Os Eltons no centro da cena. |
Terminei de assistir a minissérie Emma de 1972 e tenho que escrever a segunda parte da resenha. Se você caiu aqui de pará-quedas, por favor, leia a primeira parte, lá faço, inclusive, o resumo rápido do livro de Jane Austen. A primeira parte da resenha cobriu três capítulos e a maioria das personagens, agora, vamos para os outros três.
Tinha comentado ontem que para uma adaptação de Emma, Mr. Knightley aparecia muito pouco. continuo defendendo que, proporcionalmente, John Carson apareceu menos que outros Mr. Knightley. A questão é que como a série é extensa, eles tinham seis capítulos, afinal, houve muitas cenas sem a presença de Mr. Knightley, algo mais raro que em outras adaptações, além de cenas novas inventadas para essa versão. A sequência do piquenique em Box Hill, chave em qualquer adaptação do livro de Austen foi particularmente pequena nessa versão.
Miss Bates sempre inconveniente. A Emma de 1972 é a mais impaciente com ela. |
Havia poucas pessoas, Jane Fairfax e Mr. Elton não estavam presentes. Agora, o diálogo no qual Emma destrata Miss Bates foi muito bem apresentado. Constance Chapman é uma das melhores, talvez a melhor, a mais irritante, com certeza, Miss Bates. E Doran Godwin é uma excelente Emma, depois que a gente se acostuma com a linha de interpretação da atriz. Ela parece realmente ser uma Emma mais velha, já solteirona, por assim dizer, não a quase adolescente mimada que eu me acostumei a ver.
A reação de Mr. Knightley é contida. Ele não pega Emma pelo braço, sequer toca nela. Na verdade, o tom é quase de repulsa pelo que ele acreditava que a moça estava se tornando. Há, claro, a decepção, sentimento muito bem marcado na expressão facial de John Carson, mas existe, também, o ciúme, pois para Mr. Knightley, Frank Churchill havia conquistado o coração de Emma. E a linhazinha de diálogo que meio que define a interpretação de Mr. Knightley nessa cena "badly done, Emma!", não é usada por ele.
John Carson compõe um Mr. Knightley bem humorado, ainda que contido e um tanto rígido. |
Falando nos dois, como a minissérie é mais extensa, colocaram uma cena bem interessante, que normalmente fica de fora. Ela foi rearranjada, não está idêntica ao livro. é quando Frank Churchill solta uma informação, a de que o Dr. Perry, sempre citado e nunca mostrado, iria comprar uma carruagem. Ele tenta convencer o pai, Mr. Weston, de que a informação teria partido dele, ou de sua madrasta. Na verdade, Jane era a fonte da informação. Há uma troca de olhares, a moça abaixa a cabeça e no rosto de John Carson, passa aquela expressão de compreensão. Ali, ele percebeu o que estava acontecendo e passou a temer por Emma, pelo dano emocional que ela poderia sofrer..
De qualquer forma, o melhor acréscimo desses últimos três capítulos foi uma deliciosa Mrs. Elton. Fiona Walker é divertidíssima e esnobe ao extremo. Ela é muito inconveniente e mal educada, a forma como ela se expressa quase sempre em voz alta e imperiosa, faz o contraste com as moças educadas, Emma e Jane Fairfax. Harriet, via de regra, é tratada mal por Mrs. Elton, ela vê a moça como criada. Não que Emma não faça o mesmo nessa adaptação, só que com tato. As diferenças de classe social aparecem rigidamente marcadas, ainda que Harriet transite um pouco.
Mrs. Elton é rica, se acha elegante, mas é vulgar e inconveniente. |
Há a cena em que Mrs. Elton, que se refere a Mr. Knightley com uma familiaridade indevida, tenta fazer as vezes de sua senhora par amandar convites. Eles estão sós no gabinete e ele rejeita a proposta dizendo que só a futura Sr.ª Knightley poderia cumprir essa função e ela não existia. A graça é que Emma nessa adaptação cospe marimbondos por causa de Mrs. Elton. É um misto de recalque, mas é meio que evidente (*OK, eu conheço a história.*) que ela sente ciúme da pretensa intimidade que a esposa do pastor demonstra para com Mr. Knightley. Ele, afinal, era seu "amigo querido" e somente isso.
