O filme, assim como o quadrinho que lhe serviu de base, começa no dia 28 de fevereiro de 1953, com uma orquestra toca o Concerto para Piano nº 23 de Mozart na Rádio do Povo. O telefone toca na diretoria da emissora e uma ordem do Stálin solicita a gravação do concerto. O ditador havia adorado. Pânico geral, ninguém havia gravado. Músicos são retidos e lhes é exigido que toquem de novo, de forma idêntica, para que Stálin não descubra o engodo. O público é obrigado a permanecer e comk algumas pessoas tinham saído, pegam transeuntes para ocupar o vazio e auxiliar a acústica. A pianista, Maria Yudina (Olga Kurylenko), peça fundamental para a gravação, se recusa. Depois de muita insistência, ela aceita, mas o maestro tem uma síncope e desmaia, outro é chamado. Gravação feita, a pianista, cuja família tinha sido mandada para a prisão por Stálin, escreve um bilhete e o coloca dentro da capa do LP. Ninguém tem coragem de retirá-lo. Stálin lê e tem um AVC. A partir daí, começa uma corrida contra o tempo e um duelo entre Beria (Simon Russell Beale) e Khrushchev (Steve Buscemi ) pela sucessão do grande líder.
Ícone no meio do mijo.O filme foi proibido na Rússia. |
Sim, é isso que eu penso, não é o tipo de humor que me faça rir. Meu riso geralmente veio fora do timing das piadas, por coisas que me pareceram divertidas, mas não sei bem se foram pensadas para tal. Desagradou-me bastante que todos os membros do conselho de ministros, salvo Beria e Khrushchev, tenham sido transformados em idiotas, especialmente, Georgy Malenkov (Jeffrey Tambor), que vai herdar o comando do país com a morte do ditador. No quadrinho, Malenkov é pintado como homem de visão estreita e subserviente – a Stálin, Beria, Khrushchev – mas não o tolo que é mostrado no filme. Na película, exatamente por ser um tolo, ele não é tão controlável quando no quadrinho no qual, primeiro Beria, depois Khrushchev conseguem manobrá-lo sem problema.
A cena do banheiro é interessante. |
No quadrinho, Molotov atribui a desgraça da esposa (*que era da alta cúpula soviética e não somente a esposa de Molotov) à Beria, que é visto por ele como o instigador de todos os abusos de Stálin. No filme, e isso é, apesar dos tons de humor, historicamente mais preciso, Molotov endeusa Stálin, logo, o que o ditador faz é sempre correto. Explicitarem isso é muito importante e a película ganhou pontos aqui. Agora, de resto, o tom da personagem é tão bobo como o do filme.
Zhukov animou um pouco o filme para mim. |
Enfim, não fosse Zhukov descendo a porrada (*é a primeira vez que uso o termo nesse blog, mas, aqui, cabe, sim*) e metendo o pé na porta, Beria teria ganhado no final. Zhukov funcionou no filme, ainda que eu prefira a HQ. E mais, em nenhum momento, fica claro qual era o problema de Zhukov com Beria. Embora um amigo que gostou do filme tenha discordado, ao que parece Beria tentou queimar o Marechal com Stálin, fora o expurgo do Exército pouco tempo antes da invasão alemã e o rancor que muitos militares tinham em relação à Beria. Aliás, quem não odiava Beria?
A pianista teve seu papel bem apequenado. |
Falando das mulheres, o filme não cumpre a Bechdel Rule. Ele dá para a filha de Stálin um papel maior do que na HQ, onde (*e isso não é um erro*) temos praticamente homens o tempo inteiro. Assim como no caso do filho de Stálin, o filme mostra os ministros muito preocupados com Svetlana (Andrea Riseborough), Beria em especial. E, bem, qual a importância política dela? ZERO. E mesmo simbólica era muito reduzida. Já a pianista Maria Yudina (Olga Kurylenko), que detona o derrame no ditador, tem seu espírito vingativo diminuído. E ela é ma personagem chave... Ela inclusive é acusada de ser amante de Khrushchev. Na HQ, eles sequer se encontravam. Tem função na história a acusação? Tem. Só que isso desempodera a personagem feminina mais importante em uma história centrada em homens.
Os filhos de Stálin. |
Terminando, a última cena de Khrushchev no filme é visualmente muito interessante. Ela não está no quadrinho. Já os créditos são ótimos. Geniais mesmo. Se você for assistir ao filme, veja os créditos até o final. Enfim, O filme é ruim? Não. O filme é muito bom? Não. Três estrelas de cinco, mas pode ser que não seja o meu tipo de filme. Agora, o quadrinho é muito bom e merece ser lido, já o filme não me faria falta assistir.
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