quinta-feira, 9 de agosto de 2018

O senado Argentino recusa a descriminalização do Aborto e o país segue com a legislação de 1921


Quando a proposta passou na câmara, houve quem me cobrasse um extenso post no Shoujo Café sobre a questão. Post cantando vitória e eu avisei que ainda faltava o Senado, ou seja, faltava muita coisa.  Não falei do assunto, estava esperando o Senado de lá se pronunciar.  Às vésperas da votação, estavam contando os senadores que estavam declarando que votariam contra.  A Argentina se juntaria às nações mais modernas do mundo em relação ao direito de interrupção da gravidez, ou continuaria com sua legislação de 1921, mais atrasada que a nossa?

Este senhor defendeu que estupro dentro do
ambiente familiar, incesto, portanto,
não são um ato de violência.
No caso do direito de aborto na Argentina, eu não esperava uma debandada no senado para o lado dos contra o aborto. Era caso de trabalhar com os indecisos, os fracos... Houve tempo para isso. Mas pense na derrota para a Igreja Católica, perder na Irlanda e na Argentina no mesmo ano? E ainda sendo a pátria do papa. Fora isso, há muito mais evangélicos, normalmente posicionados contra o aborto, na Argentina, do que na Irlanda. E havia muita gente dos dois lados na rua.  Mais homens do lado azul, claro, afinal, eles adoram dar palpite sobre a vida das mulheres.  Fora a galerinha que atravessou a fronteira para protestar pró e contra. 

Jovens argentinas nas ruas.
Pela constituição argentina, a religião católica é quase uma religião de Estado.  Imagine o peso que isso tem.  Aliás, uma das coisas boas que o Exército Brasileiro fez foi criar o Estado Laico nesse país.  E foi duríssimo nos primeiros anos.  Talvez, um dos grandes erros de Getúlio Vargas, estadista que eu admiro, foi desmontar essa separação que estava dando certo em muitos aspectos.  Voltando ao ponto, rolou muita pressão, mas as feministas argentinas, com uma maioria de jovens, conseguiram levar o assunto à votação no Parlamento. Percebam, não se trata dessa gambiarra que estão fazendo no STF, aqui, no Brasil. E a derrota foi por margem pequena e isso em si é uma vitória, pelos motivos que apontei acima.  

Voto qualificado?
Enfim, na Argentina, só ano que vem. Mas eu confio na tenacidade das argentinas. Lembrem das Mães da Praça de Maio. Lembro com muito gosto quando um de seus presidentes corruptos neoliberais teve que fugir de helicóptero da Casa Rosada, eu era criança, vi pela televisão. Vide, também, que eles não perdoam seus ditadores e seus minions como nós.

De resto, para quem é pró, ou contra, o direito de aborto, foque nos candidatos ao legislativo, porque lá é o campo de batalha correto para se debater isso.  O plebiscito, algo que é proposto pela candidata Marina Silva, também é um meio legítimo, mas a pauta deve ser prioritariamente do Congresso e a luta deve ser feita nas ruas e nas redes sociais, e nas conversas com gente que se acha contra, mas, na verdade, sabe bem que a discussão do aborto é "coisa de mulher" que tem útero e pode engravidar, pode morrer, pode ficar ao desamparo, que é chamada de vadia.  Aliás, até nosso candidato de extrema-direita concorda com isso, que a mulher é que deve decidir, o que o coloca (*supostamente*)  como mais progressista que muita gente por aí.  Aos homens caberia ir atrás dos que abandonam suas crias.  Um pai presente, não um marido, vejam bem, um pai, ajudaria muito a impedir que certos abortos fossem feitos.

1 pessoas comentaram:

É... A América Latina ainda reza pela cartilha reacionária.
Triste.

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