Houve uma brincadeira no Facebook na qual as pessoas teriam que listar 15 filmes que marcaram a sua vida. Enfim, 15 é muito pouco, mas eu participei e fiz a minha lista. A gente não podia postar o nome e, bem, houve dias que ninguém descobriu qual o filme que eu tinha colocado. Por conta disso, pensei que daria um bom post para o blog a explicação do motivo pelo qual tais filmes me marcaram. Sugeriria todos os filmes, claro, ainda que um deles eu tenha assistido muito tempo atrás e precise rever. Aliás, eu vou tentar fazê-lo nas férias, porque baixei o filme e trouxe para as férias. Sempre que tiver resenha, ou post sobre o filme no blog, eu irei colocar o link. A primeira parte da lista está aqui.
Mick Travis fala em morte durante boa parte do filme. |
Dia 6 – Se... (If..., 1968) – Direção: Lindsay Anderson – 111 minutos.
- "O jovem Mick Travis (Malcolm McDowell) estuda em um colégio que faz parte do tradicional sistema de educação particular da Inglaterra (*"public school" em inglês britânico é o tipo de escola aberta para qualquer um que possa pagar suas taxas*). Totalmente infeliz com sua realidade estudantil, Mick se torna o líder dos Crusaders, um grupo de alunos rebeldes que lutam por mudanças. Insatisfeitos com o excesso de conservadorismo e com as opressões impostas pelo sistema de educação do país, os Crusaders planejam uma grande vingança."
- Faz muito tempo que não assisto esse filme, muito mesmo, mas a primeira vez que assisti If... eu tinha 14 anos e estava no 1º do Ensino Médio,no outro dia,vários colegas estavam comentando o filme e repetindo algumas das falas de Travis. Na época, If... foi o filme mais subversivo que eu já tinha assistido. Seja na narrativa, que era fragmentada, alternando colorido e preto &branco, seja na mensagem de franca revoltados jovens contra o sistema. Sim, porque o filme foi produzido em 1968 e estava bem no espírito desse ano que completou meio século em 2018. Para se ter uma ideia, o final do filme é um um massacre durante uma cerimônia, o aniversário do colégio,acho, no qual Mick e seus Crusaders se vingam dos poderes instituídos (*o diretor, o bispo, o general etc.*) e dos colegas cúmplices (*os alunos que ocupavam o topo da hierarquia da escola e ministravam punições com toda crueldade*).
Os três só conseguem sentir desprezo pelo sistema. |
- Para quem assiste ao filme, e basta pegar qualquer artigo sobre ele, fica claro que o colégio é, assim como o Ateneu de Raul Pompéia, uma representação em menor escala da sociedade. É, também, o lugar onde é forjado um modelo de masculinidade violenta (*E Mick Travis é um macho violento*) e calcada na humilhação (*castigos físicos, estupro, bullying etc.*) dos inferiores: os mais jovens, os mais fracos, os negros, as mulheres, os pobres etc. Travis e seus colegas estavam na escala intermediária do sistema,por assim dizer. Poderiam subir, poderiam cair, mas preferiram colocá-lo abaixo. O primeiro tiro é na testa do diretor, que se fazia de bom e misericordioso, enquanto chancelava todo o sistema baseado na exclusão e na violência.
- E, bem, aquele monte de armas poderiam efetivamente estar na escola, sabe? Anos atrás, estava lendo sobre colégios ingleses e efetivamente algumas ofereciam um tal programa de cadetes, ele ainda existe, mas não na maioria das escolas. Treinamento militar, mesmo não sendo um colégio militar, era basicamente isso. O filme ganhou a Palma de Ouro em Cannes, em 1969, e o desempenho de Malcolm McDowell lhe garantiu o papel de protagonista em A Laranja Mecânica.
Ele se apaixona por um retrato. |
Dia 7 – Em Algum Lugar do Passado (Somewhere in Time, 1980) – Direção: Jeannot Szwarc – 100 minutos.
- "Universidade de Millfield, maio de 1972. Richard Collier (Christopher Reeve) é um jovem teatrólogo que conhece na noite de estreia da sua primeira peça uma senhora idosa, que lhe dá um antigo relógio de bolso e diz: "volte para mim". Ela se retira sem mais dizer, deixando-o intrigado. Chicago, 1980. Richard não consegue terminar sua nova peça, decide viajar sem destino certo e se hospeda no Grand Hotel. Lá visita o Salão Histórico, repleto de antiguidades, e fica encantado com a fotografia de uma bela mulher, Elise McKenna (Jane Seymour), que descobre ser a mesma que lhe deu o relógio." (*Adoro Cinema*)
- O filme é lindo, Christopher Reeve e Jane Seymour ficam maravilhosos juntos, o figurino é espetacular, a música tema é belíssima, mas esse filme me marcou, porque eu perdi uma questão do vestibular da UFRJ por causa dele. Na véspera da prova específica (*História, Geografia, Redação, acho*),meu irmão assistiu Em Algum Lugar do Passado TRÊS VEZES. Ele assistia o VHS e rebobinava. Eu estava no meu quarto revendo alguns pontos da matéria, porque ainda teria o casamento de um amigo para ir à noite. Resultado, a data 1912, ano para o qual o protagonista volta,ficou grudada no fundo da minha cabeça. Caiu uma questão na prova de História sobre revoltas ocorridas na década de 1910, só que eu cismei que a Revolta da Chibata tinha ocorrido em 1912. Era uma certeza tão grande que eu errei,só depois percebi que tinha feito a lambança por causa do filme.
