Não comentei no Shoujo Café, mas vocês devem lembrar que a Universidade de Medicina de Tokyo, uma das mais importantes do país, estava reduzindo as notas das candidatas mulheres para que as alunas mulheres não fossem mais de 30% dos calouros (*Notícia: 1 - 2 - 3*). o processo iniciou em 2011, quando as aprovadas alcançaram 40% do total. Este ano, um total de 303 homens e 148 mulheres havia passado na primeira fase do processo seletivo, ao final das etapas, foram aprovados 141 homens e 30 mulheres, graças à intervenção reduzindo as notas. Para piorar, isso parece não ser ilegal no Japão, ainda que tenha gerado muito desconforto e recriminações. O Ministro da Educação japonês decidiu investigar os vestibulares de medicina nos últimos seis anos para saber se isso é prática corrente.
Imagina, você estudou horrores, afinal, curso de medicina é disputadíssimo no mundo inteiro, eu imagino, e os dirigentes da universidade decidem que vão prejudicar você alegando que médicas mulheres não são tão dedicadas à carreira quanto os homens, afinal, elas abandonam a profissão quando casam, ou passam a se dedicar menos que seus colegas do sexo masculino, segundo uma fonte "são necessárias três mulheres para fazer o trabalho de um homem". O mundo inteiro ficou revoltado, mas as médicas japonesas entrevistadas mostraram-se compreensivas.
Daí, o Sora News publicou o resultado de uma pesquisa feita com 103 médicas e os resultados foram bem complicados. 13,5% respondeu que compreendia a medida da universidade; 51,4% disse que compreendia parcialmente; já 35,1% disse não compreender. O SN publicou os comentários das mulheres e a maioria apontava para uma culpabilização das médicas que se dedicam à família, ou uma aceitação de inferioridade. O que eu quero dizer? Infelizmente, as estruturas que possibilitam a discriminação de gênero permanecem, porque elas são reiteradas o tempo inteiro.
Das mulheres, segundo o modelo mais tradicional, aqui, ou no Japão, espera-se que pensem na família em primeiro lugar, no sentido do cuidar, sacrificar o seu bem estar pessoal e desejos, não no de sustentar, porque aí seria uma responsabilidade masculina. Porém, estamos em um mundo moderno e capitalista, por conseguinte, espera-se que as mulheres - que devem faltar para levar filhos ao médico, ir à reuniões escolares, cuidar quando ficam doentes - produzam o mesmo que os homens, ou seria injusto empregá-las e pagar-lhes melhores salários.
No Japão, mais do que aqui, os governos fingem não ver e não investem em programas sociais que ajudem as mães a tocarem suas carreiras, o que é importante para a economia do país. Esse seria uma frente de combate. A outra é a educação para a equidade de gênero de forma que meninas não fossem ensinadas desde muito pequenas a se verem inferiores, ou terem culpa, e homens fossem ensinados a cuidar e dividir tarefas domésticas. De resto, médicos - homens, ou mulheres - são submetidos à longuíssimas jornadas de trabalho e muito desgaste que tem impacto direto sobre sua saúde (*física e mental*) e sua vida familiar. Parece glamouroso, certamente há médicos que levam vidas bem privilegiadas, mas, para a maioria, é ralação e estresse.
De resto, queria muito que todo mundo envolvido nessa sacanagem fosse demitido no Japão, porque o que fizeram com essas candidatas é absurdo sob qualquer ponto de vista.
2 pessoas comentaram:
Muito triste as entrevistas com as vestibulandas que tiveram sua nota diminuida. Tem um escritorio de advocacia que esta cuidando do caso pra processar a faculdade e teve um relato de uma mae falando que a filha entrou em depressao e nunca mais conseguiu fazer nada. Ela disse "voces acham que a vida da minha filha nao vale nada? Porque ela dedicou a vida dela pra passar nessa prova". Da vontade de chorar. Eu convivo com algumas mulheres no meu trabalho e elas sao bem jovens e mesmo assim tem esse sentimento que mulher e inferior. Eu faço o que posso pra mudar este pensamento, mas voce precisa ver, Valeria, e uma lavagem cerebral tao grande que fazem que eu fico sem reacao.
Daí você vê um resultado de uma pesquisa como essa e entende como que o Nishigori escreveu Darling in the FranXX sem pensar e tudo ocorreu na história "naturalmente".
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