quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Tokyo Comic-Con volta atrás: homens podem fazer crossplaying


A Tokyo Comic-Con, como eu comentei ontem que provavelmente ocorreria, voltou atrás na proibição dos homens - e somente eles - usando crossplayer, isto, vestidos como personagens femininas.  Estou usando o Kotaku como fonte, e o que se desenha na nova regra é aquilo que ponderei ontem, também: o uso do banheiro.  Na nota de correção do absurdo diz que depois de uma reunião do comitê, o banimento dos crossplayers masculinos foi levantado.  Também deixaram claro que as pessoas receberam uma identificação especificando o gênero e com uma cor característica (*Azul e rosa????*) que será checada ao entrar nas áreas de troca e banheiros.  Os cosplayers (*acho que todos eles*) ficam obrigados a usar a tal badge em todas as situações. (*nota em japonês aqui*)

Vejam bem, este é o primeiro evento.  Então, gente, não adianta levantar hipótese de assédios (*porque estou lendo isso em todo lugar*) anteriores.  Salvo se ocorreram nos EUA, já que a Tokyo Comic-Com é organizada pelo pessoal do San Diego Comic-Con.  Como no caso de Osaka, o único que conheço, o problema era o banheiro e, pelo menos no caso japonês, o incômodo era dos homens em encontrarem uma “mulher” no sanitário (*ANN original: "According to the committee, a male cosplayer dressed as a female a few years ago and entered the men's restroom. He was mistaken as a female, and that led to a scuffle.").  Não li nada sobre homens crossplayers assediando mulheres.  Acontece?  Talvez, mas acredito mais em assédio masculino independente de se estar fantasiado, ou não.


Talvez esta notícia me pareça tão absurda, porque ela é um eco de discussões atuais, que unem, tanto os extremistas religiosos e a extrema direita, quanto alguns setores feministas.  Pessoas trans querem o direito – sim, usar banheiro é direito – de usar o sanitário segundo o gênero com o qual se identificam.  Até hoje, nunca vi ninguém falando dos homens trans, afinal, eles são inofensivos.  Motivo?  Eles não têm pênis, a tal terrível arma, que tanto os machistas, quanto algumas feministas radicais identificam como problema. Acham que não?  É muito comum mães levarem mesmo seus meninos crescidos para o banheiro feminino. O medo é grande... Assim, a questão é sempre as mulheres trans.

Se ainda estão transicionando, ou se tem um determinado tipo físico, elas são prontamente identificadas como homens.  Tratadas como seres abjetos (*afinal, abriram mão do que há de melhor no mundo, a masculinidade*) e ameaçadores (*Oh, nossas filhas!  Mulheres!  Oh, estupradores em potencial!*).  Gente, a maioria dos crossplayers não é trans e pessoas trans quando vão ao banheiro querem simplesmente ir ao banheiro.  Normalmente, as exceções são homens cis (*cujo corpo biológico se identifica com sua identidade de gênero*) que se utilizam de todas as oportunidades para assediar mulheres.  O banheiro seria somente uma delas.  Enfim, será que vale o banimento somente para os homens de fazer  crossplaying por causa disso?


De resto, sempre fico surpresa quando começam essas discussões sobre banheiro.  A geografia dos banheiros femininos, com seus boxes isolados, não facilita a exposição do corpo das pessoas.  Não é como os mictórios dos banheiros para homens.  Ninguém é obrigado (*aliás, nem no ba nheiro masculino*) a expôr seu corpo ao lado do outro.  Cada uma fica no seu lugar e, no máximo, interagem no espelho.  Eu, que ainda que só use o sanitário como sanitário, entendo o incômodo de algumas mulheres, entendo a questão da noção de privacidade, mas acredito que é algo a se superar e repensar.  De resto, os crossplayers costumam ir aos banheiros segundo seu sexo biológico mesmo... 

De bom nessa história toda, enfim, é que o Tokyo Comic-Com recuou.  Que reconheceram o ridículo da situação e ainda expuseram – indiretamente – os motivos por trás do banimento.  De resto, deveriam deixar as pessoas se divertir e fiscalizar e punir os que praticam excessos.  Uma minoria, muito provavelmente.

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