Terça ou quarta-feira, terminei finalmente a leitura de Nigeru wa Haji da ga Yaku ni Tatsu (逃げるは恥だが役に立つ), ou Nigehaji, ou ainda The Full-Time Wife Escapist (*na edição norte-americana*), e se for o dorama, pode vir como We Married as a Job. Foi o mangá que tornou Umino Tsunami famosa fora do Japão e fez com que tivesse mais atenção em seu próprio país, tanto que um novo dorama será baseado em um de seus mangás. Enfim, comecei este texto, mas veio a confusão em torno do lançamento da Rosa de Versalhes (ベルサイユのばら) pela JBC e só consegui terminar de escrever a review hoje. Eu comentei o primeiro volume, fiz resenha do dorama baseado na série, mas terminei não resenhando individualmente nenhum dos outros oito volumes. Este texto será uma grande avaliação da série que de 10 estrelinhas, receberia fácil 8,5.
Para quem não conhece Nigehaji, a história começa da seguinte forma: Mikuri Moriyama tem 25 anos e é uma jovem com um currículo acadêmico invejável. Com graduação em psicologia e uma pós-graduação, ela tinha esperanças de conseguir trabalhar em sua área, no entanto, só consegue empregos temporários e que exigem baixa qualificação. Deprimida, ela não vê saída para sua situação e a idéia de mergulhar de novo no “job hunting”, aquela busca frenética por emprego na qual os jovens japoneses são obrigados a se engajar no final da faculdade, lhe dá desespero. Um dia, seu pai, recém-aposentado, lhe oferece uma proposta de emprego: ser diarista na casa de um antigo funcionário, um engenheiro solteiro de 36 anos.
O primeiro beijo foi um grande choque para Mikuri. |
O chefe, Hiramasa Tsuzaki, é distante e formal, mas acaba gostando do trabalho de Mikuri, que leva muito à sério as suas tarefas, e desenvolvendo certa estima por ela, especialmente, quando a moça cuida dele quando ele está doente. Tempos depois, Mikuri fica sabendo que seu pai decidiu se mudar para o interior após a aposentadoria. Ela tem um mês para tentar resolver sua vida ou seguir com o pai e a mãe para uma vila na qual, definitivamente, não terá um emprego decente. Com o que ganha, ela não conseguirá se sustentar em Tokyo e não gostaria de ir morar com sua tia querida, a solteirona Yuri-chan. Quando está comunicando sua situação ao chefe e ele lamenta sua situação, ela propõe que Hiramasa a contrate como empregada doméstica residente. O rapaz diz que esse tipo de coisa não seria bem vista socialmente, afinal, ambos são solteiros, e que os pais dela jamais aceitariam. Mikuri, então, faz uma proposta louca: por que ele não se casa com ela, como se fosse um contrato de trabalho? E, bem, o rapaz termina aceitando.
Este é somente o ponto de partida do mangá que, a despeito de uma arte um tanto limitada, tem um ótimo roteiro e personagens muito cativantes. Como resenhei o dorama, farei comparações entre o seriado para TV e o mangá o tempo inteiro. Enfim, o quadrinho tem dois protagonistas, mas é muito generoso com Yuri-chan, a tia de Mikuri, e Kazami, o colega de trabalho de Hiramasa. Para quem não leu minhas resenhas anteriores, ou não assistiu ao dorama, Yuri é a tia solteirona e modelo de sucesso profissional da protagonista. No mangá, Yuri-chan tem 52 anos (*no dorama, ela tem 48 anos*) e, a despeito de toda a sua independência e aparente ruptura com os papéis tradicionais, chegou virgem à menopausa. Já Kazami é um profissional competente, solteiro, bonito e com certa aversão ao casamento, ou às mulheres em busca de um marido. Ele tem 26 anos no mangá, na série de TV, subiram sua idade para 32.
