sábado, 31 de dezembro de 2016

Comentando Minha Mãe é uma Peça 2


Anteontem, estava me sentindo bem pra baixo (*o assalto do meu pai, umas bobagens que li sobre mim no Facebook*) e fui assistir Minha Mãe é uma Peça 2.  Tinha assistido ao primeiro filme (*resenha aqui*) e rido muito.  Tratava-se de uma comédia ligeira, trash e cheia daquelas coisas que a gente condena, mas que, bem, às vezes me fazem rir.  A continuação não é muito diferente, só parece ter um roteiro um pouco mais amarradinho, mas o primeiro continua sendo meu favorito.

Neste novo filme, protagonista, Dona Hemínia (Paulo Gustavo) continua às voltas com seus filhos, Juliano (Rodrigo Pandolfo) e Marcelina (Mariana Xavier), que continuam na casa da mãe neurótica, mas parecem prontos para voar.  Hermínia tem um programa de TV que discute problemas familiares, mas sente-se frustrada, porque, bem, sua própria família é uma bagunça.  Diante de tantos problemas, a saúde de Herminia parece fraquejar e ainda há o ex-marido (Herson Capri) que parece disposto a reconquistá-la... Fora isso o filme temos a doença da tia Zélia (Suely Franco) e as visitas do netinho que mora em Brasília, Pedrinho, e da irmã, Lúcia Helena (Patrícya Travassos).


Será uma resenha curta, até por que não há muito o que destrinchar, que não tenha sido dito na minha resenha do primeiro filme.  Hermínia, mesmo sendo profissionalmente bem sucedida neste segundo filme, continua dependente da relação doentia com os filhos.  Há menos gordofobia?  Sim, mas Marcelina aparece muito menos, eu diria.  Mesmo  assim, amoça cresceu bastante, especialmente, depois de sair da casa da mãe e parece resolver parte de seus problemas de auto-estima.  A angústia maior de Hermínia parece ser a descoberta de que seu filho não é gay, mas bi.  

Há várias piadas com a dificuldade de Dona Hermínia – e que deve ser de muita gente – em compreender que a bissexualidade existe.  Para ela, o filho está fazendo isso para enlouquece-la.  Só que Dona Hermínia não leva desaforo para casa e termina impedindo que o moço se relacione com garotas.  O filho de Hermínia parece bem diferente neste filme.  Mais maduro? Não necessariamente, mas o ator me pareceu mais bonito.  Já Herson Capri me pareceu menos galã e bem envelhecido.  De qualquer forma, a interação entre Paulo Gustavo, Rodrigo Pandolfo e Herson Capri é muito boa.


Outra questão do filme é o abandono do ninho.  Dona Hermínia já tem um filho fora de casa, Garib (Bruno Bebianno), mas teme que os outros dois a abandonem.  Ambos terminam indo trabalhar em São Paulo com o apoio do pai.  Dona Herminia quase enlouquece e passa a se medicar ainda mais.  As cenas são boas e a síndrome do ninho vazio é mostrada com humor.  Quantas mulheres caem em depressão quando percebem que os filhos cresceram e precisam partir? Se a maternidade é sua razão de existir (*e toda propaganda patriarcal vai nesse linha*) o que fazer quando não se pode mais maternar em tempo integral?  Herminia precisa aprender e sofre, como tantas mulheres.

Algo legal de se ver foi a interação entre as irmãs, Hermínia, Iesa (Alexandra Richter) e Lúcia Helena, a que vive em Nova York.  Elas se amam, elas se odeiam, elas se amam ainda mais.  As duas atrizes e Paulo Gustavo conseguiram uma interação muito boa.  E, ainda falando de família, há um tratamento muito terno e digno, mesmo que pontuado com humor, dos problemas da velhice.  Tia Zélia é um amor e a atriz, Suely Franco, conseguiu passa a melancolia e leveza necessária ao papel da idosa que está esquecendo das coisas e, talvez, se encaminhando para o fim da vida.  Só por este parágrafo, vocês já sabem que se cumpre a Bechdel Rule.


Que mais dizer?  Acho que a empregada doméstica no primeiro filme estava melhor que neste.  Adorei a piada repetida com o elevador de serviço e o síndico.  A parte do check-up de Hermínia também foi delicioso.  Raio X com bobes na cabeça... E as visitas a São Paulo?  As comparações com Niterói?  Impagável.  O papo da hereditariedade da homossexualidade foi alucinado, mas divertido.  Será que no terceiro filme (*sim, ele acontecerá*) Lúcia Helena vai admitir que é lésbica confirmando a teoria de Hermínia de que orientação sexual é algo geneticamente determinado?

De resto, nunca vi um filme com tantas sessões.  Parece que a Globo Filmes quer bater o recorde de Os Dez Mandamentos.  No cinema onde assisti, havia sessão de meia em meia hora.  Acredito que eram três ou quatro salas exibindo.  Um exagero. Agora, o fato é que o filme parece que já bateu um recorde e teve mais de 2 milhões de expectadores na primeira semana.  Enfim, vale o ingresso?  Sim e não.  Acho complicado ver o filme sem ter assistido ao primeiro.  É fácil entender Hermínia, mas seria interessante conhecer o passado de seus filhos e marido.  Recomendo, também, assistir acompanhado, acho que a gente ri com mais gosto com alguém do lado.   Fora isso, o primeiro filme me pareceu mais engraçado.  Talvez, eu reveja para confirmar.

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