que cuida sozinho de sua filha Kana, cuja vida é totalmente mudada com a chegada do canadense Mike Flanagan, que se declara o viúvo de Ryoji, seu irmão gêmeo. Enfim, são somente quatro volumes, mas imagino que a Panini deva lançar o material por um preço acima da média de seus mangás. De qualquer forma, aguardo ansiosamente, segundo o anúncio oficial, chega em março. Tagame deve continuar publicando seinen, até falei disso esses dias.
A Netflix anunciou o anime baseado em 7SEEDS, série de ficção científica premiada de Yumi Tamura, ano passado. Muito bem, o Comic Natalie anunciou que a estreia é em abril e trouxe informações sobre o character design e elenco. Como o ANN publicou tudo organizadinho, facilitou a minha vida.
Se vocês quiserem ter informações sobre dubladores, visitem o ANN, no CN há imagens maiores das personagens. A página da série é esta aqui. O Twiter da série é este.
Fazia tempo, acredito que desde O Discurso do Rei (2011), que eu não acompanhava e postava sobre a maioria das premiações de cinema norte-americanas, mas, bem, não é todo o dia que um filme de super-herói, ainda mais um como Pantera Negra é indicado para Melhor Filme no Oscar. Por isso mesmo, a gente vai comentar SIM. Além disso, é raro ter um filme sobre mulheres recebendo tantas indicações, caso de A Favorita, ainda que o filme tenha saído de mãos vazias.
Muito bem, o SAG (Screen Actors Guild) tem uma categoria que deveria ser incluída no Oscar que é Melhor Elenco. Às vezes, um filme, tem um trabalho de elenco maravilhoso, como o citado O Discurso do Rei, e todo mundo deveria ser lembrado pelo trabalho de equipe, enquanto que individualmente, o brilho é menor, ou não será premiado, porque, bem, a competição é muito grande. Sei lá, será que me fiz entender? Por exemplo, A Esposa, que eu assisti recentemente, não tem um trabalho de elenco que mereça destaque, o filme se sustenta em desempenhos individuais, nesse caso, Close e Pryce. O fato é que o elenco inteiro de Pantera Negra estava ótimo e o filme levou o prêmio de Melhor Elenco de Dublês. Os outros indicados eram Nasce Uma Estrela, Infiltrado na Klan, Bohemian Rhapsody e Podres de Ricos.
Em melhor atriz, Glenn Close superou Olivia Colman (A Favorita), porque, sinceramente, estava entre as duas mesmo. Ambas venceram o Globo de Ouro de Melhor Atriz em categorias diferentes, Darma e Comédia/Musical. Melhor ator foi para Rami Malek, no Globo de Ouro, ele e Christian Bale (Vice) tinham recebido Melhor Ator em categorias diferentes. Não sei se melhor ator está mais aberto do que Melhor Atriz.
Melhor Atriz Coadjuvante foi para Emily Blunt (Um Lugar Silencioso) e Mahershala Ali (Green Book - O Guia). Ele tinha recebido o Globo de Ouro, ela nem estava indicada. Mahershala Ali está indicado ao Oscar de melhor coadjuvante, Blunt não está indicada. Aliás, acho que muita gente está torcendo por Amy Adams, ela parece uma das sempre lembradas e nunca premiadas.
É isso. Vamos esperar as próximas premiações. E, sim, eu sei que Pantera Negra não vai vencer Melhor Filme no Oscar, aliás, nem quero que isso aconteça, mas merece outros prêmios e elogios. E, se você clicar no nome do filme, vai cair na resenha feita para o blog.
Semana passada, falhei em publicar o jornal. Não deu, perdi o timing, estou de ferias, afinal, mas o importante é que o blog continue funcionando. Começo já escrevendo que nenhuma notícia da semana pode suplantar a tragédia de Brumadiinho (MG) e ainda que não seja assunto ligado aos temas que normalmente aparecem no nosso blog, já falamos de tragédias antes e deixarei recomendação de alguns vídeos no final que ajudam a pensar o que está acontecendo e o que podemos fazer para evitar que coisas assim possam voltara ocorrer. E, só para marcar mais uma vez, este blog é escrito sob uma perspectiva feminista e quem estiver lendo precisa ter isso em mente.
