Graças à Austen, Colin Firth pode se tornar Mr. Darcy. |
Esses últimos dias, vários grandes jornais e portais de notícias publicaram matérias sobre Jane Austen, a romancista em língua inglesa mais lembrada e amada do mundo. Sim, não estou falando em melhor, ou pior, mas de como Austen permanece viva em nosso imaginário por causa de suas personagens, livros, e palavras (*que se tornam citações*). E para marcar os 200 anos da morte de Jane Austen, hoje foi lançada a nota de 10 libras esterlinas que traz a imagem da autora. Retrato, aliás, baseado em um esboço feito por sua irmã, Cassandra. A nota somente estará disponível em 14 de setembro.
Jane Austen vira dinheiro. |
Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775 e morreu cedo, sim, 41 anos (*eu tenho essa idade*), para uma mulher que nunca se casou, vivia uma vida confortável, não era uma idade avançada em 1817. Deixou para a posteridade alguns romances completos (Razão e Sensibilidade (1811), Orgulho e Preconceito (1813), Mansfield Park (1814), Emma (1815), Northanger Abbey (1818), Persuasão (1818) e Lady Susan (1871)), pequenos escritos, alguns da adolescência (Juvenilia), e obras inacabadas (The Watsons (1804), Sanditon (1817)). Seu pai era pastor, com posses restritas e ela era uma de oito irmãos. Solteira, ela conseguiu fazer algum dinheiro com sua pena ainda em vida.
Primeira edição de Razão e Sensibilidade. |
Nos seus romances, a parte da obra de Austen que é mais lembrada, a autora tratou daquilo que sabia, do dia-a-dia, cotidiano, da sua classe social. Gente que era da pequena nobreza, que normalmente tinha terras, morava no interior. Alguns empobrecidos, outros nem tanto, mas Austen não fala de príncipes e duques. Fala das limitações e possibilidades das mulheres de sua classe social, gente que precisava casar, mas que não podia trabalhar, porque era inaceitável. Austen não assinou seu primeiro romance publicado, Razão e Sensibilidade, usou um pseudônimo "A Lady". Em Emma, Jane Fairfax é lamentada por ter que trabalhar devido ao estado empobrecido de sua família. Ser governanta era um emprego decente para uma mulher de classe média, vide as Brönte e suas personagens, mas não para alguém da gentry.
Alan Rickman foi o melhor de todos os Coronel Brandon. |
Os romances de Austen falam das leis injustas que impediam que as filhas herdassem (*Em Downton Abbey essas leis ainda estão valendo. Velam até hoje, aliás.*). Daí, o drama das irmãs de Razão e Sensibilidade, Elinor e Marianne, expulsas da casa do pai pelo irmão mais velho, condenadas a uma existência obscura e, possivelmente, a não se casarem por falta de um bom dote. Há quem não compreenda o desespero da Sr.ª Bennet em ver suas filhas casadas, mas, na lógica prática dessa mãe, antes um mau casamento, do que nenhum. Charlotte Lucas bem sabe disso e agarra logo o desagradável Mr. Collins. E, bem, a própria Austen chegou a rejeitar um casamento, assim como sua heroína mais lembrada, Lizzie, e Fanny Price, de Mansfield Park. E há a celebração do afeto entre irmãs, Lizzie e Jane, Elinor e Marianne, deveriam ter sido inspiradas na própria amizade entre Austen e sua irmã, Cassandra. A gente chama isso de sororidade e mesmo que não possamos chamar Austen de feminista, suas preocupações e críticas são de certa forma presentes nas reflexões que os feminismos fazem até hoje.
Nos livros de Austen, uma carta pode resolver qualquer situação. |
Enfim, através dos escritos de Austen temos detalhes da vida de certos grupos sociais na Inglaterra da virada do século XVIII para o XIX. Suas personagens não são vitorianas e é engraçado ver capas com lindos quadros de meados do século XIX, algo muito comum. Quando pensamos nas personagens de Austen, normalmente pensamos em damas vestindo-se com roupas contemporâneas ao governo de Napoleão, mas não necessariamente precisa ser assim. Orgulho & Preconceito foi escrito ainda no século XVIII... De qualquer forma, isso pesa muito pouco. Austen se impõe por seus belos diálogos, suas personagens interessantes, vibrantes em alguns casos, e ela não é trágica, ainda que seja realista boa parte do tempo. Seu sucesso mundial e perene é objeto de estudo e interesse, daí a produção de livros, matérias, documentários.
Esta versão de Northanger Abbey é uma delícia de se assistir. |
Terminando, digo que é possível gostar de Austen de várias formas, aproveitar sua obra de maneira diferente. Há os livros, claro, e os recomendo. Há os filmes, as minisséries, os quadrinhos, as homenagens. Para um fã da autora, quase (*quase*) tudo é válido. Das adaptações, eu recomendo: Orgulho & Preconceito (1995), Razão e Sensibilidade de 1995 e 2008, as versões de Emma de 1996 e 1997 (*a minissérie de 2009, também, mas detesto o Jonny Lee Miller*), Mansfield Park (1983), Persuasão (1995), Northanger Abbey (2007), Amor & Amizade (2016). As adaptações, homenagens e tals, recomendo Lost in Austen, Austenland, Death Comes to Pemberley, Amor e Inocência e O Clube de Leitura de Jane Austen.
Orgulho e Preconceito é capaz de curar todos os males. |
Alguns, os linkados, tem resenha no blog. Recomendo, também, o nosso Shoujocast especial sobre Orgulho & Preconceito. Nele comentamos as adaptações da obra mais famosa de Jane Austen. A Adriana Zardini, que traduziu algumas obras de Austen no Brasil e mantém o site Jane Austen Brasil. De resto, sou grata à Jane Austen por suas obras e por ter criado obras tão inesquecíveis. Não fosse ela, afinal, não teríamos Lizzie Bennet, uma das heroínas mais queridas da literatura, fora os homens maravilhosos, Mr. Darcy, Mr. Knightley, o Capitão Wentworth, Coronel Brandon etc. E queria ter feito um post melhor, Austen merece, mas estou sem ânimo e ideias...
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