Acabei de assistir A Bela e a Fera (Beauty and the Beast) e quem frequenta o blog talvez já saiba que, junto com A Bela Adormecida, é o meu desenho de princesas favorito da Disney. Tinha me decepcionado com Cinderella, não achei Malévola essas coisas todas, logo, não esperava nada deste A Bela e a Fera, ou melhor, esperava sair frustrada. Só que, felizmente, gostei do resultado do filme. Foi fiel ao espírito da animação de 1991, manteve-se um musical (*YES!!!*), e as alterações não atrapalharam o filme, ainda que duas delas tenham me desagradado de verdade. Poderia ter bebido um pouco mais no musical, há duas canções da versão para a Broadway que poderiam estar no filme, mas é gosto meu, as novas músicas são boas.
A história do filme segue mais ou menos o desenho original, começamos com a apresentação da Fera (Dan Stevens), agora, identificado como um príncipe francês arrogante, vaidoso e que explora o seu povo. Mudaram um pouco o texto do prólogo para arrumar essas novas informações. O jovem se recusa a dar abrigo para uma velha (Hattie Morahan) que interrompe um de seus bailes, além de reagir com repulsa ao toque da mulher que deseja pagar-lhe com uma rosa. Resultado? A velhinha é uma poderosa feiticeira e ele é transformado em uma fera e todos os habitantes do palácio em objetos animados. Se alguém não conseguisse amá-lo, quando a última pétala da rosa mágica caísse, todos ficariam enfeitiçados para sempre.
Daí, somos apresentados à Bela (Emma Watson), a mocinha de hábitos pouco peculiares e que não suporta a vida na vila do interior, ela mora com o pai inventor (Kevin Kline) e é apaixonada por livros. Ela tem um pretendente, Gaston (Luke Evans), um brutamontes que tem uma legião de admiradores – homens e mulheres – e que pretende casar com a moça de qualquer jeito. Um dia, quando o pai vai para o mercado vender suas invenções, uma série de acidentes faz com que ele termine no castelo da Fera. Ao tentar escapar, já que acredita que o lugar é mal-assombrado, ele tenta levar uma rosa para a filha e é capturado. Em troca da liberdade do pai, Bela se torna prisioneira da Fera.
O filme da Bela e a Fera é um musical, isto é, mantém todas as músicas do desenho de 1991 e ainda introduz mais duas ou três faixas, uma delas, um solo da Fera. Não sei se todos os atores cantaram, acredito que Luke Evans foi dublado, mas o resultado foi muito bom. Uma das minhas frustrações com Cinderella foi exatamente a ausência das músicas. Agora, fiquei felicíssima de poder cantarolar todas as velhas conhecidas. O único problema era a legendagem, colocaram a letra das músicas em sua versão nacional. Ouvia-se uma coisa, lia-se outra, por assim dizer.
Fiquei imaginando como seria Be Our Guest. Ficou visualmente deslumbrante. Não sei se convém atribuir alguma coisa aos atores que fazem os objetos animados, porque, bem, foi mais dublagem que qualquer coisa, a computação gráfica é que deu o tom de tudo. Achei interessante terem colocado Plumette (Gugu Mbatha-Raw) – a moça espanador que Lumiére (Ewan McGregor) ama – com uma cabeça de pássaro feita de marfim. Foi criativo. Ah, sim, a mudança legal em Be Our Guest foi retirarem a Torre Eiffel e colocarem o Taj Mahal. Em dado momento, fizeram referência ao Holi, a festa das cores indianas. Mudaram e acertaram.
A fotografia e o figurino estavam lindos. Somente os vestidos de baile da Bela, pareciam deslocados, especialmente, o que aparece na sequência final. Já sabia, que pegariam o vestido original amarelo do desenho, mas imaginei – até porque o resto do figurino está bem ajustado – que lhe colocariam com os pés firmes no século XVIII. Não foi bem assim, parecia uma roupa de debutante. Não há nem vestígio de panniers nas roupas usadas pela Emma Watson, eles parecem até menos rodados que na animação. Além disso, abrem atrás. Aprendi no site Frock Flicks que vestidos do século XVIII abriam na frente e, claro, não tinham zíper.
Quando em suas roupas domésticas, Bela prende a ponta das saias de um lado no cinto. É uma forma de dar-lhe mais liberdade de movimento, está claro isso, fora que ela é uma moça deslocada do seu lugar, questionadora, prática, mas a graça é que não havia roupa de baixo à época, mas os longos calções da protagonista ficam à mostra. O cinema nunca se importou muito com esse tipo de fidelidade mesmo. Bela se livra do vestido de baile amarelo e está só com suas roupas de baixo quando vai salvar a fera. Acho que não precisava, mas antes houve uma boa cena de reencontro entre pai e filha. Kevin Kline estava muito bem como Maurice, ainda que muito mais esbelto que na animação e nos musicais da Broadway.
Quase tudo que está no desenho original, que encantou tanto a academia que foi indicado a melhor filme, foi mantido. Alguns pequenos diálogos, como o hilário pedido de casamento de Gaston para Bela, foram transferidos de lugar, mas está no filme, quase intacto. Nessa versão live action, Bela não deixa que ele entre em sua casa, algo bem mais condizente com uma moça que está sozinha, já que seu pai saiu em viagem. Queria mais interação entre Bela e Gaston, não tanto por achar que a Emma Watson estava muito bem, mas porque Luke Evans é o ator mais interessante do filme. Ele incorporou o Gaston original, com toda a sua canastrice e vaidade, conseguindo subir um pouco o tom da vilania. Gaston no filme é pior que no desenho.