Naomi Osaka fazendo História no tênis.
1. Naomi Osaka se torna o primeiro asiático, homem, ou mulher, a liderar o ranking profissional de tênis. Falei da jovem tenista essa semana por causa da propaganda da Nissin que branqueou-lhe a pele, tinha falado dela antes, quando a atleta japonesa venceu o Aberto dos Estados Unidos vencendo Serena Williams na final. Pois bem, essa menina brilhante venceu o Aberto da Austrália ontem. Espero que ela consiga outros triunfos por ela, porque tem méritos para isso, pelo Japão, e para ajudar a derrubar muitas ideias racistas que ainda se sustentam por aí. Para quem não sabe nada sobre Osaka, a jovem é filha de mãe japonesa e pai haitiano e os próprios japoneses não sabem como lidar direito com ela.
Jackelyne, carreira e vida interrompidas.
2. Jackelyne Silva, promessa da ginástica artística brasileira, morre aos 17 anos. Se tivesse feito o jornal na semana passada, não teria comentado o caso dessa menina, que pleiteava um lugar na equipe principal de ginástica de nosso país, porque aguardava detalhes do caso. A jovem levou um tombo em casa, convulsionou, foi levada para o posto médico, retornando pelo menos três vezes. A família argumenta que houve erro de diagnóstico e negligência médica. Não há nada de conclusivo e a imprensa parou de falar do caso, como a família de atleta é pobre, a coisa deve cair no limbo. O que me dói, é ver uma adolescente perder a vida dessa forma, comprovada a negligência no atendimento, a coisa potencializa a dor dos pais, no entanto, não deveria ser tratado como questão privada, é crime, e exige punição.
1. "Então, chegamos a um acordo, avida começa com a emissão de esperma. A masturbação masculina está oficialmente banida." 2. "Exceto em casos de doação de esperma, claro."
3. E se as mulheres governassem e tratassem os homens como eles nos tratam? A artista norte-americana Katie Rose fez uma série de cartoons retratando um mundo no qual as mulheres dominassem a política, a imprensa, as políticas públicas e tratassem os homens como eles, normalmente, nos tratam, com desdém, com condescendência, como se estivéssemos no mundo em função deles.
1. "Eu me preocupo com os homens. Eu tenho um marido e um filho. Meu pai era um homem." 2. "Eu conversei com os homens nas minhas relações sobre meu plano, e sabem de uma coisa? Eles concordam comigo!"
Alguns da seleção são muito americanos, por assim dizer, mas, a maioria, se aplicaria a nós sem problema. Escolhi dois e traduzi os balões na legenda.
Mais episódios de She-Ra em abril.
4. She-Ra ganha segunda temporada. Os novos episódios estreiam 26 de abril na Netflix. Parece que a nova abordagem da personagem agradou em cheio o público, ou vários públicos, e teremos mais personagens e novas histórias. Eu só vi um episódio de She-Ra até o momento, se tiver forças para retomar, faço uma resenha. O Newsrama trouxe uma entrevista com a criadora da série, Noelle Stevenson, vale a leitura.
Surpresa!
5. Mulher não sabia que estava grávida e tem filhas gêmeas no banheiro de casa. Já assisti vídeos, li depoimentos e matérias sobre mulheres que não sabiam que estavam grávidas e tiveram UMA CRIANÇA só. Duas, nunca. A moça menstruou a gravidez inteira, não teve nenhum sintoma, nada. Foi ao banheiro fazer xixi e teve a primeira menina. Ligou para o serviço médico e recomendaram que aguardasse a placenta. Bem, veio outra menina. Estava com 37 semanas e só achava que estava "gordinha". Estou postando, porque estou um tanto chocada. Agora, obviamente, estou ciente de que parir deveria ser simples, senão se fizesse tanto terror em torno disso.
Mulheres na Arábia Saudita.
