Hoje apareceu na minha TL no Facebook a seguinte matéria "Japão: famílias que brincam com crianças na rua podem ser processadas por incomodar vizinhos". A pessoa que postou estava comemorando. Enfim, crianças fazem barulho, precisam de espaço e ocupação, afinal, a questão do sedentarismo é um dos problemas das sociedades modernas. O Japão, claro, precisa de crianças e rápido, porque a natalidade não para de cair. Só que esta não é a primeira matéria na qual esbarro e que fala da intolerância com os pequenos.
Segundo uma especialista consultada: “Muitas áreas residenciais em desenvolvimento tendem a abrigar moradores de gerações parecidas e as regras se inclinam aos conceitos da geração. Quando há idosos, pessoas de idades diversas, os padrões e a ascensão cultural tendem a colocar uma barreira nesses conceitos”.
E não estou defendendo que as crianças possam fazer o que quiserem, ou que não precisem aprender a respeitar o próximo, aliás, acho dificílimo que uma sociedade como a japonesa se esqueça disso, mas que desconfio que se trate de intolerância mesmo. Há os parques, certo? Mas, segundo a própria matéria, vários espaços como esses no Japão proíbem o uso de bicicletas e bolas, logo, a rua perto de casa é a opção.
Nesta matéria mais recente falou-se de um morador que de tanto ser "perturbado" pelo barulho teve que se mudar. O juiz decidiu que os pais das crianças deveriam indenizá-lo "pois o barulho das crianças provocou um grande estresse no morador (...)". Outro caso citado é o da mãe que foi hostilizada pelas vizinhas, porque reclamou do barulho das crianças, já que seu filho precisava se preparar para um exame. Recebeu indenização, também.
Acabei localizando uma matéria de 2013, do Japan Today (Aging Japan complains over the noise of children), que acaba dizendo o seguinte: “Como a sociedade [japonesa] tem cada vez menos crianças, as pessoas ficam menos acostumadas a ouvi-las. É um círculo vicioso: menos crianças deixam as pessoas menos acostumadas a ouvir o barulho que elas naturalmente fazem, o que gera queixas sobre elas e contribui para o crescente sentimento entre os mais jovens de que eles não querem ter mais filhos.” Percebem o problema? Até o que é normal se tornou um problema.
Outra matéria com um título muito parecido (Aging Japan complains over the noise of children) fala dos esforços do governo para estimular a natalidade e dos obstáculos encontrados. Destaco o seguinte "Estamos presos entre pais que estão clamando 'queremos creches construídas o mais rápido possível' e aqueles que dizem 'não precisamos de creches em nossos bairros tranquilos'" A matéria fala dos processos que as creches tem recebido por causa do barulho e especialistas vem aconselhando o governo a mudar a legislação, seguindo o modelo da Alemanha (???) para neutralizar esse tipo de ação.
"O número de crianças está diminuindo, então as pessoas acham que as creches não têm nada a ver com elas e as vêem como algo que poderia causar desconforto em suas vidas" (...) "O problema das crianças barulhentas pode se resolver se os esforços para o aumento da natalidade falharem. Um think tank do governo prevê que apenas sete por cento da população do Japão terá menos de 15 anos em 2060, no pior cenário possível, a população total encolherá mais de um terço, para menos de 80 milhões. " Isso, claro, é um quadro terrível.
Essa discussão toda me lembrou a segunda temporada do desenho do Chefinho (*Boss Baby*) no qual os vilões são idosos que querem receber toda a atenção que a sociedade dá aos bebês. Afinal, ambos os grupos querem quase a mesma coisa: carinho, atenção, leite quente, sonecas e fraldas. Claro, que se trata de uma comédia, mas olhando o Japão...
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