Emma se altera, também, com a suspeita de que Knightley possa estar interessado por Jane. Há a cena em que ele lhe assegura que não e ela é muito boa. Jane, aliás, continua me parecendo antipática até que se revela o romance secreto dela com Frank Churchill. Antipática, não, até grosseira. Ela responde de forma pouco polida Mrs. Elton devido a sua curiosidade em relação as suas idas ao correio. Li em algum lugar que a questão do ir ao correio e da fofoca que isso levantava tinha a ver com as limitações impostas às mulheres. Qualquer ida e vinda parecia estranha. Acredito que a questão era muito mais de classe mesmo.
Frank Churchill parece um menino nervoso quando quase conta a verdade para Emma. |
Pessoas de posses não faziam essas tarefas, tinham criados para isso. Mrs. Elton oferece seus empregados para levarem as cartas de Jane. Ela não pode aceitar, porque, bem, são cartas para Frank Churchill. Já a resposta ríspida para Emma vem quando a protagonista, já culpada pelo seu comportamento para com a moça, tenta ser gentil. Jane desconfiava que Frank a estava trocando por Emma e responde mal. Definitivamente, eu não imagino a Jane Fairfax do livro tendo reações extremas.
Que mais dizer? Raymond Adamson é um Mr. Weston divertidíssimo. Tipo paizão que abraça e tudo mais. Ele trata Emma com muita familiaridade nessa série. E, bem, como Frank Churchill é meio garotão, mais do que sedutor, ele é jovial e juvenil, eu diria, Mr. Weston olha par ao filho meio que como uma criança crescida e cheia de energia. E essa versão de Frank Churchill é um pouco assim, infantil e narcisista. Se Jane não for maquiavélica, vai sofrer bastante. Quando o pai descobre o que Churchill escondia, há a decepção, claro, principalmente por causa de Emma. Ellen Dryden está bem como a antiga Miss Taylor, agora, Mrs. Weston. Diferente da maioria das atrizes que interpretam a personagem, ela tem um ar de mãezona, também. A atriz é meio rechonchuda e não tem um talhe elegante, por assim dizer. E fica claro a gravidez de Mrs. Weston e vemos a bebezinha no final.
Jane Fairfax um tanto antipática demais, eu diria. |
Há uma outra cena que só vemos nessa adaptação e que eu lamento não estar em outras, Emma tentando chamar Mr. Knightley pelo nome. Não é utilizado o diálogo completo do livro, porque Emma diz que só conseguiria fazê-lo depois de casada, mas eu imagino como esta cena ficaria bem nas outras adaptações. Eu consigo imaginar a cena com todos os outros intérpretes de Emma e Knightley. Pena que ela sempre seja cortada.
E que mais? Robert Martin é figurante mesmo, mas Emma, reformada, o recebe em sua casa. Esqueci de comentar o meu susto com o prato imenso que Harriet coloca no primeiro episódio. Assim, típico prato de peão. A parte dos ciganos, acredito que essa série foi a mais enfática em colocar o desprezo que as "pessoas de bem" sentiam em relação a eles. Harriet é bem violenta nas palavras. Ela estava com medo, nós sabemos, mas é o tipo de coisa que em uma adaptação contemporânea seria amenizada.
Talvez o melhor pai de Emma. Simplesmente adorável. |
Ah, sim! Há uma outra mudança grande em relação ao original, porque John e Isabella vem morar na propriedade de Mr. Knightley, enquanto ele se casa e passa a residir em Hartfield com Emma. É curioso que o fofo pai de Emma, e eu realmente cai de amores pelo ator Donald Eccles, o mais hipocondríaco de todos, resiste muito ao casamento dela com Mr. Knightley. Ele cisma de ser pai no final da série e não quer perder a filha. As últimas cenas com ele e Emma são muito boas.
Acredito que depois de assistir a série de 1972, conseguirei, antes das férias, concluir meu desafio e assistir a última adaptação de Emma, a de 2009. Para quem não sabe por qual motivo comecei essa jornada, ano que vem teremos outra adaptação do livro. Espero que seja tão boa, ou melhor, que o filme da Miramax e da ITV, mas nunca se sabe. Já temos a Emma, mas falta algo importantíssimo, fundamental, na verdade, Mr. Knightley. Isso, claro, sem falar de outras personagens. Um bom Frank Churchill pode fazer uma enorme diferença. Logo abaixo está a sequência na qual Mr. Knightley finalmente se declara para Emma:
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