Já a composição da Fera no filme se aproveitou de informações vindas do desenho de Natal feito pela Disney e deu uma trabalhada no passado da personagem. Aliás, tanto Bela, quanto a Fera tem mães citadas, mostradas, ainda que apareçam em memórias de morte e dor. O príncipe era mimado, cruel e fora estragado pelo pai e pelos criados. Eles, por conta disso, sentem-se culpados pela maldição. Forçaram a barra, afinal, que poder tem a criadagem sobre um príncipe? De qualquer forma, uma mudança significativa na Fera foi feita e foi uma das poucas coisas do filme que me desagradaram.
Já a protagonista continua a mesma. Gosto da Emma Watson, a considero uma grande atriz, mas vendo sua Bela não consegui encaixá-la na personagem. Ela está bem, canta e tudo mais, só que ficou parecendo que não era o papel mais adequado para a atriz. Não sei explicar, desculpem, porque eu deveria conseguir colocar em palavras essa minha impressão. De qualquer forma, apesar de todo o blá-blá-blá de Bela e a Fera feminista, a história está intacta. Bela parece um pouco mais orgulhosa no seu trato com Gaston? Talvez. Ela tem uma parte um tanto diferente na batalha final? Sim, tem, mas se você está com receio de encontrar alguma inserção mais panfletária no filme, vá sem medo. A feminista aqui não conseguiu ver nada. E, bem, Bela continua ancorada naquele topos machista do “ela não é uma moça como as outras” (*e a mãe dela, que aparece no filme, também, não era*), ela é diferente e pode ser tratada de forma distinta das outras mulheres por causa disso. Excepcionalidade não é elogio, ela só reforça a regra.
Houve toda uma polêmica em torno de uma cena gay em a Bela e a Fera. Gente, se a cena que eu vi, e que durou, sei lá, cinco segundos, foi a tal cena, tratou-se, como eu já imaginava, de um golpe de publicidade. LeFou (Josh Gad), o sidekick de Gaston, sofreu um upgrade, quer dizer, deixou de ser só um bobão puxa saco, uma personagem cômica sem maior relevância, lhe deram um pouquinho de complexidade. LeFou tem algum escrúpulo e tudo mais. Ele parece – mas lembrem que nos avisaram que ele era gay antes – o tempo inteiro expressar de alguma forma sua admiração e desejo por Gaston, com uma pontinha de inveja das mulheres ao redor de seu amigo, só que são, basicamente, as mesmas cenas do desenho. As mesmas. Então o que mudou?
Para mim, a verdadeira cena gay foi quando Madame de Garderobe (Audra McDonald), a penteadeira-gaveteiro, vestiu três atacantes do palácio com roupas femininas. Um deles bem que curtiu. De resto, o elenco de objetos animados, Plumette, Lumiére, Maestro Cadenza (Stanley Tucci), Cogsworth (Ian McKellen), Mrs. Potts (Emma Thompson ) e Chip (Nathan Mack) estão ótimos. Juntos, eles formaram um ótimo elenco de apoio, aliás, esse elenco de apoio era multirracial, ainda que eu não tenha conseguido visualizar nenhum oriental na multidão. Foi bem cuidadosa a cena depois que todos se tornam humanos e Cadenza, que era um cravo, está sem dentes. Ele tinha atirado suas teclas nos invasores.
Terminando, A Bela e a Fera foi um espetáculo agradável e vou comprar o Bluray quando estiver disponível com muito prazer. Trata-se de um filme que se comprometeu a seguir o original de 1991 trazendo algo de novo para a película. Deu certo na maioria do tempo. Eu daria 4 estrelinhas de cinco. Agora, o que eu não sei é se é um filme adequado para crianças muito pequenas. Júlia quer assistir. A classificação indicativa é de 10 anos.
P.S.: Levei Júlia para ver o filme dublado e 2D e, bem, ela dormiu 15 minutos depois de começar, mais ou menos. Quando a Bela entrou em cena, ela começou a reclamar que "estava diferente" e não houve como ela entender que era uma outra versão, um filme, não o desenho que ela assistiu algumas vezes. Não gostei do uso de "maman" e "papa" pela dubladora da Bela o tempo inteiro, a entonação não ficou boa e soou falso mesmo. Consegui ouvir a fala do prólogo que dizia que a feiticeira fizera com que todo se esquecessem do castelo do Príncipe. Eu tinha perdido. E, desta vez, visualizei perfeitamente a "cena gay" e, bem, se teve cinco segundos foi muito. Quanto ao resto, as músicas ficaram OK. Normalmente, o trabalho de dublagem de filmes da Disney é bem feito em nosso país, salvo, claro, quando escalam algumas "estrelas" de competência duvidosa (*estou pensando em Luciano Huck*) para papéis de protagonistas.
1 pessoas comentaram:
Eu gostei muito do filme, ele superou as minhas expectativas.
Concordo que a participação da feiticeira poderia ter sido apenas no começo do filme, a presença dela me incomodou principalmente na cena da transformação. Me pareceu que não foi o amor da Bela que quebrou a maldição, mas sim a feiticeira que se compadeceu do casal.
Ah sobre a memória das pessoas da vila, no começo do filme diz que a feiticeira fez todos esquecerem daqueles que foram amaldiçoados.
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