6. Falando em gravidez e parto, mulheres sauditas agora poderão decidir sobre como querem parir, inclusive optar por uma cesariana, sem depender de seu guardião. Sim, segundo a leitura da Sharia vigente na Arábia Saudita, mulheres precisam de um guardião (*pai, irmão, marido, filho, outro parente masculino, tutor*) que decida por elas uma série de coisas, como se elas podem trabalhar, ou viajar ou casar, enfim, quase tudo. Não sabia eu que podia controlar até questões como essas e, pior, para ter informações sobre data prevista de parto, ou estado de sua gravidez, as sauditas precisavam de um autorização por escrito, ou o médico somente falaria para o guardião.
E que ninguém venha dizer que é medieval, porque não é. Na Idade Média, seja no Ocidente, ou no Oriente, gravidez era assunto de mulheres e só era coisa pública se envolvesse rainhas, ou imperatrizes. É aviltante que o corpo de uma mulher seja controlado nessas minúcias por qualquer pessoa que não seja ela mesma.
Takakito Usui, 45 anos, solicitou a mudança de seus documentos sem a obrigatoriedade de esterilização compulsória. Sua demanda foi recusada.
7. Japão obriga os transsexuais a se esterilizarem em caso de transição de gênero. Esta semana, a Suprema Corte no Japão legislou contra a comunidade trans. Uma ação pedia a suspensão da chamada Lei 111, que obrigada pessoas que passavam por um processo de transição de gênero, solicitando alteração nos documentos e tudo mais, a se esterilizarem. A lei tem somente 15 anos, ou seja, é bem recente, mas vai contra o que as pessoas trans consideram seus direitos humanos, por assim dizer.
Infelizmente, muito mesmo, o Japão é um país de grandes contrastes, moderno, avançado, com índices invejáveis de desenvolvimento humano, porém é machista, homofóbico, transfóbico e racista em larga medida. Na minha avaliação, um dos motivos é o controle sobre a sociedade de homens velhos (*gerontocracia*) boa parte deles sem sensibilidade em relação aos que não fazem parte do seu grupo, ou círculo de interesses.
As saias curtas não são convite ao assédio.
8. Saias curtas são responsáveis por ataques sexuais. No Japão, existe um termo “chikan” que se aplica aos homens que bolinam mulheres no transporte público. Já falamos disso no Shoujo Café mais de uma vez (*Exemplo: 1 - 2*) e qualquer um que leia mangá, ou assista anime, já viu a situação representada de várias maneiras. Pois bem, o Sora News publicou sobre um escândalo envolvendo uma das maiores empresas que produzem uniformes escolares, a Kanko, e que produziu um pôster com os seguintes dizeres. “A saia curta que você ache que é kawaii provoca crimes sexuais. E não é apenas uma medida preventiva para você mesma, mas para suas amigas e companheiras, também”.
Enfim, esse tipo de mensagem segue aquela linha que culpa as mulheres e meninas pelas agressões sexuais que sofrem, afinal, bastava se vestir de forma modesta e decente. O culpado, o responsável, é sempre o agressor e pesquisas feitas em países como o Egito, onde a maioria das mulheres andam cobertas, apontam que o assédio existe independente disso. Aliás, é uma forma de controle das mulheres e de sua presença no espaço público. Só estão mais ou menos seguras as acompanhadas.
O tal cartaz.
A coisa foi parar no Twitter, a reação foi muito ruim. Curiosamente, a empresa se desculpou dizendo que a propaganda fotografada em uma estação de metrô era de 2012, ou seja, demorou muito tempo para gerar a necessária indignação. O pedido de desculpas sugeriu, no entanto, que, na época, a ideia estava de acordo com as diretrizes da polícia, ou seja, passou a bola para as autoridades. A polícia, ao que parece, não se pronunciou. O SN, no entanto, enfatizou que a discussão serve para pelo menos uma coisa, lembrar que as mulheres não são culpadas, que suas roupas não são responsáveis pelos ataques de pervertidos.
Não foi acidente, foi crime.