Kazami contrata os serviços de Mikuri, tenta conquistá-la, mas termina apaixonado pela tia dela. |
No início, ele tem interesse por Mikuri, mas acaba fascinado pela tia dela. Kazami acredita que há algo de estranho na relação de Mikuri com Hiramasa e termina descobrindo alguma coisa e chantageando o colega. Quer "dividir" Mikuri, o que parece muito ofensivo para a moça. Hiramasa, que não é tão jovem, nem bonito como Kazami, ou descolado como ele, se dói de ciúmes, (*não existe a cena fofa do templo que está no dorama, infelizmente*),só que não consegue evitar que Mikuri trabalhe para o colega, também. A moça não entende muito bem a situação, mas diante do travamento de "seu marido" contratual, chega a desejar que Kazami olhe para ela. Yuri-chan, que tinha tido uma péssima primeira impressão do rapaz (*ao estilo Orgulho & Preconceito*), fica de olho na sobrinha e no marido dela, que ela acredita se comportarem de maneira muito estranha, assim como no bonitão que ela acha que não tem caráter algum... E acabou virando romance.
O drama deste casal me pareceu mais interessante em muitos momentos do que o dos protagonistas. Além de Yuri-chan ser uma personagem muito legal, ela e Kazami permitiram à autora discutir uma série de questões, tais como, a pressão social (*ainda que diferenciada*) para que as pessoas se casem, de como a sociedade é muito mais tolerante com a grande diferença de idade entre um casal desde que o homem seja o mais velho, a dificuldade em lidar com o envelhecimento e com os sentimentos etc. Para vocês terem uma idéia da importância de Kazami e Yuri, das 9 capas do mangá 2 são de Mikuri, 2 de Hiramasa, 2 de Kazami, 2 de Yuri-chan e 1 de Numata, que é amigo gay das personagens. A última capa, a que fecha a série, não traz os protagonistas oficiais, mas Yuri-chan. O último capítulo do mangá, uma espécie de bônus, é com Kazami e a tia de Mikuri.
Yuri-chan ouve Kazami dispensando uma namorada e tem uma péssima primeira impressão dele. |
Voltarei a eles daqui a pouco, enfim, quando a gente lê o mangá, percebe que a série equilibra as questões profissionais com as amorosas. Umino Tsunami escreve longuíssimos freetalks, aqueles textos que as autoras de shoujo e josei, mais que de outras demografias, que eu confesso ter preguiça de ler, mas o do final do volume #6, eu parei para olhar com cuidado um deles. Nele, a autora comentava como era difícil agradar gregos e troianos, pois, para algumas leitoras, o tema do mangá era romance, para outras, era o mundo do trabalho. Então, quando Mikuri pede um tempo para Hiramasa e sai da casa dele, indo morar temporariamente com a tia, muita gente ficou decepcionada, outros vibraram. Essa história de sair de casa não está no dorama, ainda que a sequência de acontecimentos seja parecida.
A partir daí, Mikuri se envolve no negócio da amiga, Yassan (*falarei dela mais adiante*), que está administrando o mercadinho da avó, e termina organizando uma espécie de feira de produtos dos lojistas do bairro. Dá trabalho, ela se estressa, exige ser paga, mas tudo dá certo. Ela termina ainda com um pouco mais de currículo e coragem para procurar (*e conseguir*) um emprego formal, o que termina redimensionando sua relação com Hiramasa e com ela mesma, na verdade. Mikuri não aceita ser uma dona de casa comum, nem que os trabalhos domésticos sejam somente sua atribuição, ou um dom a ser apropriado pelo marido e possíveis filhos. Parece com o dorama, mas se afasta dele em alguns pontos bem importantes, como essa mudança de residência. Fora que o dorama termina com o sucesso da feira e o mangá ainda segue por mais algum tempo.
Yassan é amiga de Mikuri desde os tempos do colégio, mas resiste em aceitar seus conselhos e quer que ela trabalhe de graça para ela. |
O volume #6 é meio que um ponto de virada na história também para Hiramasa. Até o volume #5 temos tudo correndo mais ou menos como no dorama. Hiramasa e Mikuri se conhecem, terminam naquele arranjo maluco de casamento de fachada (*é possível firmar um contrato público, como uma união estável, mas não é um casamento completo, legalmente falando*) e vão, cada qual a sua maneira, se apaixonando. O rapaz tem dificuldades para aceitar a situação, isto é, que estava amando, e teme que as coisas não deem certo e que Mikuri vá embora. Assim, é melhor que as coisas fiquem como estão, isto é, que não tenham contato físico, que não cruzem determinada linha, mas é exatamente ele que a beija primeiro. Já a moça, se sente um tanto perdida, sem saber como agir com o solteirão convicto. No quadrinho, Hiramasa sempre se afirma como um solteiro profissional, algo que ele aparentemente se orgulha.
