Terça-feira fui assistir Animais Fantásticos: Os Crimes De Grindelwald (Fantastic Beasts: The Crimes of Grindelwald). Primeira coisa, é uma resenha difícil de fazer. Até onde posso ir sem dar um spoiler gigantesco, por exemplo? Vou tentar escrever a resenha em duas partes, então, spoilers maiores depois do trailer. De resto, sempre é bom revisitar o universo de Harry Potter. Assisti a todos os filmes no cinema e veria, acredito eu, tantos quantos fossem feitos. Da mesma forma que gostaria de ver a série Animais Fantásticos em formato livro. E, sim, Os Crimes de Grindelwald é um filme interessante, apesar de Johnny Depp e mesmo com a sensação desconfortável que todo filme de meio de história pode causar.
Nosso filme começa em 1927, quando o Magical Congress of the United States of America (MACUSA) está transferindo Grindelwald para a Inglaterra, onde o bruxo irá pagar por seus crimes. No entanto, o poderoso feiticeiro já tinha planejado seu escape. Ele segue para Paris, onde irá juntar seus seguidores e levar adiante um plano de dominação mundial. Enquanto isso, Newt Scamander (Eddie Redmayne) volta a ser acionado por Dumbledore (Jude Law), que agora sabemos que foi quem o mandou para a América, para que encontre Credence (Ezra Miller) em Paris antes que o vilão o faça.
Credence traz dentro de si um poderoso obscuros, um concentrado de sentimentos ruins, rancor, ódio, capaz de causar grande destruição. Só que o vilão sabe que ele pode ser ainda mais letal. Grindelwald quer usar o rapaz para derrotar Dumbledore e neutralizar o único que ele acredita que poderá derrotá-lo. Só que Newt está proibido de viajar pelo Ministério da Magia que desconfia dele e de Dumbledore. Mas o tempo urge e mesmo contra a lei Newt deve tentar evitar o pior, isto é, que Grindelwald tenha condições de alcançar o seu objetivo.
Jude Law charmosíssimo como Dumbledore. |
Resumi mal o filme, porque um dos méritos e deméritos da película é que ela tem personagens demais e discussões demais. Definitivamente, se você não viu o primeiro filme, dificilmente conseguirá aproveitar o segundo na sua totalidade. É muita informação, por assim dizer. Temos a trama central, com Grindelwald se apresentando como uma liderança messiânica que quer unir os bruxos e submeter os muggles (trouxas). Há toda uma tensão à distância entre o vilão e Dumbledore. Eles foram mais que amigos, mais que irmãos, amantes. O filme não é explícito quanto a isso, mas deu conta do recado, apesar de muita gente ter reclamado horrores e se sentido traída pela autora. Quem leu os livros, ou viu os filmes de Harry Potter, é capaz de entender perfeitamente. Eles fizeram um pacto de sangue e não podem se enfrentar.
Leta, personagem trágica central do filme. |
Falando nisso, li uma crítica que afirmava que Eddie Redmayne não passava credibilidade à Newt Scamander, que ele não conseguia encarnar o herói de um filme como esse, um filme de ação, acho que esta era a ideia. Olha, Newt é o herói improvável, um sujeito tímido (*veja a sutileza da interpretação de Redmayne, Newt parece nunca olhar as pessoas nos olhos*), que se sente mais seguro no meio dos animais, alguém de bom coração (*vê o melhor nos bichos, mesmo os mais assustadores, e em Leta, que é desagradável com todos*) e extremamente competente. Quando sob pressão, normalmente, ele pensa rápido e faz as escolhas certas. Independentemente da qualidade do filme, acredito que poucas personagens encarnaram tão bem o espírito de Hufflepuff (Lufa-Lufa), uma das quatro casas de Hogwarts, como ele.
De volta a Hogwarts. |
Não há confronto entre as duas amadas de Newt, o que é muito positivo. O protagonista só tem olhos para Tina e Zoë Kravitz dá muita dignidade à Leta. Suas origens são bem interessantes e através do uso do flashback, JK Rowling reforça que não existe racismo no mundo dos bruxos, quer dizer, se você é sangue puro, pouco importa a cor de sua pele. As discriminações se dão em outras bases, as de classe social, as picuinhas entre as casas de Hogwarts e por aí vai. Leta tem um papel importante no confronto final com o vilão. Ela mostra que Newt não estava errado quando viu algo de bom nela. E, bem, quando a moça diz "Eu te amo" em uma cena fundamental, para mim é claro que não é para o Scamander de quem está noiva.
