Faz tempo que não comento premiações que não seja o Oscar. A última vez foi com O Discurso do Rei, eu acho. E, bem, desde o nascimento da Júlia, eu comento muito pouco mesmo. Só que o prêmio do sindicato dos atores (*SAG é de Screen Actors Guild*), que tem cerca de 120 mil votantes, surpreendeu ao premiar o elenco de Hidden Figures, aqui, no Brasil, Estrelas Além do Tempo, um filme sobre as matemáticas, e outras cientistas invisíveis, fundamentais para os norte americanos na Corrida Espacial. Comentei sobre ele em um dos meus posts da Semana da Consciência Negra do ano passado.
O que o SAG tem de mais especial é premiar o elenco. Sim, comentei isso quando falei de O Discurso do Rei, porque, muitas vezes, o destaque de um filme não é uma interpretação especial, mas o trabalho em equipe. Hidden Figures foi indicado somente à três prêmios Oscar, se houvesse um prêmio para elenco, teria, pelo menos, mais uma indicação, uma que La La Land, filme sobre duas pessoas, jamais receberia. La La Land, que ganhou melhor atriz no SAG, tem 14 indicações e deve levar alguns prêmios (*se o bom senso iluminar os votantes, não serão tantos*). Para um filme sobre mulheres cientistas negras invisíveis todo e qualquer prêmio é importante. E, ao que tudo indica, o filme é bom, muito bom.
Vamos festejar! |
Além de premiar Estrelas Além do Tempo, outros prêmios também surpreenderam. Denzel Washington recebeu melhor ator por Um Limite Entre Nós (Fences), Viola Davis recebeu melhor coadjuvante pelo mesmo filme e coadjuvante masculino foi para Mahershala Ali por Moonlight: Sob a Luz do Luar, um dos filmes queridinhos do ano. Há muita gente temendo que Manchester by The Sea, um dos filmes mais elogiados do ano, dê o prêmio de melhor ator no Oscar para Casey Affleck, ator envolvido em casos de abuso sexual e que contou com a pressão do irmão, Ben Affleck, e de um grande amigo, Matt Damon, para calar a imprensa e promover a película.
Vejam que não estou criticando o filme, não assisti, mas a operação de abafa que foi feita para proteger (*e promover*) o pobre homem branco. Houve quem tivesse pontuado que, em outros anos, algo assim renderia o ostracismo talvez até para o filme. Será que o filme é tão espetacular assim? Enfim...
Elenco de Stranger Things. |
Quando a premiação foi para TV, The Crown, que eu comentei aqui, saiu Melhor Ator e Atriz. Claire Foy, que faz a Princesa/Rainha Elizabeth já tinha levado o Golden Globe, agora, levou mais uma estatueta. John Lithgow, que faz um espetacular Winston Churchill, mereceu seu prêmio, ele estava soberbo. Em melhor elenco de série dramática, era a última chance de Downton Abbey, mas todo mundo sabia que iria para Stranger Things, que virou hit no ano passado. Elenco para série cômica foi para outro queridinho Orange is the New Black. Melhor atriz série cômica foi para a excelente Julia Louis Dreyfus , por Veep. William H. Macy, que eu acho excelente ator, levou por Shameless. Eu nunca vi esse homem fazendo comédia...
O importante da noite foi se caracterizar pela representatividade, fugir do óbvio em várias categorias, e, também, pelos discursos contra as medidas tomadas pelo presidente norte americano Donald Trump. Uma delas, a que retirou direito de entrada nos EUA à cidadãos de 7 países de maioria islâmica, chocou o mundo e está na justiça. Nem quem tinha o Green Card, residentes legais do país, portanto, estavam podendo entrar no país. Imaginem algo assim? Desde quando ultimamente os EUA vem recebendo refugiados do Irã? Tente pensar que você saiu de férias e não poderá voltar para casa, ou que trabalha em uma companhia aérea e não pode desembarcar? Percebem? Não havia exceções, o escândalo é que fez com que surgissem.
