Estava assistindo ao Jornal da Record agorinha e duas notícias me deixaram furiosa. E esse post é desabafo mesmo. A primeira notícia, só o início, do site do Jornal O Dia:
"Um homem identificado como João Victor de Moura foi preso pela Polícia Militar, no domingo, após admitir ter enforcado a companheira. A vítima, Mariane Santos de Oliveira, de 30 anos, foi morta na madrugada de sábado no imóvel onde o casal morava, no bairro Viçoso Jardim, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio. Segundo a Polícia Civil, João Victor só procurou o Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO) de Piratininga para admitir a autoria do assassinato mais de 24 horas após o crime ter ocorrido. Em seguida, o caso foi comunicado ao 12º BPM (Niterói), que enviou equipes até o endereço indicado pelo próprio responsável. No local, os policiais encontraram o corpo em estado avançado de decomposição. De acordo com a ocorrência, assim que foi confirmada a morte de Mariane, João Victor foi preso em flagrante e o caso encaminhado para a Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG). O crime foi registrado como feminicídio. (...) "As brigas eram tão intensas que eles nem moravam mais juntos. Cada um morava na sua casa. Na sexta-feira à noite, parece que eles tiveram um desentendimento mais grave. Ele aproveitou que a filha dela tinha ficado com a vó para ir até o local", revelou um amigo da vítima, que preferiu não se identificar."
Ela não deveria colocar esse homem em sua cama. |
Na TV Record, foi dito que era ex-namorado,no Jornal O Dia,o fato de estarem separados aparece marginalmente no texto. Da mesma maneira que não é dito que a mulher foi assassinada na frente de sua filha. Voltando para a Record, o repórter que estava apresentando o programa de notícias terminou o caso com uma frase mais ou menos assim "mulheres, cuidado com quem colocam em sua cama". A vítima tem que ser responsabilizada em primeiro lugar. E, obviamente, essas atitudes não são culturais, basta escolher bem o seu homem.
O machismo causa sofrimento aos homens, mas eles são, também, os que mais se beneficiam dele. |
Disso retiramos a possível mensagem de que as mulheres,a maioria delas, já que praticamente todas as hetero e bissexuais poderão relatar atitudes possessivas de algum parceiro em sua vida, não sabe escolher seus homens. Todo mundo tem aquela tia, ou prima, ou amiga coitadinha, que atura faz anos um homem violento e que a trai sistematicamente, mas ela não o deixa. Alguns a acusam de ser sem-vergonha por isso, outros, talvez mais religiosos, dizem que ela é uma santa que está levando a cruz que lhe foi dada. Será recompensada por sua fidelidade.
Enfim, é muita mulher escolhendo mal, porque, logo em seguida, a própria TV Record solta a notícia de que um homem acabou de se entregar em Madureira depois de matar, também estrangulada, a namorada, está no G1. Também no G1, há outro caso de ontem, que não resultou em morte, de uma mulher que foi torturada pelo ex-sei-lá-o-quê e que teve que fugir nua em busca de ajuda. Deveria ser outra vagabunda que escolhe mal, pode conferir os comentários nos portais.
Desigualdade entre homens e mulheres é uma das fontes da violência. |
Vocês sabem o que eu vou escrever, especialmente, se frequentam o Shoujo Café faz tempo: a questão tem pouco de individual, é coletiva. Homens são educados - não somente em casa,sei que já vão culpar as mães, claro - socialmente (*família, escola, mídias, igreja etc.*) para se verem como centro do mundo, carregam as suas cargas, mas junto vem uma infinidade de privilégios. Daí, ouvir um não de uma mulher, um "acabou, não quero mais", ou serem interrompidos, ou afrontados por uma fêmea da espécie pode parecer um ataque à sua dignidade. Vide a revolta causada pela atitude da Kefera. Mulher não pode ser grossa, mesmo quando tem razão. Homens fazem isso o tempo inteiro. Homens matam; matam mulheres; matam os seus próprios filhos ou os filhos das SUAS mulheres para se vingar; e matam os homens, também, e seguimos para o próximo caso.
Um cabeleireiro negro, pobre e homossexual foi morto à facadas na Avenida Paulista, área central da maior cidade do país, diante de inúmeras testemunhas que atestam que o agressor proferiu ofensas homofóbicas gratuitas antes de assassiná-lo. Uma das ofensas "ande feito homem", seja lá o que isso signifique, parece que uma agressão para muitos homens hetero. Eu já vi meninos serem repreendidos assim por seus pais, outros parentes e adultos (ir) responsáveis. A outra frase, segundo as testemunhas foi "gays têm de morrer". Um amigo, que mora próximo de onde ocorreu o crime, comentou em seu Twitter,foi lá que li sobre o caso pela primeira vez. Ele passa pelo local todos os dias, ele é gay, ele pode ser o próximo.
A arma do crime. |
Mas eis que o sujeito foi preso e vi o vídeo de sua entrevista na TV Record, queria encontrá-lo, não consegui. O cinismo do sujeito que apunhalou o cabeleireiro na Paulista é de dar nojo. Costuma andar com faca? Não, mera coincidência. Homofobia? Imagina! Estava se defendendo. Fica parecendo que a vítima é ele. Um cordeirinho. Enfim, deve aparecer alguém para dizer que homofobia não existe, que os gays são respeitados se se dão ao respeito, que é um caso isolado. Não é. Enquanto não repensarmos as nossas masculinidades tóxicas, vai continuar acontecendo e teremos gente negando que é um problema social e individualizando as coisas. Eu poderia, por exemplo, dizer que nunca vi meu pai levantar amão para a minha mãe, que meu marido nunca fez isso comigo, logo, violência doméstica é coisa que só acontece em casas de desajustados. Será? Olhe em volta e veja oque você pode fazer para ajudar a mudar essa situação.
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