Um dos casais mais bonitos que eu já vi em um filme. |
- De qualquer forma,apesar da premissa absurda, o sujeito voltar no tempo de tanto desejar e ficar olhando para o retrato da amada, é um filme bem legalzinho. O roteirista é o mesmo autor do livro que lhe de origem (*Bid Time Return*), Richard Matheson. Eu acho o livro melhor, porque fica claro desde o início que o retorno no tempo poderia ser produto da doença do protagonista, ele tinha um tumor inoperável no cérebro. No livro, Collier é mais velho, também, e retorna para o século XIX, acredito que 1892,vinte anos antes. Se não me engano, e faz muito tempo que não vejo o filme, há uma piada com isso, porque o terno que o sujeito arranja para voltar no tempo, estaria fora de moda,vinte anos atrasado, por assim dizer. Tanto o livro, quanto o filme, são legais.
Mulher, cientista e pagã... Ia dar em desgraça. |
Dia 8 – Alexandria (Agora, 2009) – Direção: Alejandro Amenábar – 126 minutos.
- "Para quem não conhece a história do filme, ele começa em Alexandria do Egito, a segunda cidade mais populosa do Império Romano, no fim do século IV, quando Teodósio I transforma o cristianismo em religião oficial do Estado. Hyphatia (Rachel Weisz), filósofa, matemática, astrônoma e médica (*embora o filme não comente isso*), vivia e ensinava na prestigiosa escola da cidade. É através dos olhos de Hyphatia e de seu escravo Davos (Max Minghella) que assistimos a ruína do que tinha sobrado da velha ordem pagã, que luta para não morrer, e o nascimento de um mundo cristão cada vez mais intolerante. Davos é apaixonado pela filósofa, assim como Orestes (Oscar Isaac), seu aluno e futuro prefeito da cidade. Depois da trágica destruição da escola de filosofia, o filme dá um salto no tempo e nos coloca em uma Alexandria cristã, nela Davos se tornou membro de um grupo de fanáticos cristãos, os parabolani, que estão a serviço do bispo, Cirilo (Sami Samir), que quer ser o maior poder e autoridade da cidade, e para isso, precisa derrotar o prefeito. A forma mais direta é roubar dele a pessoa que mais ama, sua amiga e antiga mestra Hyphatia. O final do filme, claro, é trágico..." (*Minha Resenha*)
Hyphatia nem percebia todo o amor que Orestes (Oscar Isaac) nutria por ela. |
- Eis um filme que eu amo, gosto muito mesmo com todos os defeitos que eu aponto na resenha (*leia, por favor*). Gosto, especialmente, porque ele trabalha muito bem a história da ciência e como os dogmas também existem nessa área. Hyphatia consegue ter o insight de questões importantes ligadas, por exemplo, à gravidade, mas ela vivia em um mundo científico que acreditava que a terra estava fixa. Não é somente a religião que pode ser um agente de castração, a ciência pode cristalizar certas ideias que inibem o pensamento crítico e abordagens criativas. A situação da protagonista me dava angústia.
- Outra questão importante do filme é como a exclusão econômica e intelectual, no caso de Davos, que era um escravo extremamente inteligente, podem atirar uma pessoa no fanatismo. Toda energia que Davos poderia utilizar nos estudos e no progresso da ciência, se lhe fosse permitido,acaba sendo canalizada em uma fé que adquire matizes violentos. E, bem, Agora é ótimo, porque tem o Oscar Isaac usando vestimentas romanas. Eu tenho fetiche por roupas romanas. 😊
No início, a personagem de Sean Penn é debochada e resistente. |
Dia 9 – Os Últimos Passos de um Homem (Dead Man Walking, 1995) – Direção: Tim Robbins – 122 minutos.
