quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Seven Seas anuncia Claudine...! nos EUA e Algumas considerações sobre as protagonistas de Riyoko Ikeda


A editora norte-americana Seven Seas anunciou que irá lançar Claudine...! (クローディーヌ...!) ano que vem.  Segundo a notícia, o encadernado estará disponível em 26 de junho pelo preço de U$13.99.  Tudo bem, espero que saia mesmo.  Estou até hoje esperando que a Udon publique A Rosa de Versalhes  (ベルサイユのばら) nos EUA.  Editoras diferentes, eu sei, mas há coisas que só acredito quando o volume estiver em minhas mãos.  E se e quando sair Claudine, eu compro.

Claudine...! (クローディーヌ...!) é um mangá one shot de 1978 feito por Riyoko Ikeda, um  extremamente revolucionário.  Trata-se da história de uma garota, a Claudine do título, que afirma ser um garoto, tem seu desejo alimentado pelo pai, enquanto é confrontada pela mãe que contrata um psiquiatra (*o narrador da história*) para "ajudá-la" a se encontrar. Claudine acaba levando sua vida em uma busca constante por aceitação, ela deseja ser vista como um homem e termina passando por várias relações amorosas frustradas até que tudo culmina em tragédia.  Normal, os grandes mangás de Ikeda nos anos 1970 são trágicos.  "Ah, mas Riyoko Ikeda fez o mesmo tipo de personagem várias vezes!".  Não, Claudine não é simplesmente a moça travestida, uma garota-príncipe, ela é um homem trans e sua identidade de gênero caminha junto com sua orientação sexual, ela deseja mulheres.  
Oscar François de Jarjayes.
Riyoko Ikeda criou nos anos 1970 quatro personagens que flertam com os papéis de gênero masculinos de alguma forma, mas elas não são a mesma coisa.  A primeira e a mais lembrada das personagens de Ikeda é Oscar (Rosa de Versalhes, 1972), uma moça nobre que foi educada pelo pai como um homem, assumindo papéis masculinos diante da sociedade.  Oscar gosta desse "lugar de homem" que ocupa, mas sua orientação sexual é absolutamente heterossexual (*dentro dos padrões dos mangás shoujo da época*).  Oscar até lamenta em um dado momento não ser um homem para poder retribuir os sentimentos que uma outra personagem feminina do mangá (Rosalie) alimenta por ela.  Mas é uma cena, boa parte do tempo, Oscar está envolvida romanticamente com algum homem, primeiro, Fersen, seu amor impossível, depois, André, seu companheiro de infância que sempre a amou em segredo.
Saint-Just.
Rei/Saint Just (Onisama E..., 1975) se veste com roupas masculinas estilizadas (*ela é mais um otokoyaku do Teatro Takarazuka*), assume papéis masculinos na escola feminina que frequenta e é lésbica, seu relacionamento com a protagonista da série, Nanako, é um dos eixos centrais da história, ainda que o grande amor de Rei não seja bem a menina... A tragédia, nesse caso, tem a ver com esse segredo doído guardado pela moça e que é um spoiler grande demais para relatar.  No mesmo mangá, temos outra garota-príncipe, Kaoru, melhor amiga de Rei e seu ponto de apoio em suas crises de depressão.  Kaoru - chamada pelas meninas da escola de Príncipe (Kaoru-no-Kimi) - é muito parecida com Oscar, assume papéis que são vistos como masculinos, mas é heterossexual.  E, no final da história, termina se casando.
Julia/Julius.
E, por fim, temos Julia/Julius (Orpheus no Mado, 1975), que é obrigada pela mãe a fingir ser um garoto, o filho que o pai nunca teve.  A mãe da protagonista usa a criança tão desejada para deixar de ser amante e se tornar esposa, o pai de Julia não teria problemas em rejeitar uma menina, afinal, já tinha duas, mas o filho que tanto desejava merecia toda a proteção do mundo.  Agora, se dependesse de Julia, ela usaria vestidos lindos e seria a mocinha mais convencional possível, entregando-se ao amor de Klaus, seu colega de colégio interno.  A protagonista odeia estar na posição que está, enganar a todos, ser fiadora do segredo da mãe, uma mulher de origens humildes, e isso (*e muito mais coisas*) acaba tendo impacto sobre a saúde mental da personagem.  Tragédia!  Tragédia!  Tragédia!

Um dos quadros de Claudine.
E temos Claudine (1978), que não questiona somente papéis de gênero, que não é apenas (*não que seja fácil isso aqui*) lésbica, ela questiona sua identidade de gênero, ela não se vê como mulher, ela não é cis, ela é trans.  Ninguém tinha discutido a questão antes nos mangás, que eu saiba, e Ikeda o faz de forma densa, elegante e sofrida.  E, bem, é um mangá curto, tem scanlations faz muitos anos, acredito que até em português.  E não é josei, é shoujo.  Saiu na Margaret mesmo. A seven Seas também anunciou outro clássico, o mangá de Yamato (宇宙戦艦ヤマト), de Leiji Matsumoto.

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