Newt diz que o irmão o odeia, já tentou matá-lo, mas Theseus parece muito preocupado com o irmão caçula. |
Agora, algo que me incomodou muito foi o encaminhamento dado à Queenie (Alison Sudol), a irmã espevitada de Tina. Ela aparece bem antes de sua irmã no filme, porque está na Inglaterra com o "noivo", Jacob Kowalski (Dan Fogler), tentando conseguir se casar com ele. Bem, uma das questões do filme - e o próximo será no Brasil - é rascunhar (*porque só em livro para aprofundar*) as diferenças das sociedades bruxas em diferentes lugares do mundo. Nos EUA, relacionamentos de bruxos com não-bruxos são proibidos. Na Inglaterra, ainda que alguns torçam o nariz, o casamento dos dois seria possível. A coisa não acontece bem do jeito que Queenie deseja, ela estava mantendo o namorado enfeitiçado e Newt percebe.
Credence e Nagini. Sim, é a Nagini que vocês estão imaginando. |
Sim, é isso que Grindelwald representa. E ela já estava enredada antes da grande reunião que o bruxo promove no cemitério para divulgar suas ideias de uma nova era. Como se trata de um filme de meio de narrativa, este é o ponto alto da película. Grindelwald se apresenta como uma espécie de messias salvador para bruxos e humanos, que não seriam destruídos, mas colocados no seu lugar (*Há!*). Grindelwald é mais democrático que Voldermort. E de quem o mundo precisava ser salvo? Entra, então, um espetáculo de efeitos visuais aterrorizador. O vilão mostra o futuro, uma nova guerra, o nazismo, a bomba atômica. O horror, enfim.
O elenco principal do filme. |
Falando do vilão, li críticas e elogios à atuação de Johnny Depp. Em primeiro lugar, defendo que ele nem deveria ser escalado para o filme, lamento que o Colin Farrell tenha sido sacrificado no primeiro filme. Havia outros atores aptos ao papel do vilão sem que Depp precisasse ser contratado. Houve polêmica, ele estava envolvido em acusações sérias de violência doméstica, JK Rowling, que suponho ser fã do ator, deu de ombros, há quem tenha se recusado a assistir o filme por causa dele. Repito, ele não precisava estar lá, mas decidi não boicotar o filme. A atuação de Depp estava OK, não tão carregada dos maneirismos e exageros de outros papéis recentes. Agora, se um dos objetivos do filme - figurino e maquiagem - foi normalizar os bruxos, isto é, colocá-los com aparência de humanos comuns, Grindelwald é um ponto fora da curva.
Achei a caracterização do vilão exagerada. |
Estou falando de figurino, aqui. Uma das coisas que gosto no universo dos filmes de Harry Potter é de como são criativos com o figurino. Cada bruxo, ou bruxa, tem um estilo todo seu. ainda que você possa manter links com o momento vivido, com o mundo dos muggles, eles são diferentes e isto se manifesta em roupas a acessórios. No primeiro Animais Fantásticos, Colleen Atwood fez um trabalho excepcional. Pegou as referências da moda da década de 1920 e deu uma roupagem ao estilo Harry Potter. Neste filme, apesar dos homens em ternos elegantes, achei o trabalho preguiçoso realmente. Aquém do que deveria ser.
Tinha que colocar esse meme. |
E, aqui, repito o que escrevi sobre os livros de Charlaine Harris, que inspiraram a série True Blood, quando a autora começa a enfiar detalhes demais, seres fantásticos demais, ela meio que perde o controle de sua própria história, que fica saturada em muitos momentos. Às vezes, é melhor optar pelo simples, a gente erra menos. Fora isso, acredito que cinco filmes é demais, ainda que eu saiba que isso é irrelevante, afinal, está dando dinheiro, o universo criado por Rowling é imenso e a gente quer ver como funciona a vida dos bruxos em diferentes países. Claro, que pouco apareceu do dia-a-dia dos bruxos franceses, mas, enfim...
O figurino dos americanos continua estiloso. |
Se você está aqui, não se importa com spoilers. Enfim, uma das questões chave no filme é a família de Credence. Durante um bom tempo somos levados a acreditar que ele seria o irmão perdido de Leta. Só que a moça termina confessando que seu irmão está morto e foi por sua culpa. Leta, aliás, se sacrifica no final do filme, é a sua redenção, por assim dizer, enfrentando Grindelwald.
Daí, temos uma revelação no final, Credence seria, na verdade, irmão de Dumbledore e se chamaria Aurelius. Caímos de novo nos problemas de cânon. Dumblerore tinha somente um irmão, Aberforth, e uma irmã, Ariana. Aliás, a irmã de Dumbledore foi o pivô do rompimento com Grindelwald. Seria uma mentira do vilão e Credence não seria irmão do grande bruxo? Se ele realmente é parente de Dumbledore, porque sua existência foi escondida?
Tina e Newt estão atrás de Credence e tentando evitar o pior. |
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