9. Brumadinho (MG), mais uma tragédia, não, não, o termo adequado é CRIME. Anteontem, começou mais uma tragédia fruto de crime ambiental. Leis ineficientes, punições leves demais, e estamos ainda contando os mortos e tentando dimensionar dos danos econômicos e ambientais. Pois bem, registro que o governo atual agiu de forma rápida e muito mais humana e eficiente do que o Governo Dilma, no caso de Mariana. Mesmo com sua cirurgia marcada para amanhã, segunda-feira, o presidente Bolsonaro se fez presente no local da tragédia em menos de 24 horas, além de instituir poucas poucas horas depois do ocorrido um gabinete de crise.
Não foi acidente, foi crime.
Espero sinceramente que a política ambiental que ele mesmo, Bolsonaro, tinha planejado, seja revista. Há tempo, e Brumadinho está aí mostrando o quanto a tolerância com empresas gananciosas não é bom para ninguém. Pois bem, termino o jornal recomendando três vídeos. O do Henry Bugalho foi o primeiro a ser publicado e discute o quanto essas tragédias são frequentes, porque as vidas ficam em segundo plano em relação aos lucros; o da Sabrina do Tese 11 é a análise de uma eco socialista sobre os problemas do sistema que fazem com que tragédias assim sejam frequentes; o último vídeo, o do Pirula, tem palavrões demais, mas traz uma análise robusta do caso todo e das futuras tragédias. Saber que Ouro Preto pode ser destruída em breve me deu angústia. É isso, por favor, assistam os três vídeos. Eles valem a pena.
O compositor francês Michel Legrand, criador dos clássicos de "Os Guarda-Chuvas do Amor" (1964) e "Duas Garotas Românticas" (1967) faleceu ontem, aos 86 anos. Legrand recebeu 3 prêmios Oscar, o primeiro deles pela canção "The Windmills Of Your Mind" em 1969. Seus outros prêmios foram por As outras duas foram pela trilha sonora de "Houve uma Vez um Verão, de Robert Mulligan (1971), e por "Yentl" (1984), de Barbra Streisand. Indicado 27 vezes ao Grammy, recebeu cinco prêmios
Ele fez muito mais, claro, e está aqui por ter sido o compositor da trilha sonora do filme da Rosa de Versalhes (1979), o primeiro mangá adaptado para o cinema no Ocidente. Obviamente, não é um dos seus trabalhos mais importantes, mas eu tinha que comentar. Procurando, vocês encontram vários fragmentos da trilha no Youtube. Eu deixei somente a abertura, aí, embaixo.
Dia 18 fiz a resenha de um mangá Harlequin bem levinho e curto que eu tinha lido, também, que se passava na Inglaterra, no Período Regencial (1811-1820). Comentei que tinha lido outro da mesma autora, Louisie Allen, e da desenhista Karen Miyamoto. Dessa vez, a desenhista é Takako Hashimoto. Como pontuei na outra resenha, normalmente, compro livros das séries históricas e, quando mangá, que tenham boas desenhistas. Se a artista for muito boa, abro uma exceção para romances contemporâneos ou os de sheik (*que me dão certo nervoso*), caso, por exemplo, da Yoko Iwasaki. Tenho um mangá de sheik dela para resenhar... (*Shame on me*)
Capa do volume #1.
OK, um dos motivos para comprar Torawareta Otome (とらわれた乙女), que saiu em 2016 no Japão, é que ele reúne tudo isso e de quebra se passa em um período histórico que não é muito explorado, aliás, é bem pouco retratado, o final do Império Romano do Ocidente. Não fosse isso, talvez não comprasse o material, porque o título original em inglês,que é de 2007, é muito ridículo, Virgin Slave, Barbarian King. Cafona ao extremo. A versão mangá foi lançada em dois volumes, mas pode ser comprada em um volume só na sua versão em inglês.
Capa do volume #2.