Na verdade, é tudo uma forma de autoproteção, medo de se frustrar. Imaginei que em algum momento viria um flashback de algum desastre amoroso do passado dele, mas nada. Até Kazami teve problemas amorosos... Só que Hiramasa era solteiro e aparentemente virgem em todos os aspectos. Também não temos, como no dorama, a aparição de um ex-namorado inoportuno de Mikuri. Há os flashbacks de um relacionamento da época da faculdade da moça, mas nada além disso. Aliás, Mikuri tem muito menos delírios no mangá do que no dorama, mas os que estão no quadrinho são muito bons.
E ele termina por se entregar e dá tudo certo. |
Como no mangá temos mais sexo – ainda que pouco seja mostrado – sabemos que Hiramasa não é assexuado. Ele tem desejo e resolve “o problema” sozinho. Quando Mikuri é incisiva e diz que quer fazer sexo com ele, Hiramasa recua. A sequência da recusa dele, que está no dorama, é muito mais abrupta no mangá, porque Mikuri é muito mais direta, por assim dizer. Mikuri tem muito menos dificuldade de expressar sentimentos e idéias no mangá. A sua forma direta, ainda que temperada com o que aprendeu na faculdade de psicologia, é o que dá à personagem a capacidade de não se intimidar diante dos obstáculos, de barganhar, sugerir e, sim, ouvir vez por outra que ela é intrometida e se acha melhor do que os outros. Hiramasa diz isso a ela no dorama, mas no mangá, não. Ele aceita as sugestões dela e respeita suas opiniões. Mas o que a faz sair de casa mesmo?
Bem, quando Hiramasa aceita que a ama e decide que quer se casar com ela, o rapaz começa a planejar a vida futura de ambos. Quer casar e ter filhos antes dos 40 anos (*ele está com 36*). Espera não ter que remunerar Mikuri pelos serviços domésticos, já que ela será a esposa. Mikuri se sente invadida e, mesmo amando Hiramasa, diz que precisa se afastar dele por um tempo e refletir. Eles continuam namorando, ela continua fazendo a faxina na casa dele e sendo paga por isso, mas ela vai para a casa da tia que não entende nada. O que a moça percebe é que se ela aceitasse o planejamento do amado, não teria uma profissão e seria transformada em um tipo de esposa que não desejava ser.
Um estranho casal. |
Enfim, nas visitas que ela faz à Hiramasa, ela começa a ensiná-lo a cozinhar e fazer outras coisas necessárias para a manutenção da residência. Ao se casarem, ela deseja ter uma profissão e dividir tarefas. Ela até aceita arcar com mais tarefas, mas exige que ambos expressem respeito e gratidão um para com o outro. Obviamente, já que isso faz parte do humor da história, eles continuam se reunindo vez por outra como se fossem uma empresa. A bobagem de dia para abraçar e tudo mais só cai por terra lá nas últimas páginas da série e, infelizmente, eles nunca deixam de se tratar por “san”. Esta parte é muito frustrante.
Voltando ao volume #6, é nele que Hiramasa muda de emprego. A situação do corte de pessoal no trabalho do rapaz é praticamente a mesma do dorama, salvo pelo fato de Numata não ser o representante que decide quem fica e quem sai em nome dos patrões. Numata descobre, conta para os colegas, e eles se organizam. Kazami arruma outro emprego rápido e no mesmo prédio que Yuri-chan. Numata vai trabalhar em uma nova empresa, muito mais moderna, que trabalha com projetos, internet, eventos, e que dá espaço aos funcionários para criar e decidir. Numata acaba convidando Hiramasa, que seria demitido do antigo empego, para trabalhar com ele. Apesar de todas as travas que tem, o rapaz se mostrou muito disposto a enfrentar mudanças e desafios. O novo trabalho, menos formal, mais criativo, faz bem para ele, e, acredito, ajuda na relação com Mikuri.
Ele se envergonha com tudo. |
No dorama, que é muito bom, as questões de trabalho são um complemento ao tema central que é a relação entre Hiramasa e Mikuri, duas pessoas emocionalmente travadas, cada uma a sua maneira. As questões de gênero – discussão dos papéis masculinos e femininos em uma sociedade bem desigual como a japonesa – aparecem de forma mais explícita no dorama, que é mais curto e rápido, do que no mangá. No quadrinho, por exemplo, há muito menos da família de Mikuri e Hiramasa, bem menos. As discussões sobre o que é esperado de homens e mulheres aparece de forma clara no mangá, só que de uma forma mais diluída. A leitora – o público principal é feminino – irá refletir, se desejar, mas a coisa não será atirada de forma bombástica como no dorama.