- "Em Louisiana, a freira católica Helen Prejean (Susan Sarandon) passa a ser guia espiritual do condenado Matthew Poncelet (Sean Penn). Ela luta pela vida do homem, que espera ser executado a qualquer momento pelo assassinato de dois adolescentes. Quando a data se aproxima, os verdadeiros eventos do crime são revelados e Matthew luta com as suas emoções." (*Adoro Cinema*)
- Outro filme que faz muito tempo que não assisto. Enfim, é um filme muito bom e politicamente engajado, a sua causa é questionar a moralidade da pena de morte, o direito do Estado de tirar a vida de alguém. O melhor desse filme é que ele não tenta nos fazer ter pena do criminoso, a personagem de Sean Penn, ele não o trata como vítima, as vítimas são o casal de adolescentes. O central ao filme é tentar nos fazer refletir sobre o pagar mal com mal e que justiça é diferente de vingança. E há uma outra questão, também, como a maioria dos executados eram negros, o governador queria acelerar a execução de Poncelet por razões políticas e, repito, o filme não defende o criminosos. O cara não presta mesmo e o máximo que acontece é ele se deixar tocar pela dedicação da religiosa que quer salvar sua alma.
Poncelet é vítima da barbárie do Estado, mas responsável pelos crimes que cometeu. |
- Há quem não saiba,ou queira saber, mas a pena de morte não é consenso nos EUA. Ela vigora em 30 dos 50 estados, a maioria, portanto, mas já esteve suspensa no país entre 1967 e 1977. Os EUA e o Japão são as únicas democracias importantes do mundo a terem a pena capital, o que é alvo de crítica nos fóruns internacionais, como a ONU. O filme recebeu quatro indicações ao Oscar: melhor atriz (*venceu*), melhor ator, melhor diretor e melhor canção original. O filme foi baseado no livro escrito pela freira dominicana Helen Prejean, que milita tanto contra a pena de morte, quanto contra o aborto.
Avigdor recita um poema de amor no ouvido de Yentl para que ela o diga para a sua noiva. Constrangimento. |
Dia 10 – Yentl (Yentl, 1983) – Direção: Barbra Streisand – 131 minutos.
- "Interior da Polônia, 1904, Yentl (Barbra Streisand) é filha única e seu pai viúvo (Nehemiah Persoff), um conceituado rabino, lhe ensina tudo o que sabe, no entanto, era escandaloso que uma mulher quisesse estudar o Talmud e ousasse se questionar sobre o mundo e as coisas de Deus. Com a morte do pai, a jovem se traveste de homem,adotando o nome de seu falecido irmão, Anshel, e parte para uma cidade maior, onde pretende frequentar uma yeshiva, uma escola teológica judaica. No caminho, ela conhece o Avigdor (Mandy Patinkin),que se torna seu amigo e confidente, mas Yentl, outrora imune ao amor,começa a ter sentimentos pelo rapaz,que é noivo de uma moça rica, Hadass (Amy Irving). Yentl é admitida na yeshiva, mas o noivado de Avigdor é desfeito quando seus sogros descobrem que o irmão do jovem cometeu o suicídio. Desesperado, Avigdor pede que Yentl lhe faça um grande favor e se case com sua antiga noiva..."
- Yentl é um filme maravilhoso por tratar de várias questões muito sérias e ser, ao mesmo tempo, um musical. É espetacular, também, por ser um filme feminista até a medula,apesar de ser baseado em um livro que beira a misoginia. Eu li o livro e ele é extremamente desagradável. O autor do original, Isaac Bashevis Singer,nunca perdoou Streisand por ter feito de Yentl um ícone feminista e transgressor. Eu tenho lado nessa história e é o de Barbra Streisand, obviamente. A Yentl de Streisand é uma espécie de donzela guerreira que, ao ser descoberta,não aceita morrer, nem que essa morte seja viver ao lado do homem que ama. Ela quer viver e ela continua sua busca pelo conhecimento.
Yentl comete um pecado sem precedentes, ela se casa com uma mulher. |
- Há dois textos no Shoujo Café sobre Yentl (*1-2*), nenhum deles é uma resenha. Eu deveria rever o filme e fazer uma de verdade, mas sempre me falta tempo, ou esqueço, enfim. Eu adoro tudo em Yentl, mesmo o que parece (*e é*) meio brega e clichê. Amo todas as músicas. Recentemente, comprei um CD com as músicas de uma montagem brasileira do musical, algo modesto, algumas versões da músicas poderiam ser melhores (*na minha opinião, claro*), mas como fã,achei que valia a pena prestigiar a cantora. E, para fechar com perfumaria, acho o Mandy Patinkin lindo nesse filme. Isso também enriquece o filme.
Acredito que dessa leva de filmes, todos eu vi,ou na TV, ou em VHS, ou DVD. Tenho minhas dúvidas sobre Os Últimos Passos de um Homem. Realmente, não lembro se vi o filme no cinema, mas acredito que não. Alexandria, eu torci para que estreasse, mas ele foi direto para DVD.
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