Torawareta Otome tem um plot super comum nesses livros Harlequin. A mocinha é sequestrada por um sujeito de um outro povo/cultura/família/clã, o inimigo, enfim. Depois do choque inicial, a mocinha percebe que ele não é tão mal assim, na verdade, é um sujeito muito honrado e se apaixona por ele. O cara, obviamente, também passa amar a mocinha, admirar seu caráter. Pode até tê-la sequestrado por já estar apaixonado, mesmo sem saber. Cabe, claro, à autora fornecer os elementos adicionais que tornem a história clichê interessante para a leitora. Louisie Allen faz isso muito bem e é curioso ver como a artista japonesa toma caminhos próprios na sua adaptação com resultados bem interessantes.
A mocinha é ameaçada por homens de seu próprio povo e salva pelo inimigo.
O livro começa em 410 d.C. com o saque de Roma pelos Visigodos, um dos povos bárbaros germânicos que penetrou no território romano, depois de servir por muito tempo ao Império como federados, isto é, povo que servia militarmente ao romanos em troca de compensações. Os visigodos, liderados por Alarico, foram traídos, e atacam Roma. Isso tendo a irmã do imperador, Gala Placidia, uma das mulheres mais importantes do século V, como refém. O que nem o livro, nem o mangá fala, é que os visigodos estavam buscando vingança, pois os romanos massacraram mulheres e crianças indefesas de seu povo e outros povos germânicos. É uma omissão considerável.
Wulfric é poderoso, ameaçador e fascinante.
O Imperador, Honório, não está na capital, fazia tempo que os governantes preferiam outras cidades mais limpas e seguras, como Ravena. A capital de fato, ainda que não de direito, do Império do Ocidente. Já escrevi aos montes e ainda não falei da história do livro/quadrinho, das personagens em si, porque uma das características de Virgin Slave, Barbarian King é compor um sólido pano de fundo com o uso de personagens históricas, além com uma preocupação com detalhes que, normalmente, não recebem tanta atenção das autoras.
Julia tenta escapar da escravidão e Wulfric reafirma que não irá libertá-la.
Enfim, a protagonista do livro é uma jovem chamada Julia Livia, filha de um senador, noiva de outro senador, membro de uma das famílias mais poderosas de Roma. O tempo todo a autora repete que ela era patrícia, mas isso não era tão importante assim no século V, enfim... Durante o saque da cidade, sua mãe ordena que ela saia com uma jovem escrava para buscar joias que ficaram escondidas em casa (*ridícula essa situação, no mangá o pai fica furioso quando descobre o que a esposa obrigou a filha a fazer, mas vamos lá*). As duas moças são abordadas por mercadores em fuga. Eles querem violentar Julia e acabam matando sua escrava. A moça é resgatada por um visigodo de nome Wulfric e seu lobo de estimação.
Visigodos assediam a "escrava" Julia, mas ela é "mulher" de Wulfric e não deve ser tocada.
O guerreiro fica chocado com o fato de Julia mostrar-se insensível em relação à escrava morta, ela sequer sabe seu nome. Já a moça lhe mostra gratidão, mas olha para o guerreiro como um inferior. Ele decide levá-la como escrava e aplicar-lhe uma lição. Ela tenta suborná-lo e até convencê-lo a levar pessoas que eram já escravas com ele, o que o deixa muito furioso. Enfim, Lívia acaba tendo que seguir com os bárbaros e termina aprendendo que a convivência com eles não é tão ruim assim. Fora isso, um forte sentimento nasce entre os dois, ainda que ambos resistam. Wulfric pode se tornar o próximo rei dos visigodos e precisa de uma esposa adequada, tudo o que Julia não é, ainda mais reduzida à condição de escrava.
Julia se espanta com a forma como Wulfric trata as crianças e os que lhe são inferiores.
Virgin Slave, Barbarian King, tanto o livro, quanto o quadrinho, são bem legais de se ler, tanto que quis ler os dois. A autora criou um elenco de personagens coadjuvantes que tem função na história, por assim dizer, e dão mais consistência à narrativa que não fica simplesmente centrada no amor de Wulfric e Julia. E é um livro grande, mas de 300 páginas que foi transformado em um mangá Harlequin de dois volumes, algo raro.