Dentre os coadjuvantes, antes de voltar para Yuri e Kazami, Numata é o principal. É o colega de trabalho gay de Hiramasa e Kazami que, apesar de muito observador (*no dorama ele é muito mais intrometido e fofoqueiro, também*), acredita que os dois rapazes têm um caso e Mikuri é uma espécie de farsa social. Numata a despeito desse surto é uma personagem bem interessante – e tem uma capa para ele, como pontuei – e que bate em idade com Yuri-chan. Ele deseja um relacionamento mais sério, mas não está buscando desesperadamente por isso, sua história amorosa é bem diferente da do dorama.
Numata tem certeza de que Hiramasa é gay, ou pelo menos, bissexual. |
Nos volumes finais, termina se envolvendo com um jovem colega de trabalho, Oshimizu-san, que ficava sonhando em encontrar seu par ideal, mas era muito exigente. Curiosamente, ao descrever seu homem dos sonhos – maduro, malhado e com cabelo curto – estava descrevendo Numata, mas sempre se esquivando de um envolvimento. O rapaz vivia se lamentando de ser tão popular com as mulheres e de não conseguir encontrar um parceiro. Há um diálogo muito bom entre os dois no volume #9 em que Numata explica o motivo pelo qual é tão fácil encontrar uma companhia para uma noite, mas não para uma vida, quando se é gay no Japão. A falta de direitos, como casar, deixar herança, adotar uma criança, seriam fatores importantes na opinião da personagem. Vejam que Nigehaji não trata de relacionamentos homoafetivos, mas há espaço para eles na história, também.
As outras personagens coadjuvantes com alguma expressão são mulheres. Yassan, a amiga de Mikuri, aparece no dorama. Ela estudou com a protagonista, era uma garota rebelde, a ponto de acreditarem que ela não iria se formar no colegial, mas que conseguiu um emprego muito desejado no Japão: funcionária pública. Lembro de um mangá de Fumi Yoshinaga no qual o sonho de uma personagem era esse. Só que ao decidir se casar, Yassan abandona o trabalho e decide ser uma esposa padrão. Termina descobrindo que o marido a trai e decide trair, também. Só que, bem, acaba engravidando do amante, no dorama é diferente. O casamento se desfaz, ela fica sem emprego e sem pensão. Termina tendo que morar de favor na casa da avó e trabalhando no mercadinho da velha senhora. No fim das contas, Yassan consegue arrumar sua vida, mas as sugestões de Mikuri, que chega a trabalhar com ela e exige ser paga, terminam por ajudar a jovem a se equilibrar na vida e encontrar forças para cuidar da filha.
Essa sequência é idêntica a do dorama. |
No dorama, Yuri-chan tem dois funcionários – uma moça e um rapaz – que sempre estão com ela. No mangá, as personagens não existem, assim como o confronto de Yuri com os chefes, mas a moça – que estudou no exterior – e o rapaz são inspirados em personagens do mangá. O rapaz não parece muito com Oshimizu-san, mas estava no lugar dele no dorama. Já a moça, parece ser inspirada em Anna Igarashi, a colega de trabalho de Kazami, apaixonada por ele e que termina por precipitar uma decisão de Yuri-chan.
Explicando, no dorama, há uma mulher muito bonita, assertiva, que dá em cima de Kazami e chega a namorá-lo. Há, inclusive, um mal-entendido com Mikuri, que termina pensando que a moça tem um caso com Hiramasa. Enfim, no mangá há duas moças, Sakuraba-senpai e Tsubaki-san, que observam Kazami e Yuri. Sakuraba é uma profissional, anda sempre super arrumada e quer entender o que há entre Kazami e Yuri. Seu maior desejo é se casar e ela fica tentando ensinar Tsubaki a se comportar e seguir seus passos. Kazami nem a nota e a personagem, que tem inveja de Igarashi, não tem maior importância na história. No dorama, partiram Anna Igarashi, uma moça moderna, despojada, que morou no exterior, em duas. Parte dela se junta com Sakuraba, a outra parte é usada para compor a subordinada de Yuri-chan no trabalho.
