sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Sobre a tragédia da PEC 'Cavalo de Troia' algo que esqueci



A  Proposta de Emenda a Constituição 181/2011 determina que "a vida começa desde a concepção" está sendo chamada de PEC "Cavalo de Tróia".  Sabem o motivo? Lembram do presente que os gregos deram aos troianos?  O grande cavalo de madeira, presente majestoso para uma cidade que apreciava os cavalos, mas que dentro trazia soldados?  Enfim, derrubaram parte dos muros de Tróia para que o presente pudesse ser levado para dentro, os soldados saíram, os gregos, que tinham fingido partir, retornaram, e a cidade inexpugnável caiu.  

Pois bem, a PEC aprovada em comissão por 18 homens contra 1 mulher, era para discutir a extensão da licença maternidade em caso de nascimento de bebê prematuro, agora, é o primeiro passo para proibir qualquer possibilidade de aborto e pesquisa com células tronco (*esqueci disso, também*).  Mas vamos lá:


Algo que esqueci ontem é que, se os deputados da bancada religiosa, esses homens de deus (*sabe-se lá qual seja ele e aposto mais no dinheiro e no orgulho*) conseguirem levar a uma alteração na Constituição, qualquer mulher que sofrer aborto espontâneo, ou perda gestacional, termo mais sensato, cerca de 20% de todas as gravidezes, poderá ter que se explicar na justiça.  Em países que não admitem o aborto em situação nenhuma, isso acontece, como, por exemplo, em algumas nações islâmicas (*não na maioria, porque, na média, tem leis melhores que a nossa atual para questões como essa*) e em alguns dos países mais atrasados do nosso continente, como El Salvador, ou alguns dos estados do México (*a lei não é uniforme para todo o país*).


Agora, você, mulher, é para você que eu escrevo, que não tem empatia por suas semelhantes (*que foram estupradas, ou que carregam bebês inviáveis ou podem morrer durante a gestação*), você engravidou, é casada no papel e na igreja, está feliz com sua criança crescendo em seu ventre e a perde. Hoje, você tem que enfrenar a insensibilidade de quem não repeita ou acredita no seu luto, que lhe diz "Ah, daqui a pouco vem outro!" "Ah, ainda bem que estava só no comecinho, né?", se mudarem a Constituição, você, talvez, tenha que se explicar na delegacia.  Você consegue se imaginar nessa situação?  Bastará a denúncia de alguém, um vizinho fofoqueiro, do médico da emergência, de algum enfermeiro/a preocupado com o bom cumprimento da lei.


É isso que esses homens de deus (*repito, porque ou são pastores, ou são papa hóstias*) querem para nós mulheres: transformar a biologia em nossa prisão.  Sim, eu estou com raiva, por ser mulher, por todas as mulheres, por ser mãe de uma menina e por ter certeza de que nenhuma divindade exigiria tamanha crueldade.

2 pessoas comentaram:

Eu sempre digo que as mulheres deveriam votar somente em mulheres. Se os homens que lá estão não aceitam nem a representação das poucas eleitas, não tem outro jeito senão alcançar igualdade ou até superioridade numérica.
Não quer dizer que todos os problemas estariam automaticamente resolvidos, mas pelo menos, haveria um olhar mais feminino sobre essas questões.

"(...) qualquer mulher que sofrer aborto espontâneo, ou perda gestacional, (...), poderá ter que se explicar na justiça."
Essa foi uma novidade que, por mais que eu esperasse pelo pior, bateu mais forte. Imagino a mulher de luto pela perda gestacional, e ainda ter que se explicar na justiça.
Lembrei desse artigo que eu li faz um tempo, mas que sempre volto para reler: http://www.huffpostbrasil.com/2017/04/12/as-pessoas-fingem-que-se-importam-com-fetos-quando-temos-abort_a_22037239/

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