Una torce por Julia e a apoia e ensina tudo o que pode.
Julia é absolutamente incompetente nas prendas domésticas e resiste ao comando do seu senhor. Acaba, no entanto, sendo acolhida por Una, uma parenta distante do guerreiro e membro do seu clã. A mocinha é tomada de simpatia por ela, já Una sabe exatamente o que está acontecendo entre Wulfric e Julia, mesmo que os dois não se deem conta ainda. Una se torna uma irmã mais velha de Julia, algo que ela nunca teve. Já o irmão de Una, escudeiro de Wulfric, despreza a moça no início para, mais tarde, passar a vê-la como parte de sua família. Uma coisa que Julia faz desde o início é aprender a língua dos visigodos. Ela ouve com atenção e termina conseguindo entender cada vez mais. Os visigodos conversam com Julia em latim e, sim, pela longa convivência, vários visigodos sabiam a língua dos romanos, mesmo que com limitações.
Julia fica chocada ao saber que a princesa foi capturada pelos bárbaros.
Um recurso clichê utilizado na história é o de colocar a família de Julia como sendo fria e distante. Assim, fica fácil para a jovem romana ver qualidades nos bárbaros, admirá-los na forma como se protegem e cuidam uns dos outros, inclusive dos escravos. Curiosamente, no mangá, a autora dosa melhor as coisas. O pai e a mãe de Julia não são tão ruins assim, até se preocupam com ela e não somente com a honra da família. Já no livro, tanto pai, quanto mãe, são desprezíveis. Assim, daquele tipo que compete entre os mais terríveis que eu já vi na ficção. O noivo de Julia, no original, praticamente não aparece, ele só é mencionado e comparado, sempre para seu demérito, com Wulfric, já no mangá, ele é mais desprezível que os pais da moça.
Julia se apaixona e começa a imaginar e sonhar que está nos braços de Wulfric.
Diferente de uns dois livros Harlequin que li vários anos atrás, Wulfric é extremamente respeitoso com a mocinha, isto é, ele não é um estuprador, além de ser um bom cristão. Há a relação de violência estabelecida desde o início, afinal, ela foi sequestrada e escravizada, mas ela poderia continuar eternamente virgem se quisesse. Tal e qual em Entre Irmãs, o filme e o livro, com seus cangaceiros incapazes de atentar contra a virtude de uma donzela. Sim, isso é uma fantasia das mais alucinadas, tipo o inverso do estupro "consentido", mas parece que é recorrente tanto nos romances românticos populares, quanto em outras obras de ficção mais refinadas, por assim dizer. O mocinho estuprador não é bem visto por algumas leitoras e isso é um alívio.
O pai, a mãe e o noivo de Julia.
Tanto no livro, quanto no mangá, há cenas de sonho, de desejo contido, até de embate (*a cena do banho de Wulfric*) entre os dois antes que eles consumem seu amor. No livro, Julia provoca mais do que no mangá. No quadrinho, ela demora mais a se entregar. Só que, curiosamente, há mais sexo no mangá, do que no livro. Curiosamente, também, a cena de sexo mais quente do livro não está no mangá. Os acontecimentos, aliás, divergem bastante em certos pontos. Vamos a um exemplo.
Sunilda é representada como a adversária típica dos shoujo/josei mangá.
Wulfric precisa de uma esposa adequada para lutar pelo trono quando o rei Alarico morrer. A moça em questão se chama Sunilda e é filha de um outro chefe de clã. No livro, ela é introduzida mais tardiamente. É orgulhosa e Una e Berig não gostam dela, porque a moça os vê como inferiores. Só fala com eles, e sempre de cima, para não desagradar Wulfric. Una prefere que Wulfric se entenda com Julia, joga lenha na fogueira, mas todos estão cientes que ele precisa casar corretamente, ou não terá chance na corrida de sucessão e ele é um rei em potencial. Aqui, cabe esclarecer que a maioria dos povos bárbaros germânicos não tinha sucessão de pai para filho como regra.
