domingo, 14 de agosto de 2016

Um dia memorável para a Ginástica Artística brasileira.


Queria deixar esta foto aqui.   Diego Hypolito foi favorito em Pequim 2008 e era um dos melhores em Londres 2012.  Nas duas vezes, seu psicológico falhou. Eu escrevi sobre isso, essa fragilidade emocional dos atletas brasileiros me angustia (*alguém viu o vôlei masculino deslizando nessa última partida?  Enfim...*), Diego Hypolito conseguiu superar tudo isso.  Teve apoio, eu vi ele falando sobre o assunto, buscou ajuda, e superou as desconfianças.  Estou muito, muito, muito feliz por ele.  Ele está falando agora na Bandeirantes e eu estou com lágrimas nos olhos... Ele está falando do esforço do pai e da mãe para que ele pudesse chegar onde está.

O Arthur Nory, bem, bem, eu não torci contra ele, mas não torci por ele.  Houve um incidente de racismo ano passado envolvendo outro ginasta da delegação e o caso não foi devidamente punido.  Há quem esteja dizendo que ele nem deveria estar na Olimpíada por causa disso e renegando a medalha.  Olha, ele deveria ter sido punido, mas excluí-lo da todas as competições daí por diante?   Reitero, no entanto, que a forma leviana como a coisa foi tratada pela Confederação, pode passar a mensagem ruim de que ele pode tudo, de que tudo pode ser relevado, algo que marca essa geração que está fazendo hoje essa passagem da adolescência para a vida adulta, agora reforçado por uma medalha olímpica.   Minha opinião?  Ele deveria ter sido punido de forma dura, para se emendar, repensar seus atos, ou, pelo menos, guardar seu racismo para si, mas não eliminado do esporte. 


Agora, medalha mostra o potencial do rapaz.  Ele agiu de forma corajosa, ele mudou toda a sua apresentação e chegou lá.  Parabéns para ele.  Fora isso, a medalha dele - e a do Diego, obviamente - faz diferença para a ginástica artística do Brasil. Parabéns para os meninos, só fico triste deles terem chagado antes das garotas. Só espero que ajude a atrair patrocínios e diluir preconceitos.  E quando falo em preconceitos, faço questão de deixar a declaração do quarto colocado, Caio Bonfim, na marcha atlética de 20 km: "Foram nove anos treinando e sendo xingado, falavam que eu rebolava, chamavam de veado, mandavam trabalhar. Mas está aí, tem um brasileiro quarto do mundo na marcha atlética".  Aliás, com Diego, nós temos a segunda medalha LGBT para o Brasil, pois a Rafaela Silva é lésbica.  Isso deve ser guardado, também.

Pessoal, os obstáculos que os atletas enfrentam são dos mais diferentes tipos, alguns são óbvios, falta de patrocínio, de lugar para treinar, outros são sórdidos, racismo, machismo, homofobia.  Falando nisso, vibrei com a medalha de ouro da Simone Manuel, uma americana, a primeira negra a ganhar medalha olímpica na natação.  Algum negro ganhou ouro alguma vez?  Não sei.  O fato é que já ouvi várias vezes que é "natural" que negros e negras não se saiam bem na natação e tome falar de estrutura óssea e músculos.  Esquecem que as piscinas olímpicas, às vezes, qualquer piscina, rio, ou mar, não são coisas que se encontrem em qualquer lugar, ou em áreas pobres, seja dos EUA, seja do Brasil, ou da África.  


Correr, você corre em qualquer lugar; bater bola é possível, também.  Agora, piscina, quadra de tênis, área e estrutura para praticar hipismo, pólo, hockey... De qualquer forma, as americanas - só vi mulher feminista escrevendo sobre isso, mas não sai catando por aí - estão lembrando que havia a segregação, que piscinas foram esvaziadas, porque negros ousaram colocar a ponta do pé nelas, caso da atriz Dorothy Dandridge em 1953, ou nadar nelas, como Sammy Davis Jr fez em 1964.  Elas fazem questão de lembrar, também, que em algumas regiões dos EUA mesmo depois que a segregação nas escolas acabou, ela permaneceu nas piscinas.  Desculpem, não é somente a natureza o obstáculo, aliás, desconfio que a natureza seja o menor problema.  

E vou terminar e ficar torcendo para a indiana Dipa Karmakar no salto sobre a mesa ganhar uma medalha.  Será que sai o bronze?  Eu acho que pode rolar... Ela ficou em quarto, mas para um país sem tradição no esporte é uma vitória e tanto.  Esperem que tratem melhor na Índia os atletas que não levam medalhas, mas conseguem resultados extraordinários.

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