Mal comecei a assistir ao filme The Girl King, que revisita uma das personagens mais interessantes do século XVII, a Rainha Christina da Suécia (1626-1689), mas preciso escrever sobreele. Para quem nunca ouviu falar de Christina, ela foi rainha da Suécia por seu próprio direito e seu pai, Gustavo Adolfo, herói dos protestantes na Guerra dos 30 Anos, deixou determinado que ela deveria ser educada como um príncipe, assim, no masculino. Daí, Christina usava roupas masculinas, teve formação guerreira, teológica e filosófica invejável para a época. Ao assumir o trono, ela discordou de seus conselheiros ao tentar buscar a paz com velhos inimigos, além disso, decidiu modernizar o país, trazendo filósofos, pintores e músicos para sua corte. Chamando para si - afinal, ela era uma monarca absoluta - ela se dá ao direito de pensar livremente, inclusive dialogando com o pensamento católico quando, a regra, era a intolerância.
Christina, no entanto, é muito lembrada - e discutida - por sua orientação sexual. Seria ela lésbica? Bissexual? A principal interpretação de Christina até hoje é a de Greta Garbo, em 1933. E, claro, vai continuar sendo. Ainda que eu considere que a Christina de Garbo seja muito mais uma estátua de gelo, um ícone, do que propriamente humana. Daí, o que mais me chama a atenção em The Girl King é a interpretação que a atriz Malin Buska dá para a rainha. Ela consegue passar a força, o autocontrole, a superioridade de quem foi educada para comandar e, ao mesmo tempo, paixão, leveza, uma alegria quase infantil ao descobrir e provar coisas novas. É uma interpretação cativante, por assim dizer e, bem, ela me lembra a Oscar do mangá. Para quem não sabe, a inspiração principal de Riyoko Ikeda para compor a protagonista da Rosa de Versalhes foi a Rainha da Suécia.
Quanto à questão da sexualidade, o filme é bem explícito e se posiciona em relação às preferências de Christina. Ela se relaciona com homens e mulheres, mas o amor de sua vida é sua dama de companhia, a condessa Ebba Sparre, de quem tem que se separar. Uma das críticas ao filme de 1933 era a ambiguidade - que não diminui a película aos meus olhos - e o fato de, apesar da Christina de Garbo flertar com Sparre, ela se revelar essencialmente heterossexual. Essa nova encarnação de Christina não deixa dúvidas (*os historiadores e as historiadoras continuam tendo*) sobre a vida sexual da rainha e o quanto isso era e não era problema.
O fato é que Christina surpreendeu o mundo ao renunciar ao seu trono depois de 22 anos de reinado e se converter ao catolicismo. Foi um duro golpe para os protestantes, ainda que a Christina católica tenha continuado basicamente a mesma personagem surpreendente que era antes. No filme de Garbo, algo que é fundamental na conversão de Christina é o fato dela se apaixonar pelo embaixador espanhol (*um bispo, ou cardeal, se bem me lembro*), neste novo filme, vamos ver o que é o detonador da coisa, mas certamente não será nenhum impulso heterossexual amoroso.
O novo filme é uma coprodução de 2015 unindo Finlândia, Suécia, Canadá, Alemanha e França. Apesar das críticas não serem lá tão efusivas, o que vi até agora me deixou muito empolgada e só não terminei de ver ainda, porque não achei as legendas para o primeiro arquivo que baixei (*há gente que fala em alemão e em francês em alguns momentos do filme*), mas há várias legendas em inglês e português (br) disponíveis para outros formatos. Baixei de novo o filme, vamos ver se eu consigo vê-lo ainda hoje. De resto, não achei o trailer com legendas em português. Aí embaixo está em espanhol. O nome no Brasil, segundo o Adoro Cinema, é A Jovem Rainha. Absolutamente inócuo, se faltava imaginação, deveriam colocar Rainha Christina e pronto.
0 pessoas comentaram:
Postar um comentário