Jullia apaga depois de costurar Wulfric e ele se deita ao lado dela.
O rei era o melhor entre pares, daí, o sucessor poderia ser eleito. Quando a regra era indicar um parente, poderia ser filho, mais de um, aliás, ou irmão. Essa coisa de filho de rei, rei é, demora a se estabelecer entre os povos germânicos. Voltando para Sunilda, no mangá ela participa muito mais do que no livro. Takako Hashimoto a transforma na típica rival dos shoujo mangá, ela provoca, ela cutuca, e ela está presente em sequências nas quais ela não está no livro, como quando Wulfric duela e fica ferido. No livro, Julia é obrigada a costurá-lo, no mangá, Sunilda quer ser a enfermeira. Sunilda também tem a possibilidade de se reabilitar, tal e qual uma Sae de Peach Girl, ou a Maho de Karekano. Poderia fazer uma lista.
A autora trabalha bem com as cores. Essa é a página inicial do volume #2, quando Wulfric e Julia fazem amor pela primeira vez.
Uma divergência grande em uma sequência existente tanto no livro quanto no mangá, é a da luta entre Sunilda e a mocinha. Julia não quer brigar, mas é provocada e acaba se engalfinhando com Sunilda. No livro, forma-se uma roda e ninguém intervém, nem quando Sunilda puxa uma faca para a mocinha, logo no início da sequência e, não, no final, quando está perdendo a luta, como no mangá. Só quando as duas "se entendem" à moda visigoda (*e nem tenho informação de que se isso é historicamente preciso*), é que os homens, Wulfric e o pai de "noiva" do mocinho, aparecem para levar as duas para as tendas cheios de orgulho. No livro é a última cena de Sunilda.
Julia conta para Una que não é mais virgem e sonha com os bebês que não pode ter.
No mangá, Hashimoto, coloca os homens apartando a briga, como se fosse uma vergonha o que estava acontecendo. Wulfric cuida das feridas de Julia tanto no livro, quanto no mangá, mas no quadrinho, eles terminam fazendo sexo, enquanto no original, ele somente serve de enfermeiro mesmo, afinal, tinham chegado a um acordo de que Julia, que nunca tinha dito que o amava, iria ajudá-lo a ser rei e, não, servir de obstáculo.
Veja como o livro é colocado dentro dos moldes narrativos dos mangás. Observem a forma como a rival é representada.
Falando nisso, antes mesmo dessa briga, quando os visigodos planejam partir para a África, Wulfric deseja deixar Julia para trás. Ela fica muito mais furiosa no livro, o mangá ostra pouco da sua raiva, assim como omite uma cena na igreja. Falando em religião, o livro não se aprofunda na questão, tanto romanos, quanto visigodos eram cristãos, mas os bárbaros eram arianos, isto é,em linhas gerais não acreditavam que Jesus Cristo fosse tão Deus quanto o Pai.
Os homens apartam a briga no mangá, o livro, eles deixam rolar.
No mangá, o Takako Hashimoto meio que passa batida na questão religiosa, talvez por completa ignorância, da mesma forma que parece representar romanos do século V como romanos do século I, mas nesse aspecto, o livro não me parece tão melhor assim. Enfim, Wulfric decide deixar Julia sob a guarda de um magistrado para que ela seja remetida de volta para casa. Ele lhe dá uma compensação monetária pela sua virgindade perdida, além de uma de suas joias de grande valor. Ela decide que vai fugir e se encontrar com os visigodos novamente, já que frustrados na sua partida para a África, eles se dirigirão para o norte, para a Gália (*atual França*) e passarão por Roma.
Sunilda, agora redimida, avisa que Julia foi levada.
Tanto no livro, quanto no mangá, Julia engana o magistrado e sua esposa. Ela descobre que a escrava que lhe deram como criada é visigoda e decide levar a mocinha com ela. Há certa divergência de detalhes, mas é basicamente a mesma coisa no original e no mangá. Julia usa o dinheiro para comprar a moça e cavalos, já que Ingulde entende bem deles, ambas se vestem com roupas masculinas e fogem. o que não está no mangá é a explicação de Julia para a esposa do magistrado a respeito de sua virgindade. Ela mente dizendo que continua donzela, porque Wulfric tinha interesse por meninos, no caso, o escudeiro.
