Sexta-feira fui assistir Bumblebee com minha filha de 5 anos e uma priminha da mesma idade. Foi a última ida ao cinema de 2018 e, claro, a última resenha. Não fosse pelo pedido das duas, não teria ido mesmo, ainda mais sendo um filme dublado, mas, no fim das contas, valeu a pena. O filme é divertido e simpático, um pouco como foi o último Homem Aranha, e trabalhou muito bem com a nostalgia de gente que cresceu nos anos 1980, como eu. O próprio filme em si tenta imitar os filmes adolescentes da época em quase tudo, menos nas referências sexuais, porque, bem, somos muito mais puritanos hoje do que éramos 35 anos atrás.
Planeta Cybertron, a resistência dos Autobots, liderada por Optimus Prime, está perdendo uma guerra civil para os Decepticons. Eles planejam evacuar o planeta e procurar um refúgio seguro, mas são interceptados pelo inimigo. Optimus Prime envia para Terra, o planeta que os acolheria, o agente B-127, que tem a capacidade de assumir múltiplas formas. Chegando à Califórnia, ele acaba entrando em conflito com forças do Exército dos EUA, que o identificam com o inimigo, e por Decepticons que estão em seu encalço. Danificado, ele assume a forma de um fusca e se refugia em um ferro-velho. 1987. Um fusca amarelo aos pedaços, machucado e sem condição de uso, é encontrado e consertado pela jovem Charlie (Hailee Steinfeld), às vésperas de completar 18 anos. Traumatizada pela morte do pai e em conflito com a mãe a moça se sente profundamente infeliz. Consertar o carro é revigorante para ela, mas descobrir que se trata de um alienígena mudará sua vida para sempre.
Charlie finalmente encontrou o carro certo e, de quebra, ganhou um amigo. |
O filme trouxe uma introdução que nos situou muito bem no universo dos robôs e de sua guerra civil. A parte computação gráfica foi bem deslumbrante e convincente. Não pensem, no entanto, que isso resume o filme, que ele é somente uma exibição de efeitos especiais com uma história rala. Ele oferece um roteiro consistente e dramático dentro daquilo que um filem desse tipo exige. Bumblebee privado de sua voz terá que buscar uma forma de se comunicar com Charlie que é mais que sua dona, é uma amiga. A música, e o filme traz uma trilha anos 1980 primorosa, tem um papel fundamental nessa comunicação entre eles. Não darei spoilers, mas comento o seguinte, se você quiser aproveitar essa parte em especial do filme, é melhor que você o veja com o som original. A perda em uma versão dublada é mais que evidente.
Como não amar Bumblebee? |
Retornando ao ponto, nós já assistimos Bumblebee antes, vou somente comparar com seu antecessor mais célebre e de gênero semelhante, E.T., o primeiro filme que eu assisti nos cinemas. Se você viu E.T., você viu Transformers, porque ambos elementos muito similares. Elliot, o protagonista de E.T., é uma criança, mais limitado em suas ações, portanto, mas a situação de infelicidade familiar é ponto comum entre ele e Charlie. Elliot tem uma irmãzinha caçula que parece um problema no início, mas que se torna uma aliada. Charlie tem o irmão caçula, Otis (Jason Drucker) em situação similar. E há, claro, o extra-terrestre que precisa de ajuda e que aprende a se comunicar com o humano que o acolhe. Fora isso, temos a incompreensão dos adultos ao redor, seja família (*que depois termina ajudando em ambos os filmes, vejam bem*), ou as "autoridades", cuja ação violenta e insensível coloca o alienígena em perigo. O que não há em E.T. são Decepticons.
Vilões MUITO malvados. |
Foi, com certeza, o filme mais violento que ela já viu. Se eu tivesse checado, e isso é dever do adulto (ir)responsável, provavelmente, não teria levado a minha pequena. Ela gostou do fusca, dos robôs em geral, da menina protagonista, do irmão dela (*uma criança*), mas ficou visivelmente assustada e quando Charlie se machucou, ela não deixou de notar o sangue. Não leve crianças pequenas, portanto, ou leve,mas esteja ciente de que não é um filme para elas mesmo. Tem carros, tem robôs, mas é para gente um tanto mais velha.
Se Memo fosse branco, será que ele não ficaria com a garota no final? Queria não ter que pensar nisso, mas não posso evitar. |
Poderíamos falar da neurose em cima da sexualização, algo que algumas feministas estão levando aos extremos. Charlie tem 18 anos. Ela tem um visual absolutamente dessexualizado. Provavelmente, uma menina como ela nos anos 1980, e com aquele perfil roqueiro, teriaum visual tão limpo, mesmo com seus gostos pouco peculiares, ela se interessa por mecânica, por exemplo. Só que há todo o esforço de diferenciá-la das "outras" meninas, um trio de garotas que parecem uma caricatura das meninas malvadas de filmes high school, e olha que esse tipo de personagem já é em si uma caricatura.
Você já viu esse filme,mas assiste de novo, porque Bumblebee ficou muito legal. |
Já caminhando para o final, o filme cumpre a Bechdel Rule. Temos várias personagens femininas com nomes, que conversam entre si e que não estão falando de um homem. O destaque vai para a protagonista e sua mãe, Sally (Pamela Adlon). A relação das duas é conturbada. A menina, que abandonou o esporte depois da morte do pai (*algo que o filme não conta detalhes*) não perdoa a mãe por tentar recomeçar sua vida. A mãe, assim como a de Lady Bird, é enfermeira, tem um marido desempregado e dependente, trabalha muito, e faz o possível pelo bem estar de sua família.
Como explicar para sua mãe que um robô destruiu a sua casa? |
Saldo final? O diretor Travis Knight fez um excelente trabalho. Não sei qual caminho será tomado pela franquia, mas sei que Bumblebee é um filme muito divertido e interessante por ele mesmo. É um filme de robôs. É uma homenagem aos filmes adolescentes dos anos 1980 (*Clube dos Cinco, em especial*). É uma ode à amizade e à fidelidade. É um filme que reforça a importância da família,do perdão e da compreensão entre pais e filhos. Repito, você já assistiu esse filme, mas um valente fusquinha amarelo faz toda diferença nele.
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