quarta-feira, 25 de abril de 2018

E uma Princesinha entrou para a História ontem...


Ontem, nasceu mais um neto da rainha da Inglaterra.  #royalbaby esteve nos trending topics do Twitter quase o dia todo.   Não se sabia o sexo do bebê do Príncipe William e de Kate Middleton e, pelo menos na Grã-Bretanha, havia grande expectativa a respeito.  Se fosse um menino, pela primeira vez na História do país, ele não tomaria o lugar de sua irmã da sucessão ao trono.  A mudança ocorreu graças ao The Succession to the Crown Act 2013 (c. 20) que substituiu a primogenitura-masculina pela primogenitura absoluta.  Quem estava na fila antes ficaria, mas, daí para frente, valeria a nova lei.  


Apesar de ser a filha mais velha de três irmãs,
Lady Mary (Michelle Dockery), uma das protagonistas de
Downton Abbey, não herdaria o

título, ou as propriedades do pai.  A saída? 
Casar com o primo que herdaria tudo, porque a lei
excluía as mulheres da sucessão.
A Inglaterra não é o primeiro país a fazer tal mudança.  Todos os países nórdicos, além de Holanda e Bélgica, modificaram sua legislação para dar igualdade às mulheres em relação aos homens.  Lendo o artigo da Wikipedia sobre o assunto, acabei descobrindo que esse Ato da Coroa foi apelidado de Downton Act por causa da série da ITV que mostrava a injustiça da exclusão das mulheres da sucessão de um título de nobreza.  Enfim, você pode achar uma bobagem, mas pense que gerações de mulheres foram excluídas da linha de sucessão (*Lai Sálica*), ou perderam seu lugar na fila simplesmente por serem isso, mulheres.  E há os casos nos quais, mesmo com a inexistência de herdeiros homens, as mulheres tiveram seus direitos contestados por outros homens, tios, primos e por aí vai.  Caso de Matilda (1102-1167), filha de Henrique I, Rei da Inglaterra.  Claro que ela não engoliu o desaforo e foi à guerra por seu direito, mas não sentou no trono, simplesmente, o garantiu para seu filho.
Matilda, Imperatriz do Sacro Império Romano Germânico,
mais tarde, Condessa de Anjou, mas, não, rainha da Inglaterra.
Até hoje, há quem queira justificar esse tipo de prática absurda em nome da tradição, como se tais "tradições" não vivessem sendo inventadas e reinventadas ao sabor dos tempos.  Quem ainda se lembra de que boa parte das monarquias já foram eletivas?  Os nobres votavam entre eles e elegiam o próximo monarca.  Ou que há outras formas de marcar a sucessão para além da primogenitura.  Aliás, quantos problemas foram gerados, porque o filho mais velho era um incompetente, mas, por ser mais velho, deveria sentar no trono?  Enfim, o fato é que, pela primeira vez na História da Inglaterra, um irmão caçula não passará a frente de sua irmã por ser menino.  E, olha a ironia, apesar de ter nascido no dia de São Jorge, Padroeiro do país, não poderá se chamar George, também... 


Ainda se discutiu uma mudança na lei de sucessão para que a
princesa Aiko pudesse herdar o trono, mas o
nascimento de um primo, acabou
com qualquer pretensão de mudança.
Enfim, mas não escrevi esse texto (*que está atrasado por excesso de trabalho*) por nada, quero fazer uma ponte com um mangá que aborda questões semelhantes, N.Y. Komachi (N・Y・小町), de Waki Yamato.  Nesta série, que se passa na Era Meiji, a autora de Haikara-san ga Tooru (はいからさんが通る), conta a história de Shino, uma moça rica que, por não ter um irmão, foi educada para herdar tudo o que era de seu pai.  O patriarca frustrado também a educa para ser o filho que não teve.  



Shino tem professores especiais, é excelente aluna na escola, frequenta o dojo.  Só que, um dia, nasce um irmão e o pai quer apagar qualquer vestígio na moça de que, um dia, ela foi o "filho perfeito".  Ele quer que ela saia da escola, ele quer que ela deixe de praticar artes marciais e anuncia que vai lhe arranjar um marido.  Ela se revolta e foge de casa.  Se esconde em um navio e termina na América... Obviamente, ela tem um interesse amoroso, um americano que a ama, também, só que ambos acabam descobrindo que casamentos mistos não são lá muito bem vistos nos EUA, esse país que parece tão moderno... 



Scanlations?  Não, infelizmente.  De qualquer forma, era somente para ilustrar o quanto essa questão de perder a vez par a um irmão, ou primo, vide o caso da princesa japonesa Aiko, é somente mais uma das formas do patriarcado de "colocar as mulheres no seu lugar", isto é, de seres menos importantes, menos desejados e devem ficar nas sombras.

7 pessoas comentaram:

Não há scanlations, más aqui na Itália saiu já alguns anos atrás... É um bom mangá, mas não entre os meus favoritos

Conheço a edição italiana. Foi em sites italianos, muitos anos atrás, que li a primeira vez sobre ele. :)

Na Espanha também, não é?

Na Espanha, não sei, mas o rei teve duas meninas e não há impedimento para que mulheres herdem o trono por lá. nunca houve.

O rei anterior da Espanha teve 2 filhas mais velhas e o filho homem mesmo sendo caçula teve prioridade no trono, mas esse rei atual, mesmo que tivesse mais um filho sendo homem, acredito que não tomaria o lugar das irmãs.

Pois é, não soube, mas também não procurei, informação sobre mudança na legislação de sucessão ao trono espanhol. E, bem, seguindo como está, teremos uma rainha em seu nome na Espanha em alguns anos.

Na Espanha, prevalece a primogenitura masculina. A lei por lá não mudou.

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