O noivo de Julia, no mangá, é um desgraçado. Ele faz as vezes da mãe dela no livro.
Enfim, outra personagem que aparece mais no mangá do que no livro é a princesa Gala Placidia. No mangá, ela chega a conversar com Julia e sugerir que ela deveria fugir, já que assim desejava. No livro, Julia só vê a princesa, que termina se casando com o sucessor de Alarico,Ataulfo, à distância. É esse casamento que frustra as possibilidades de Wulfric, ou outro, no caso Willa, personagem que foi cortada do mangá, de tentarem assumir o trono. Apesar de Julia e Gala Placidia não interagirem, a protagonista é "resgatada" pelos romanos, que pensam se tratar da princesa. No mangá, ela é levada do acampamento visigodo em um ataque, no, livro, ela é capturada no meio de uma batalha.
No livro, Julia não interage com Gala Placidia, nem Wulfric, aliás.
O fato é que ela é entregue aos seus pais e tratada como prisioneira por eles. No livro, ela não nega o envolvimento com um visigodo, apanha da mãe, é trancada em seus aposentos. Raramente vi uma família tão horrorosa. Serem desagradáveis já bastava, mas a autora do original, Louisie Allen, pesa a mão. Já no mangá, essa parte final acontece de forma mais rápida. De qualquer forma, Wulfric vem resgatá-la e precisa parecer um romano, por conta disso, ele corta os seus cabelos, que ele via como sagrados, e sua barba. Há várias cenas anteriores no livro e no mangá, na qual a importância dos cabelos para ele é ressaltada, Julia tem dificuldades para entender, mas acaba amando os cabelos dele.
O choque de Julia ao vê-lo com cabelos curtos.
Ponto importante, no mangá, ele nunca teve barba. Normalmente, as japonesas não gostam de barba, Procure um mocinho de josei, ou shoujo, barbado, ele não existe, ou é uma exceção. Engraçado é que, no mangá, o pai de Lívia tem barba. E, bem, ele é um sujeito meio vilanesco. Por isso mesmo, não há a cena de Lívia maravilhada em ver o rosto de Wulfric pela primeira vez que e bem legalzinha. Também, não há a cena de sexo nesse reencontro no mangá, afinal, eles não estavam na abstinência que estavam no livro.
A autora do mangá faz questão de dar um final feliz para cada uma das personagens secundárias.
Curiosamente, Takako Hashimoto faz questão de contar o final de todas as personagens. No livro, isso não ocorre. O mangá fala que Una, que estava grávida, teve uma filha enquanto Julia estava em Roma. É contado do casamento de Gala Placidia e Ataulfo. Sunilda recebe um final para ela, aliás, ela se torna ex-vilã quando dáo alarme do sequestro de Julia. Isso, aliás, também é coisa do mangá. No livro, Wulfric vê, mas não tem como fazer nada. Já tinha visto mangás Harlequin mudarem algo do livro original, mas nunca nesse nível, ou com tanta preocupação nos detalhes.
Julia, agora, pode ter os filhos que tanto deseja.
Concluindo, o Wulfric do livro é bem semelhante ao do mangá. Já a Julia do livro é mais forte e temperamental, também. No mangá, ela tem uns rasgos de inteligência que não estão no livro original, Julia é sagaz e ponderada, mas nada espetacular, agora, no quadrinho ela é mais sensível, vulnerável que no livro. Ela desmaia, coisa que não ocorre no livro. Enfim, se querem um veredito, ambos os materiais são interessantes. Clichê em certos aspectos, mas não ofendem a inteligência de ninguém. São divertidos, românticos, tem personagens interessantes e um bom pano de fundo histórico, ainda que longe de ser perfeito. E as cenas de sexo são boas, isso também conta bastante.