Associar o hijab às mulheres muçulmanas não as empodera. |
Os discursos foram contra a injustiça que pode, inclusive, prejudicar o Oscar, afinal, o diretor do filme iraniano Asghar Farhadi, indicado por O Apartamento, só poderia entrar nos EUA com visto diplomático. Ele já avisou que não vai de jeito algum. Ele já tem um Oscar em casa por A separação, de 2012. Todo mundo entendeu que o veto é contra países "inimigos" dos EUA (*Irã*) e islâmicos. Entendeu, também, que velhos aliados - Arábia Saudita e Emirados Árabes, por exemplo - estão isentos. Agora, contem quantos líbios e iranianos estavam entre os terroristas do 11 de Setembro. Quantos sauditas? Agora, o cartaz de protesto com uma mulher de hijab é um desserviço, afinal, só reforça a idéia (*que só agrada aos conservadores*) de que toda muçulmana usa véu, precisa usar. Não é bem assim, pergunte para a maioria das iranianas o que elas acham. Mas sigamos em frente.
Enfim, Meryl Streep, que deveria ser proibida de competir, porque, bem, quem acredita que seja justo ela perder para Emma Stone (*eu gosto dela, viu?*), fez no Golden Globe um discurso avassalador (*com legendas em português, aqui*) contra o novo mandatário dos Estados Unidos. Não sei se, dessa vez, Trump usará o Twitter de novo para responder aos artistas. Não seria surpresa... Até fui cobrada por não falar de Trump, da Marcha das Mulheres, mas, pessoal, eu estou terminando minhas férias e falar desse homem me dá náuseas. Eventualmente, terei que fazer um post, mas, agora, não quero. Quando for inevitável, teremos post, até que seja, não.
Meninas precisam de filmes assim. |
É isso! Estrelas Além do Tempo estréia nos cinemas do Brasil na sexta, salvo por uma tragédia, irei assistir. Um filme como esse precisa fazer dinheiro, porque é uma forma de possibilitar que outros filmes sobre mulheres apareçam. Filmes, por exemplo, sobre mulheres cientistas, artistas, estadistas, líderes religiosas, atletas, militantes das diversas causas, super heroínas, enfim, sobre mulheres de todas as cores. Precisamos disso e as meninas que estão crescendo mais ainda.
1 pessoas comentaram:
Shameless é a única série americana a que assisto. Não recomendo para todo mundo porque o humor negro deles é muito pesado e às vezes dão umas escorregadas nas piadas, mas é uma série que consegue discutir questões delicadas com bastante propriedade.
A sexta temporada inteira falou sobre aborto e foi o retrato mais realista (dentro do que a série se propõe a mostrar, claro) e delicado sobre o tema que eu já vi na tv. A protagonista e a irmã dela engravidam ao mesmo tempo, porém nenhuma delas tem condições de criar as crianças (a série é sobre uma família de "white trashes"). Uma delas decide manter a criança, a outra decide abortar. Há vários diálogos muito ricos, sobre o direito de escolha (tanto em manter, como em abortar), as implicações de uma gravidez precoce (uma delas ainda está na escola), o abandono por parte do pai da criança (que dizia amar a garota, mas foge para outro estado quando descobre), a pressão da família (alguns querem que uma aborte, outros querem que a outra mantenha), a hipocrisia de muita gente que quer obrigar mulheres a terem filhos. E tudo funcionando muito bem. Eu quase desisti de assistir depois de uma quinta temporada bem morna e sem graça, mas a sexta temporada foi uma das melhores.
E o William H. Macy é a alma da série, ainda que a meu ver a protagonista seja a Emmy Rossum (que ganhava menos do que ele, o que é um absurdo). Fiquei até surpreso quando você falou que não o viu fazendo comédia, porque só o conheço por Shameless e não consigo imaginá-lo fazendo nada sério. Ele faz um sociopata hilário.
Ps: ja viu essa entrevista com a Natalie Portman? Achei bem interessante:
http://brasil.elpais.com/brasil/2017/01/29/estilo/1485649556_234495.html
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