Essas duas aqui tem função zero no mangá. |
O fato é que Igarashi é uma personagem interessante. Ela é otimista, acredita que vai conseguir conquistar Kazami, apesar dele nem lhe dar a mínima. A moça é elegante, mas despojada, alegre e termina tirando umas casquinhas do rapaz, especialmente, quando ele se declara para Yuri-chan e é rejeitado. Era o aniversário dele. Só que ela não vira a namorada, por assim dizer. Eles ficam e só. Igarashi parece não se incomodar, mas ao descobrir que Kazami ama Yuri-chan decide confrontar a mulher mais velha. A cena não é idêntica ao dorama, mas ela tenta humilhar Yuri enfatizando que ela é uma velha e não deveria desejar alguém como Kazami.
Yuri vira a mesa, mostra para a mocinha que mulheres não deveriam competir entre si por homens e que ela é o futuro da moça. Juventude não dura para sempre, mas uma carreira pode ser um bem precioso, assim como o respeito e a estima das pessoas. E, bem, ela acaba decidindo aceitar o amor de Kazami, mas não o casamento, algo que nenhum dos dois deseja. Curiosamente, achei a sequência toda, começando com Igarashi tentando colocar Yuri em “seu lugar”, especialmente o que vem depois, com Kazami se declarando de novo e dizendo que se recebesse uma negativa não iria mais importuná-la, e a resposta de Yuri-chan absolutamente inspirada em Orgulho & Preconceito. É Igarashi, que conversa com os dois separadamente que detona a esperança em Kazami e a aceitação do romance.
Anna Igarashi dando uma de Lady Catherine De Burgh. |
E o tiro sai pela culatra... |
E ficou muito bonitinho e Yuri no mangá não tem problemas em abraçar, ou beijar o rapaz em público como no dorama. Agora, ela tem um drama a superar, a tal virgindade. E o capítulo bônus é sobre isso. Começando com Yuri indo conversar com a sua ginecologista que coloca um terror nela absurdo. Daí, ela fala com Mikuri e a sobrinha se assusta com a situação, antes de tomar consciência de que precisa usar seu treinamento como psicóloga. Daí, vem a tentativa de manter uma relação sexual completa com Kazami... e não vou dizer mais. Talvez, possa parecer para alguns que esta história de virgem aos cinquenta pode parecer um tanto fetichista, mas acho que a autora trabalhou bem, especialmente, ao mostrar como a médica usou seus conhecimentos de forma tão tacanha, as ansiedades de Yuri e como ela e Kazami se acertaram lindamente. Eu gosto muito dos dois.
Umino Tsunami trabalhou muito bem com duas duplas de protagonistas, por assim dizer, porque é isso que temos em Nigehaji, dois casais muito diferentes, com suas travas emocionais, suas limitações, suas angustias e foi construindo sua história de forma muito competente. O dorama foi uma boa adaptação do mangá, queria algumas cenas da série de TV no original, assim como teria sido muito interessante ver mais partes do mangá no dorama. Agora, o que eu achei estranho é que com tanto acréscimo da família de Hiramasa e Mikuri no dorama, por qual motivo não colocaram uma cena engraçadíssima que é quando a mãe do rapaz pergunta se eles não terão filhos e ele diz que eles desejam, mas tem problemas. Isso foi lá no início da série, quando eles nem estavam começando a se entender.
A ginecologista terrorista. |
No final, tudo termina bem. |
A mãe de Hiramasa cai em prantos e se desculpe com o filho, porque se ele tem problemas, a culpa é dela, afinal, deveria ter gerado um filho perfeito. Enfim, a autora está fazendo humor, mas mostrando, também, como as mães japonesas – e talvez a maioria das mães do mundo – se sentem responsáveis pelos fracassos dos filhos. Culpadas quando alguma coisa dá errado. É isso. São muitas discussões no mangá. Precisávamos de material maduro no nosso mercado, mas acho impossível que Nigehaji saia no Brasil. A história é ótima, o traço nem tanto, verdade, mas a falta de interesse pelos mangás josei e shoujo é imensa. De repente, o dorama aparece na Netflix. Enfim, não fui checar se há scanlations em português, mas é possível adquirir o mangá em inglês no Amazon. Eu recomendo muito.
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