Não gosto de falar de novelas que não assisto, ainda que já o tenha feito por questões específicas, ou a pedido de alguém. Vamos lá, apareceu um pequeno trecho da novela As Aventuras de Poliana, novo sucesso infantil do SBT, na minha TL e senti-me obrigada a comentar. Começo dizendo que acho importante que o canal invista nesse público e lhe ofereça alternativas. A retribuição vem na forma da audiência. Termina aí a parte elogiosa. É mais que sabido que o SBT costuma inserir mensagens subliminares em várias de suas produções e seriados. Você está vendo um episódio de uma série e, de repente, pisca muito rápido e do nada, uma propaganda da Jequiti. Eu custei a notar e somente o fiz depois que me alertaram que acontecia.
Há, porém, outros tipos de propaganda e o SBT já foi punido por colocá-las na novela Carrossel. Normalmente, consiste em pegar uma personagem popular, não raro um adulto em quem as crianças confiam, em posição que mistura afeto e autoridade, reforçando as características positivas de um produto. Tipo, escovar os dentes é fundamental, mas, daí, aparece a Prof.ª Helena dá a recomendação e reforça que a marca X de creme dental é a melhor. É desse tipo de coisa que falamos. Agora, isso que aparece no vídeo de As Aventuras de Poliana me soa soa como mais grave ainda. Claro, é a opinião da autora desse post, mas vamos lá. Assistam, é curto:
O ano é 2018, a novela INFANTIL do sbt ensinando que o racismo está na nossa cabeça e só existe por culpa dos negros
— Alexandre (@Iexandre) August 9, 2018
Toda a cena tem caráter didático e o SBT deve ter pensado que era empoderadora... ou será que é de propósito mesmo? |
Késsya (Duda Pimenta) está chateada por ter sofrido racismo. Uma personagem adulta negra (*olha só a questão do lugar de fala*), Helô (Eliana de Souza), diretora da escola onde se passa a trama, uma mulher bem sucedida aparentemente, desqualifica a percepção da menina, que tem uma atitude desafiadora no início e durante parte da cena até ser convencida de seu erro. A sequência toda é sutil, delicada, travestida de doçura. Mensagem dada, tanto para as crianças negras, quanto para as socialmente brancas. E qual é o ponto importante? Convencê-las de o racismo só existe, porque os negros e negras acreditam que ele existe. É tudo um produto da cabeça vitimista dos negros, os brancos mesmo, nem se importam com essa coisa de cor, imagino, mas somente com o caráter e a competência de uma pessoa.
É uma cena deveras violenta e cruel. Primeiro, porque o racismo é estrutural e basta fazer o teste do pescoço em uma turma de faculdade de Medicina, por exemplo. Não sabe o que é isso? Estique o pescoço e olhe os alunos e alunas assistindo uma aula. Pode fazer o mesmo na sala dos professores, caso ela exista, o resultado será semelhante. Agora, os procure entre o pessoal dos serviços gerais da mesma faculdade. Conte quantos são. Segundo, porque negros e, especialmente, negras, estão quase ausentes de postos de prestígio e poder em nossa sociedade. Pegue o exemplo da primeira professora negra do ITA e das pedreiras que ela enfrentou e enfrenta por conta de seus três estigmas (*negra, mulher, de exatas*). Terceiro, pegue as estatísticas da violência e leia sobre o que algumas entidades chamam de genocídio da juventude negra. Mas é tudo coisa da sua cabeça, diz a diretora negra da novela do SBT.
Enfim, reforçar para as crianças que racismo não existe, é coisa da cabeça dos negros, é um ato de grande covardia, mas se presta muito bem a manter as estruturas de poder. Se um negro, ou negra, vai mal, não se esforçou o suficiente. Se é rejeitado, é porque não tem as características exigidas para tal posto, ou função. Espero que o SBT conserte isso, mas acredito que não o fará. A novela é de autoria da esposa de Sílvio Santos, Iris Abravanel, mas coisas semelhantes já vi em outros produtos mexicanos da casa, como o Carrossel original. Aliás, o Cirilo da versão brasileira era muito menos boboca do que o original, mas isso não quer dizer um grande avanço, no fim das contas...
É uma cena deveras violenta e cruel. Primeiro, porque o racismo é estrutural e basta fazer o teste do pescoço em uma turma de faculdade de Medicina, por exemplo. Não sabe o que é isso? Estique o pescoço e olhe os alunos e alunas assistindo uma aula. Pode fazer o mesmo na sala dos professores, caso ela exista, o resultado será semelhante. Agora, os procure entre o pessoal dos serviços gerais da mesma faculdade. Conte quantos são. Segundo, porque negros e, especialmente, negras, estão quase ausentes de postos de prestígio e poder em nossa sociedade. Pegue o exemplo da primeira professora negra do ITA e das pedreiras que ela enfrentou e enfrenta por conta de seus três estigmas (*negra, mulher, de exatas*). Terceiro, pegue as estatísticas da violência e leia sobre o que algumas entidades chamam de genocídio da juventude negra. Mas é tudo coisa da sua cabeça, diz a diretora negra da novela do SBT.
Poliana (Sophia Valverde), a protagonista, e Kessya (Duda Pimenta). |
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