Todos devem saber sobre a reforma das leis trabalhistas que visa modernizar a CLT, desonerar as empresas (*porque foi o lobby empresarial que forçou a mudança e trabalhadores nem foram chamados a opinar*) e reduzir a lentidão da justiça do trabalho. Poderia acrescentar enfraquecer os sindicatos, criar a falsa ideia de que trabalhadores e patrões estão em pé de igualdade quando negociam e que a nossa (*boa*) tradição escravagista não vai prevalecer no final. E o que isso tem a ver com o Shoujo Café? Bem, pessoal, nesse processo de "flexibilização" o elo mais fraco são os trabalhadores e dentre esses as mulheres e dentre as mulheres as mais pobres, negras, mães solteiras, enfim. Vamos dar alguns exemplos da violência que já existe e que poderá se ampliar. Segue uma imagem que circulou no Facebook:
Dizer o quê? Eu gostaria muito de saber o quanto as professoras da Júlia recebem, porque, bem, quanto mais jovens os alunos, mais feminina é a mão-de-obra envolvida e menores os salários. Eu sou professora e sei que os próprios colegas discriminam-se entre si. Há professores que, se lhes é permitido, demonstram abertamente seu desprezo pelas "tias" da educação infantil ou da primeira fase do ensino fundamental, que se recusam a dar aula para o fundamental 2 (*6º ao 9º anos*). Quando somos confrontados com os professores universitários, há sempre o complexo de inferioridade "Ah, você dá aula no Ensino Fundamental e Médio, né? Mas você é tão inteligente/capaz, o que está fazendo lá?". Normal. Dividir a classe é fundamental, desvalorizar a importância da formação dos pequeninos, que pode ter impacto para uma vida toda sobre como vêem a escola, a educação, o ato de aprender e pesquisar, também. Agora, tomando como medida a criança que tenho em casa, só me gera angustia e revolta, porque, bem, eu imagino o que é ter 15 a 20 Júlias para lidar. É desumano isso aí, mas tudo, praticamente tudo, poderá ser resolvido mediante acordo. E sempre pode piorar, vide a proposta de Uber da Educação de uma prefeitura paulista... Agora, vamos para um outro caso que está rolando em várias páginas e portais:
A foto acima veio do R7, mas a notícia está em vários sites, como o UOL, e basicamente é o seguinte, após acordo, patrão espanca ex-funcionária e pega dinheiro de volta. A funcionária trabalhou 2 anos para o sujeito em seu restaurante e recebeu uma indenização de 3 mil reais. Ele a seguiu no elevador, bateu, ameaçou, caso fosse à polícia, e tomou-lhe o dinheiro. Agora, se não fosse a gravação, como ela poderia provar que foi roubada e agredida? Pergunto-me se este patrão não está comemorando as reformas e seja um dos que lamenta a linda reforma trabalhista. E, para terminar, a cereja do bolo:
Lembra daquele anúncio carregado de sororidade (*SQN*), da designer que queria dividir sua residência com uma estudante (*mediante entrevista*) que em troca de moradia tomaria conta de um rapazinho bem educado de 7 anos e faria os trabalhos domésticos? Enfim, não era trabalho, era um acordo entre "amigas", tampouco a coisa transgredia a lei, segundo a ofertante e muita gente por aí. Obviamente, com o escândalo, o MPT (Ministério Público do Trabalho) em São Paulo não achou que era amizade e a mulher teve que assinar um termo de ajustamento de conduta que estabelece que não poderá contratar trabalhadores domésticos sem seguir as leis trabalhistas. Normal. Só que os comentários da notícia caminham quase todos na linha de que era, sim, um bom negócio para a doméstica, ooops, "amiga", e que o Estado, esse ente malvado, não deveria intervir.
Bons tempos... Eram como da família... |
Pessoal, não é brincadeira, nosso capitalismo brasileiro não amadureceu ao ponto de ser menos regulado, especialmente, no que tange às relações de trabalho. E não pode passar por um relaxamento nas suas leis, porque a mentalidade escravista é muito arraigada entre nós. O empresário, se puder, não raro irá lesar o trabalhador, se possível, submetê-lo à relações análogas á escravidão. O empregado, ou candidato, desesperado, terminará por aceitar condições inaceitáveis e até será levado a acreditar que tem sorte. Afinal, ele ou ela tem um emprego! O governo atual é conivente com esse pensamento, afinal, estamos nas mãos de gerontocratas e seus filhos. Para empresários e contratadores é mais fácil reclamar dos direitos trabalhistas do que brigar com o Estado para que ele mexa nos impostos que sufocam especialmente os pequenos e médios empreendedores. Fora isso, nossa classe média abraça os valores de cima de forma acrítica. Acredita na falácia da meritocracia à brasileira (*sem analisar que ser herdeiro já lhe dá muitas vantagens no processo*), o individualismo que diz que você só depende de si mesmo.
No que tange aos direitos trabalhistas, é fundamental para se sentir alguém que a ordem seja mantida e que, especialmente no âmbito doméstico, o trabalho continue o mais desregulamentado possível. Louva-se as economias capitalistas desenvolvidas, especialmente os EUA (*inclusive mentindo sobre as relações trabalhistas de lá*), mas é um louvar seletivo, porque pagar adequadamente para que alguém limpe sua privada é considerado um abuso em nosso país. Enfim, eu temo pelo nosso futuro. Temo mesmo e muito mais pelas mulheres, o elo mais fraco entre os mais fracos dessa cadeia.
Nossas classes médias defendendo a meritocracia. |
1 pessoas comentaram:
Conhecia você do Twitter, mas não sabia que mantém um blog. Esta é a primeira postagem que leio.
Muito pertinente e verdadeira suas observações a cerca da reforma (deforma) trabalhista em curso pelo governo golpista. A "modernização" que é propagandeada só será para os patrões, pois para os trabalhadores, vai aproximá-los de como de 1888 pra trás.
De resto, saiba que você ganhou um leitor.
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